terça-feira, 29 de julho de 2008

Novas obras




Seguindo o apelo da minha colega Olinda, aí estão as duas capas dos últimos livinhos editados por este vosso humilde servo.
Pois é, os textinhos (umas rimas com falta de poesia) são meus e as ilustrações (de excelente qualidade, como seria de esperar) do Gonçalo Condeixa, esse mesmo. Foram ambos (os livros) lançados pela Câmara Municipal de Odemira (que desenvolveu um excelente trabalho, reconheça-se) e integradas na feira que teve lugar na minha terra adoptiva e que dá pelo nome (a feira) de FACECO (Feira das Actividades Culturais e Económicas do Concelho de Odemira). Os interessados podem solicitar os ditos cujos à Câmara ou a mim mesmo (se for em quantidade reduzida de exemplares).


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um hino à ignorância

Não sou lá muito dado a perder tempo na televisão em canal aberto. Acho um desperdício ocupar uma boa parte da vida que me resta embasbacado a ver aquela supostamenta divertida - mas modorrenta - obtusidade. Mas hoje acabei por ver um concurso da RTP1, o “Não sei mais do que um miúdo de 10 anos”.
Havia um fulano com pronúncia nortenha e postura a dar para o pintas moderno que respondia a questões que aprendemos na escola primária mas que já vivemos o suficiente para esquecer (o que, mais uma vez, dá razão à opinião geral de que aquilo que aprendemos na escola não serve para nada, como se verá adiante). Só sei que esse concorrente se chamava João. Não o vi de início, mas vi o suficiente para o ouvir hesitar na questão “o que leva o sangue carregado de dióxido carbono ao coração?”. Ora a resposta que pareceu óbvia ao João foi “aurículas”, mas o apresentador deu-lhe a entender que… enfim… e ele respondeu então, agora peremptoriamente, “artérias!”. Num esquema que permite os alunos crianças salvar os adultos, lá continuou em jogo… A parte que mais gostei foi quando teve de contar as arestas de um cubo.Ora quantas arestas tem um cubo? Pensou alto e distinguiu as arestas dos vértices, dizendo, e muito bem, que as arestas unem os vértices. Depois contou-as mentalmente, o que deu o complicado número de 22! Não percebi como, mas enfim... Mais uma vez foi salvo porque “copiou” (o que se pode fazer nesta escola da RTP, não é crime nenhum, faz até parte das regras do jogo). Finalmente, acabaria por perder na pergunta “quais os dois planetas do sistema solar que não têm satélites?”. Não me admira que o João não soubesse a resposta, a pergunta não é simples. Mas mesmo assim espantou-me o facto do senhor ao enumerar os planetas do sistema solar se “esquecer” sempre de Mercúrio e Vénus, começando logo pela terra (razão da vaga de calor, certamente). Tudo isto, que aqui narro, aconteceu num espaço de 5 questões (mais uma vez recordo que não vi de início). Enfim, um concorrente que voluntariamente foi à RTP fazer jus de toda a sua ignorância estupidez. Sempre divertido. Estupidez premiada, diga-se, pois ainda assim arrecadou 1500 euros (mais do que eu, professor com 17 anos de serviço, recebo por mês). Vale a pena pavonear despreocupadamente a ignorância e fazer alarido dela. Sempre se tem direito a uns minutos de fama televisiva, o que dará boas conversas lá na terra, e o resto é apenas questão de sorte, pode ser que caiam uns trocados para ajudar o gasoil ou aliviar alguma prestação mais premente.
Recordei-me dos concursos da minha infância, desde logo a “vaca Cornélia”. Aí premiava-se o talento e o conhecimento. Meu Deus, o que aconteceu a este país (e a este mundo)? Divertimo-nos a ver o que os outros não sabem, eles divertem-se a dizer asneiras, a arrecadar uns eurozinhos e tudo sempre com muitas palmas, palmas quando o concorrente entra, palmas quando acerta, palmas quando erra, palmas quando hesita, palmas quando escolhe as ajudas, palmas quando se vai embora, palmas e mais palmas, porreiro,pá!, tudo para nos entusiasmar, ai que estamos a ver um concurso tão interessante, realmente o que nos lembramos da escola, não é?, e aquele tipo está cá com um azar, perguntarem aquelas coisas do sangue e dos cubos (será dos cubos de gelo?) e de planetas e dos satélites, que coisas complicadas, felizmente eu não tive que saber isso que a minha professora não nos chateava com essas coisas, era só saber escrever o nome e pouco mais.
Mas afinal os concursos da TV apenas reproduzem em microcosmos o estado da nossa educação. De nada vale já o saber. Aliás, agora o ensino é por “competências”, pressupondo-se que não é preciso o conhecimento para desenvolver essas competências, como ficou demonstrado há uma semana atrás quando o primeiro-ministro, que não sabia quanto pagavam de imposto os veículos a electricidade, teve competência para negociar com uma grande empresa internacional – a Renault Nissan –, um benefício fiscal altamente favorável. Palavras para quê? È um produto da nova escola portuguesa!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

No Portugal moderno a lei é para cumprir.

O meu amigo Sérgio Patinha tem toda a razão na sua constatação: uma das grandes diferenças do Portugal de hoje para o país pré-socrático é esta mania de se cumprirem as leis. Ninguém ligava muito às leis antes de Sócrates, acho que era algo decorrente do pós 25 de Abril, quando o poder deixou de residir na lei para residir no povo (outros dirão que na rua).
Escolho um exemplo: o tabaco e as escolas. Há muito que o tabaco era proibido nas escolas. Mas fumava-se. Em algumas escolas fumava-se livremente na sala de professores, noutras havia duas salas para distinguir os fumadores e os não fumadores, noutras ainda só se podia fumar nos espaços abertos e discretos. Foi o tempo da verdadeira autonomia (que agora se defende em termos teóricos mas se combate através da produção legislativa e regulamentar). Saiu uma nova lei anti-tabaco e lá se acabou definitivamente o tabaco nas escolas (acho engraçado ver professores e alunos ao portão das ditas a esfumaçar os intervalos). E muitos outros exemplos –e, porventura, mais ricos -, se poderiam dar. Talvez entre esses se contassem as novas manias anti sépticas que a ASAE fiscaliza com esmerado zelo. Muitas delas são antigas emanações do legislador preocupado.
A verdade é que os governos de Sócrates conseguiram impor esta nova forma de ser português, que temos a mania de identificar como sendo tipicamente europeia. Conseguiram impô-la, dirão alguns, através do medo. Outros dirão que contribuíram dessa forma para a descaracterização cultural. Outros que modernizaram o país e o europeizaram.
Eu, por mim, sempre achei que o bom-senso é superior à lei. Sobretudo quando a lei não usa do bom-senso.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Lamentação

Aqui volto eu para me lamentar, que é algo que tanto gostam de fazer alguns blogosesféricos (que termo lindo). Para desabafar com alguém , neste caso com quem me quiser ler, já que em casa a minha companheira anda com a neura da professorite (e é sobre ela que me quero lamentar) e no café que fica debaixo daquele que foi um dia o telhado do gato Esteves não aparecem os meus amigos (o Évora deve andar cheio de trabalho na escola ou apertado de dinheirinho que já por cá não passa há muito).
Tem tudo a ver com esta mania nova de se cumprirem as leis. Que antigamente havia as leis mas ninguém as cumpria. Ninguém lhes ligava. Mas agora tudo pia mais fininho. Qualquer coisinha que fique escrita, seja sequer pensada ou aventada por um ministro, e lá andam todos cheios de medo a cumpri-las. Ora o que se passa, e tem tudo a ver com isto e com a neura da minha companheira, é que ela, que como se lembrarão é professora, anda agora em fase de vigilâncias a exames. E, ao que parece, as normas de vigilância aos exames obrigam os professores a permanecerem na sala os 90 minutos da prova (em alguns casos mais trinta de tolerância, se o exame for de algumas disciplinas artísticas pode ir até ás três horas). O problema não é esse. É que estão lá dois professores que não podem conversar entre si (o que acredito possa irritar a minha companheira que é- ou, pelo menos, foi noutros tempos – rapariga comunicativa) e que devem deslocar-se continuamente na sala sem perturbar os alunos. O certo é que não devem estar sentados, pois ainda se distrairiam e não cumpririam devidamente o seu trabalho! Hora e meia de pé sem nada poder fazer, apenas vigiar os alunos. Não falar para o lado, não se sentar, apenas andar discretamente de um lado para o outro sem perturbar os estudantes que concentrados vão fazendo o seu teste mas – olho vivo!- que alguns podem estar a cabular e têm de ser apanhados, fazer um auto complicado, quiçá comunicar ao procurador-geral, arranjar uma chatice das grandes, daquelas com complicações legais, identificações, relatórios e etc.
Ora a minha companheira dá em respeitar as normas superiormente estabelecidas e cumpre integralmente o seu dever. Anda caladinha durante a prova de exame de um lado para o outro e sentar-se, isso nunca! Contribui assim para a justiça dos exames. Mas a desgraçada que roça a bela idade dos quarenta, anda agora cheia de dores nas costas que lhe limitam a actividade doméstica e não só, diminuindo por osmose a minha qualidade de vida. E eu, que vou apelando para o não cumprimento das leis (lembrar-se-ão que até tento fugir aos impostos) lá me vejo tramado mais uma vez por este governo, se bem que agora de forma indirecta. Ora como não a consigo convencer da justeza decorrente da sublevação e desobediência civil, que faço? Para aqui venho lamentar-me, para quem me quiser ouvir, já que os meus amigos também me deixam sozinho no snack-bar da Julinha (a tal tasca que fica por baixo do telhado que um dia albergou o gato Esteves).
E deixo a proposta óbvia para 2009: poupem-se os professores e passem-se a aceitar os exames dos alunos do ensino secundário por fax, mecanismo com resultados mais que provados. Talvez consigam negociar essa medida com os professores e congelar-lhes as carreiras durante mais quatro ou cinco anos, o que provocaria um maior sucesso no combate ao défice neste momento em que a conjuntura internacional parece boicotar e conspirar contra as políticas certeiras do nosso líder.