domingo, 25 de janeiro de 2009

Mais um "caso"...

Quem terá dúvidas que o caso Freeport tem contornos de favorecimento especial? Um processo terminado in extremis por um governo em fim de mandato - ai meu Deus, antes que ele acabe!; despachando em poucos dias o que antes levara meses; e, mais do que tudo, a alteração da Zona de Protecção Especial (ZPE) em simultâneo, que é para o empreendimento caber lá dentro, albarda-se o burro à ordem do dono.
Estes foram os contornos verídicos do caso. Os outros - os que ficarão por saber -, são as trocas de favores e de luvas à mistura. Um tio que diz que patrocina um encontro; um sobrinho que não se lembra; um primo que diz que sim; outro primo que envia um mail suspeito. Enfim... é o chico-espertismo dos novos-ricos. O problema não está em serem novos-ricos. O problema está na forma como enriquecem e nos valores (neste caso na ausência deles) que veiculam. Tudo vale: o favorzinho pessoal, o tráfico de influências, o abuso de poder (para delimitar a bel-prazer a ZPE); a fuga aos impostos (quem acredita que a empresa do tio Monteiro só facturou 25 mil euros no ano passado?). Tudo vale, para quem pode, no pequeno País de Sócrates. O Estado grande é o microcosmos da aldrabice e dos favorecimentos, a autarquia fica para os mais pequenos. O poder caiu para o lado dos pintas chico-espertos. Para isso não seria melhor cair na rua?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Coincidências

Um só dia depois da eleição de Obama para presidente dos States, eis que Portugal anuncia que retirará do Iraque.
Lembra-me aqueles miúdos que acompanham sempre com os mais fortes. Os jornalistas que concordam sempre - e suportam -, o poder. Nas escolas por onde andei havia sempre aqueles professores amigos dos conselhos directivos, quaisquer que eles fossem. Claro que não foi nada disto que se passou, tudo foi apenas uma simples coincidência.
(agora que Obama ganhou nos states, parece que afinal o nosso PS é de esquerda; até já chegou à página da agenda em que é permitido o casamento homossexual que condenou há menos de um ano).

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

20 de Janeiro de 2009

Ao longo dos últimos anos fui sentindo um desprezo a raiar o ódio pelos States. Hoje percebo que isso não era mais do que a ressaca de uma desilusão de amor. Cresci a ouvir Dylan, Neil Youg, Pete Seeger, Zappa, Lou Reed, Tom Waits e tantos, tantos, tantos outros. Na minha adolescência Mark Twain ensinou-me a gostar de literatura, Steinbeck e Whitman marcaram-me profundamente. Mais recentemente deixei-me levar por Auster. E muitas mais referências poderia eu aqui debitar.
Mas nos últimos anos daqueles lados tem vindo o pior da política ocidental: a guerra, a intolerância, o fanatismo religioso cristão e, porque não dizê-lo, o despotismo e a estupidez.
Agora, quero acreditar, esses tempos parecem estar a chegar ao fim. Nunca me considerei um optimista, talvez reconheça que serei um tanto ingénuo, mas - que diabo! - este Obama voltou a dar-me fé. E hoje foi dia que poderá ficar para a história. Não para aquela história da estatística efemeridal do primeiro presidente negro ou qualquer coisa do género. Tenho esperança que fique para a história como o regresso da América ligada à terra de oportunidade e de esperança, e que essa liberdade e esperança se possam espalhar pelo mundo. Que fique para a história como o início de uma grande transformação que abra as portas a uma verdadeira revolução mundial da liberdade e da justiça da distribuição de riqueza. Será apenas ingenuidade, esta esperança? Talvez. É que, ao fim e ao cabo, este povo que elegeu Obama, deu por duas (!) vezes a vitória a essa monstruosidade de estupidez e ignorância que foi Bush (e que agora me dá pena, vendo-o sair só e abandonado pelos seus antigos amigos - que eram desta laia os seus amigos). E só apetece ouvir estes velhos teminhas:




segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Quanto custa o simplex?

Dia de greve, dia de luta.
O segundo do ano e com adesão semelhante: os dados da minha zona apontam todos para perto dos 90%. Quer dizer, então, que o chamado "simplex" não nos cativou. E a razão é simples: o "simplex" é mais uma fantochada, uma avaliação que não é, e apenas transitória, quando acabasse lá voltaríamos ao mesmo. Ora já em Março do ano passado, aquando da manifestação dos 100 000, a ministra tinha adiado a coisa e depois logo se via. Foi a tal assinatura do memorando com os sindicatos. E foi o que se viu.
Não quero entrar em pormenores de trabalho, mas apenas para chamar à atenção - sobretudo dos não professores - para este pormenor: a aplicação deste modelo de avaliação, e agora do simplex, custa milhões ao país. Deveria haver algum especialista que fizesse este cálculo. Pelo segundo ano consecutivo existem professores em comissão de serviço, logo a vencer mais, mas que acabaram, pelo adiamento do modelo, por não desempenhar cabalmente as suas tarefas. Com o simplex existe a possibilidade de novas comissões de serviço, de contratações de avaliadores noutras escolas com as despesas inerentes, reduções no horário que podem provocar horas extraordinárias. Tudo em nome de um modelo de avaliação que os professores não querem. Tudo por causa de uma teimosia do governo que, está à vista, quer defender o indefensável (se o modelo fosse bom já tinha sido aplicado). Delapidam-se mais recursos financeiros do país (e em época de crise) por uma birra da senhora ministra, esbanja-se dinheiro na educação, dando-o a professores que preferem não o receber - como mostram as manifestações e greves - quando o país tanto dele precisa, se calhar a começar na própria educação. É esta uma das corrupções do poder: gastamos o dinheiro de todos onde nós, os iluminados, decidimos. E mesmo que verifiquemos o nosso engano, continuaremos firmes e resolutos, que mais vale gastá-lo do que... "perder a face". É assim na educação e no TGV.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A propósito de Manuel José

Manuel José foi eleito, pela IFFHS, o 9º melhor treinador do mundo. É o único que fala português do top-ten. Distinção que se prenderá com o facto de ter vencido, entre muitos outros troféus, por quatro vezes (!) a liga dos campeões africanos. Um caso de sucesso no estrangeiro. Mais um, apenas. Ouvi Manuel José lamentar-se da falta de reconhecimento no nosso país. Pese as diferenças, lembrei-me de Saramago, uma das grandes figuras portuguesas deste século, a que ficará para a história. Também ele se pode queixar da falta de reconhecimento luso, sobretudo da classe dirigente que insiste desde há séculos em calar as nossas melhores vozes. Basta lembrar o nosso renascimento, essa idade de ouro, e pensar em Camões sepultado numa vala comum, em Damião de Góis torturado pela inquisição, a incompreensão que levou ao desespero almadense de Fernão Mendes Pinto, as perseguições a Garcia da Orta e à sua família, mais tarde a António Vieira. Cito de cor, por certo os exemplos abundam. E quantos terão ficado esquecidos? Quantas estrofes, quantos pensamentos, quantas descobertas, quantos traços poderão ter ficado para sempre perdidas por simples ignorância da sua existência? Em todos os países são conhecidos casos de artistas ignorados em vida, homens que estariam à frente do seu tempo. Mas em Portugal estes acidentes são em número desproporcionado.
E que dizer dos nossos improdutivos trabalhadores? Há uns anos, no início deste mandato, voltou-se à carga com a falta de produtividade dos nossos trabalhadores, o que justificaria os seus vencimentos menores do que a média europeia (ao contrário dos nossos gestores que estão no top europeu, sendo, por isso, excepcionalmente produtivos). Então alguém se lembrou de notar que o país com maior produtividade da UE era o Luxemburgo, onde cerca de 30% da população activa é de origem portuguesa.
Parece que os portugueses apenas produzem no estrangeiro, como apenas lá fora são reconhecidos os nossos Manuel Josés e Saramagos. E enquanto isso, cá vamos sendo governados pelos nossos dons manuéis e joões quintos a construir palácios de Mafra e tgv`s. A dar-se ares e peneiras, porreiros pá, a pedirem-nos sacrifícios e a culparem-nos, trabalhadores improdutivos, funcionários públicos preguiçosos, professores malandros, juízes e médicos corporativos, etc. e tal.
Há não muito tempo, em Faro, fui almoçar a uma tasquinha, simples e barata, de que não lembro o nome (ali para o pé do liceu, na Pedro Nunes, acho que é esse o nome da rua). Lá estava o Manuel José a comer, naquele antro do povo a cheirar a peixe frito. Simples e sem peneiras, ausente de sinais de novo-riquismo. Que contraste com esta cambada de poderosos que nos vai governando e sugando enquanto acusa as suas vítimas do atraso do país. Chicos espertos que não valem um peidinho se comparados com os outros grandes portugueses, não só Manuéis e Saramagos, como também Zés e Afonsos a labutar nas fábricas alemãs ou na construção suíça.
Às vezes penso que não resta outro caminho que não seja a emigração.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Longe de mim

"Longe de mim" é uma longa metragem inteiramente realizado com os recursos, materiais e humanos, de Odemira. E grande filme! (assim o espero). O realizador, o meu amigo Nuno Matos, já foi premiado em curtas. A expectativa é grande.
Vale a pena vir à anteestreia a Odemira, no dia 28 de Fevereiro.



terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Gaza e a guerra

"Pelo menos 40 palestinianos que estavam refugiados numa escola das Nações Unidas em Jabaliya, no Norte da Faixa de Gaza, morreram quando o local foi atingido por disparos de artilharia israelita, adiantam fontes médicas. Este ataque, registado ao terceiro dia da ofensiva terrestre, eleva para 635 o número de palestinianos mortos desde o início dos bombardeamentos, a 27 de Dezembro."
Era claro que o ataque à faixa de Gaza não iria apenas banhar de sangue os activos do Hamas. Só alguns diplomatas ocidentais e analistas televisivos o poderiam acreditar. Parece hoje verdade que a maioria das vítimas são a inocente população civil. Claro que este ataque - esta guerra -, apenas poderá piorar a situação na região - e, consequentemente, no mundo -, a médio e longo prazo. Mesmo que o governo de Israel conseguisse aniquilar totalmente o poder de fogo do Hamas durante algum tempo, o ódio que entretanto se aprofunda entre o povo palestiniano e o povo judeu acabará por trazer mais tragédias num futuro não tão longínquo. E acabará por dar razões a tantos governos de países árabes de intenções duvidosas.
Também é claro neste ataque que existe um evidente desprezo israelita pela população agora atacada. Os palestinianos não são vistos propriamente como seres humanos, mas como uma espécie diferente carregada de maldade e deficiência, por oposição à sua condição de povo escolhido. O facto está estudado e é comum em todas as guerras: estas só são possíveis e conseguem uma verdadeira mobilização se se vir o inimigo não como seres humanos, mas como monstros; ou então desprezá-lo como uma espécie de praga subhumana. São conhecidas as imagens que russos e americanos faziam uns dos outros durante a guerra fria. Ou, recordo, os filmes publicitários da alemanha nazi que comparavam os judeus a ratos que viviam nos esgotos das cidades e que ajudaram a esse crime, verdadeiramente monstruoso, que foi o holocausto. Curioso como a história vai sendo repetida, mesmo por aqueles que mais deveriam com ela ter aprendido.
É o que se vai passando agora. Para os israelitas os palestinianos são um povo menor. E, claro, os palestinianos também passarão a olhar - ou já olham - para os israelitas como verdadeiros monstros. O princípio do ódio (quase) irreversível entre os povos. E isto costuma acabar mal, se bem se lembram.

ME igual a si mesmo

Registo aqui as últimas do Ministério da Educação. na sua tradicional elevação, o sr. secretário de estado Jorge Pedreira ameaçou os professores que não entregarem os seus objectivos com processo disciplinar. Não, não bastará a não progressão na carreira, serão preciso os processos disciplinares. E também demissões para os avaliadores que se recusem a avaliar colegas. Um pouco antes, o mesmo ministério tinha ameaçado recuar com o triste "simplex" já aprovado em conselho de ministros e na véspera de promulgação caso... os professores fossem para a greve.
É característico deste ministério da educação. Estes senhores estão armados em arruaceiros (pela linguagem, pela cultura) e mafiosos (pela ameaça). E continua o bom povo português a aplaudir estes novos salazarinhos?

Alegre entrou em soarização?

Segundo a notícia a que conduz este link , Manuel Alegre não votará a proposta do PSD para a suspensão da avaliação dos professores, pois recusa-se a ser instrumentalizado.
Manuel Alegre não quer, então, ser um instrumento. Para não ser instrumentalizado não vota aquilo que antes até tinha votado, de forma veemente e badalada, porque votava com a sua consciência contra o seu partido. Em suma, para não ser instrumentalizado, Manuel Alegre agora votará contra a sua consciência a favor do seu partido; acabará por deixar passar uma medida com que discorda. Não ser um instrumento do PSD é mais importante do que tomar posições de acordo com o seu livre pensamento.
Ele há coisas difíceis de perceber. E eu que tanto apreço tenho pelo escritor e pelo homem. Que até, orgulhosamente, fui seu apoiante activo durante essa campanha da cidadania. Tenho medo que Manuel Alegre se esteja a "soarizar", como referi em post anterior: fala-se e canta-se alto a esquerda, mas apenas quando isso não traz consequências prácticas, que quando as traz é apoiar as políticas de direita.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Gaza, espelho do mundo



Confesso que a faixa de Gaza sempre me impressionou. Em área, tem um quinto do concelho onde vivo, o concelho de Odemira. Em população caberiam em Gaza 60 Odemiras. Um milhão e meio de habitantes, uma amálgama de gente que vive na pobreza, com os clássicos problemas de falta de água, electricidade, saneamento, bens alimentares. Gaza parece assim um imenso bairro da lata com algumas casas construídas em cimento para diversão dos bombardeamentos israelitas. É de admirar que os habitantes de Gaza possam apoiar um movimento que, de vez em quando, atira uns mísseis para o país vizinho, um bairro rico que lhes fecha a torneira da alimentação e da dignidade humana quando muito bem entende? A história de Gaza é também a história deste mundo: a revolta dos espoliados, a ira dos que não compreendem porque é o mundo tão injusto para com eles, porque passam fome? porque lhe matam os filhos em danos colatrais?
Esta história de Israel e de Gaza faz lembrar um velho mito, o mito de David e Golias, só que Israel é agora o Golias.