domingo, 16 de março de 2008

cães, piercings, galos caseiros e ovos da galinha da amiga

Teria preferido que este não fosse o tema do 1º texto do telhado do gato Esteves. Tinha mesmo prometido a mim próprio que me tentaria afastar do próximo e do político. Mas não o consegui fazer ao ouvir as notícias e os novos projectos de lei: mais duas proibições em favor do Estado seguro e da salvaguarda do dinheiro dos contribuintes (entre os quais me incluo). Uma dessa proibições tem como finalidade erradicar do nosso país uma raça canina, outra terminar com os piercings em algumas partes do corpo. Confesso que, de um modo geral, desconfio dos cães em causa, mas dou-lhes o benefício da dúvida. Quanto aos piercings, é algo que também não uso; nem eu, nem os que são mais próximos. Gozo, portanto, do capital de não ser directamente atacado por estas medidas (o que até tem sido raro nos últimos tempos), e até teoricamente beneficiado, pois correrei menos riscos de ser mordido ou de o meu dinheiro retido em impostos não ser gasto a curar esses inconsequentes que põem piercings na língua ou outras partes do corpo (será que o José Luís Peixoto fica fora-da-lei?).
É que estas duas leis (ou ante-projectos, ou lá a linguagem técnica que é usada) me desagradam sobremaneira. São mais do mesmo, exercícios de arrogância reformista do quero, posso e mando porque tenho razão e é uma razão racional, científica (ao que parece, a racionalidade está na poupança economicista das despesas hospitalares). Quanto à perseguição da espécie canina, estamos num primeiro exercício de prática eugenista (é divertido pensarmos que outras práticas eugenistas passarão pela cabeça do nosso primeiro) logo, que encerra os seus perigos. Existe uma percentagem grande destes cães que provocam problemas. É verdade. Então que se tome medidas para os evitar, que se responsabilize realmente os seus donos, pois não se pode atacar a totalidade pela parte, mesmo que essa parte seja a maioria. Mas mais grave é a questão dos piercings. Na verdade é um atentado à liberdade pessoal, que pode ser o início de uma cruzada gravíssima. Uma atitude à Big Brother. Que virá a seguir? Os mesmos argumentos que servem para proibir os piercings servem para proibir os obesos de comer doces ou gorduras, o pessoal que gosta de copos de os beber, ou quem sofre da coluna de fazer amor em determinadas posições. Serão essas as próximas medidas da maioria, aplaudidas por todos estes modernos reformistas?
Confesso que já não me sinto bem quando vou a uma tasca local (de que não posso dizer o nome por razões óbvias) comer um galo caseiro de cabidela, que a senhora mata ali mesmo sem ir ao matadouro. Olho para o lado antes de dar a primeira garfada, não vá aparecer alguém da ASAE. Da mesma maneira, quando compro os ovos caseiros a uma colega certifico-me que ninguém está a ver: será, porventura, algo semelhante ao comprar furtivo de um charrinho. E são poucos aqueles com que não tenho medo de partilhar os bolos feitos com os ditos ovos, que a figura do bufo voltou e está para ficar, basta ver a nova legislação da função pública. Para onde vamos? Se calhar para a criação eugenista de um imenso rebanho de ovelhas dominadas por esses seres superiores que nos governam (e não será esse, afinal, o objectivo de toda a reforma da nossa educação: o ter cuidado para não formar cidadãos mas sim ovelhas).

5 comentários:

Pedro Chagas disse...

Pois é... o pastor tem a maioria absoluta, e controla as ovelhas, e seremos alguns ovelhas negras?!

Unknown disse...

... era nestas alturas que eu gostava que um qualquer parente do legislador e/ou apaniguados promulogadores se assumisse publicamente como portador de piercing e dono (já agora responsável) de um canídeo da(s) dita(s) raça(s)... ou pelo menos que fosse caçado por um qualquer reportér "X" e publicado em impoluta, resistente e de grande tiragem folha mediática!!! mmmééé...

Anónimo disse...

Calma, gato Esteves, não te exasperes. Em relação aos canídeos, penso que quem deva ficar preocupado serão realmente os donos dos mesmos, pois terão de gastar alguma dinheirama extra, em esterelizações, em chips, em seguros, quiçá em treinadores... E na questão dos piercings, confesso que não me sinto muito à vontade para condenar quem quer que seja, apesar (ou por causa) de não gostar nem um bocadinho desta contra cultura, mas, Gato Esteves, ponderemos somente a questão de segurança e higiene, pois sabe-se agora que existem sérios e graves riscos de serem portadores de coisas... como dizer? ruins...? e... mortais? Ora, como os 18 anitos servem para tanta bugiganga, sendo uma delas a que decreta a adultez cívica, parece-me bem... na certeza porém que não há-de haver qualquer tipo de polícias das «boas práticas» a andar atrás dos bichanos e das bichanas que se furam... o mesmo não se poderá dizer talvez quanto aos «profissionais» que realizam essas práticas, sabe-se lá em que bas fond... E, em relação à segurança forçada dos arautos destas modas, parece-nos correcto dizer que a esterilização dos instrumentos da Arte não é garantia suficiente, mas tão-só o uso de descartáveis... Por isso, caro Gato, e como também gosto de galinácios caseiros, não sejas tão pessimista! Enquanto houver quem rabuge, como tu, como eu, não há-de haver ASAE que corte a raíz ao pensamento...
Cumprimentos deste teu Amigo e leitor.
PS: fazes-me ir ao dicionário ver esta coisa do eugenismo, compadre. Eu génio, tu génias, ele...

Anónimo disse...

Caro Fernando Évora:
Concordo inteiramente com o que escreveste e gostaria de acrescentar mais alguns aspectos.
Fico muito “satisfeito” em saber que apesar da medidas que o Governo(?) tem tomado, de fechar centros de saúde e hospitais, afinal eles até estão preocupados com a nossa saúde (como não se cansam de afirmar).
Ou será para nos sacar mais impostos, multas ou sob outras formas disfarçadas?
E o pior é que muitas das medidas tomadas são sempre por causa de decisões ou de directivas comunitárias. Tretas! Porque noutros paises não é assim. E posso falar da Alemanha, onde vivo actualmente Onde continuo a poder comprar comida caseira feita no talho ou ovos directamente à porta da quinta. Os ovos até lá estão em caixinhas prontas para tirarmos e deixarmos o dinheiro noutra caixinha com ranhura. E se eu quiser posso entrar e comprar mel ou sumos feitos na quinta.
Posso ainda dar outro exemplo: troquei recentemente a minha carta de condução. Em Portugal, os “jovens” que perfazem este ano 50 ou 60 anos têm que trocar de carta de condução, e apresentar um atestado medico. Porquê? Porque os velhotes são causadores de mais acidentes? Parece que as estatísticas (que o governo? tanto gosta) até indicam que os maiores causadores de acidentes estão em faixas etárias mais abaixo dos 50...
Já para não falar da ridiculez da medida, porque os que têm entre 50 e 60 estão “isentos”. Cá para mim tiveram medo que os serviços, já de si atolados com apreensões de veículos, não sejam capazes de dar despacho a tanta gente entre os 50 e 60.
Ou seja, só pode ficar a ideia que os spins acordaram um dia, e pensaram mais uma vez: o que vamos inventar hoje para sacar mais uns tostões ao povinho? E assim foi, porque noutros países essa medida não existem e nem se fala nela.
De nada serve fazerem leis quando o sistema judicial não funciona.
Mas o principal problema é mesmo a forma como começam a decretar sobre as liberdades e direitos fundamentais em democracia.
Já agora para não pensarem que o texto não tinha nada a ver com o post no blog...
Os cães? Os cães não têm culpa de certeza. O despacho do ministro, ou lei ou lá a coisa que ele parir, não irá extinguir os cães de certeza, só irá criar um mercado negro e tornar-se-à mais dificil ainda o seu controlo.
Os piercings? Na lingua ou lá onde fôr, serão o caminho mais fácil de nos entrarem pela intimidade adentro.
Um grande abraço,
E parabéns pela criança-blog!
Luís Bonito

Anónimo disse...

Sabes quem está a precisar de um piercing nos genitais?
O coelhone.