quinta-feira, 20 de março de 2008

contas democráticas

Ouvi ontem na rádio, quando fazia a minha viagem diária de regresso do trabalho, dados sobre as contas (contas de dinheiro, entenda-se) das últimas presidenciais. Fiz buscas na Internet para ver se as encontrava, mas nada. Pedia aos leitores deste blogue que me corrijam se estiver enganado, ou que indiquem links onde possamos ver essas contas. Por isso, vou apenas fazer uma curta observação e um convite à reflexão com base no que ouvi. E o que ouvi foi que o candidato que tinha conseguido mais apoios dos grandes empresários do país tinha sido Cavaco Silva. Alguém estranha? Não quero mentir, mas a memória que tenho de ouvido é que teria recebido doações de empresário que seriam, em média, de €6 000. Que aquele que tinha muito menos doações era Manuel Alegre (natural). E que Mário Soares também não tinha conseguido o apoio dos empresários, excepção feita a Jardim Gonçalves.
Ora os dados eram esperados, mas não devemos deixar de nos perguntar: que raio de democracia é esta? Para sintetizar com a sua etimologia, Democracia é poder do povo. Mas é a nossa democracia verdadeiro poder do povo, quando o povo não vota e quando a máquina de propaganda é alimentada pelos homens do dinheiro? (lembremo-nos do poder que a propaganda tem, e, por exemplo, dos especialistas que atribuem a ascensão de Hitler ao seu uso da rádio e dos outros meios de propaganda). Não tenhamos ilusões: os nossos políticos andam a soldo do poder económico, fazem-lhes as vontades. Não estão no poleiro para o bem comum, são apenas o braço político das classes mais ricas (como a comunicação social funciona como o seu braço propagandístico, e talvez seja por isso tão difícil encontrar na net as contas que teoricamente são públicas e transparentes). A lei determinará se são ou não corruptos, mas moralmente são corruptos quando não lutam pelo bem comum; e são hipócritas quando fingem lutar por esse bem comum. Ou será que os grandes empresários avançam com generosas contribuições para as campanhas eleitorais imbuídos do melhor espírito filantrópico?
Sendo assim, fica a tal questão sobre a Democracia e o poder do povo... ou será que o poder do povo se consegue não quando o rebanho vota, mas quando o rebanho se revolta?

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