domingo, 23 de março de 2008

Leituras: Histórias azuis e verdes do Bunhal

Uma das razões porque me decidi a escrever este blogue foi para me obrigar a manter alguma ginástica de mão. As recentes malvadezas de uma sinistra pessoa não me deixam com tempo de escrever como eu gostaria e sinto-me a perder a destreza. Assim, nada como me obrigar a escrever. Ora um dos possíveis objecto de escrita é a literatura. Gosto de conversar com amigos sobre o que lemos. E como as mesmas sinistras malvadesas também não me deixam tempo para falar com os amigos como gostaria (e mereceria na minha condição social de ser humano que essas sinistras pessoas não nos reconhecem), aproveito para me dirigir assim a todos vós, meus distantes amigos.
Pude ler, por empréstimo de uma colega, um interessante livro. Chama-se “Histórias Azuis e Verdes do Bunhal". O seu autor é Fernando Faria Pereira e este livro foi editado pela Câmara Municipal de Torres Novas. Bem sei que habitualmente estes livros lançam uma certa desconfiança: são obras editadas pelas autarquias, histórias provincianas de autores provincianos, com uma linguagem excessivamente elaborada e, geralmente, a dar para o lamecha. Não conheço o autor deste livro, não sei pois se ele é provinciano (mas, parece-me, não se importaria que lhe chamassem provinciano, sem a carga pejorativa que o epíteto tem, embora, como pude ler na nota do editor, tenha nascido em Lisboa)), e quanto ao livro, foi um imenso prazer lê-lo, não se confirmando os possíveis temores enraizados nalguma intelectualite elitista a respeito das obras que não são editados pelos canais oficiais (lembro Torga que insistiu em fazer sempre edição de autor e em papel barato, esse também seria provinciano?). Das ameaçadas “histórias” apenas algumas o são verdadeiramente, se tomarmos de “história” uma definição fechada. Isto é, são mais quadros que o autor pinta com amor e admiração do campo, do rio, das pessoas que ainda são verdadeiras e das que com eles convivem. Um quadro/história por mês (porque também há verdadeiras histórias, com divertidos enredos/enleios, sorrio agora ao lembrar a última delas “sessenta e três”). Quadros bem pintados, equilibrados, graciosos (ao ler lembrei-me, por vezes, do Aquilino, Fernando Faria Pereira por certo o leu). Quadros para fruirmos ao sabor lento da passagem das estações e das águas do rio. Tal o prazer que uma vez que atingi tão rapidamente o meio do livro me obriguei à leitura de apenas uma história por dia, para o prolongar. Claro que não é uma obra-prima, nem o autor o quis. Claro que não é um destes livros urbano-depressivos tão na moda, negros como tudo, daqueles que se passam trezentas ou mais páginas sempre a sofrer, em que o autor não quer, ou não sabe, dizer uma piadinha. Não, Fernando Faria Pereira não é um desses atormentados que partilham os seus tormentos com os leitores, é apenas uma pessoa que partilha os seus gostos simples com os que o lêem. Não conheço Torres Novas a não ser de passagem, mas conheço algo da região (fiz os meus tempos de tropa – trabalho que odiei e para o qual não tinha jeitinho nenhum – ali por perto) e percebe-se perfeitamente porque editou a Câmara esta obra que tão bem canta as suas virtudes. Eu, por mim, fiquei com vontade de ir, quanto antes, ao Bunhal. E de ler mais de Fernando Faria Pereira (que não sei se mais tem escrito). Se alguém tiver essa hipótese (francamente não sei como pode ser adquirido), não deixe de ler este livro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Gato de Cultura e de Prosa... Dize-nos, por obséquio, e se o incómodo não vos arreliar, o ISBN do manuscrito, ou a data e/ou edição do dito cujo...
Um abraço felino

Anónimo disse...

Ai amigo

A sinistra não nos deixa tempo para a leitura, cinema, exposições...
Não resta tempo à cultura.