terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tenhamos um verdadeiro espírito natalício

Verdade verdadinha que gosto muito do Natal. Deixo-me facilmente imbuir pelo espírito natalício. E não só por aquele espírito natalício da família à volta da mesa farta (ah... o aroma do peru assado, o apelo da lampreia de ovos, a imponência do tronco natalício, o gosto do bacalhau assado, tudo bem regadinho com um tintinho cá do alentejo), mas também o Natal do amor e da ajuda ao próximo, da solidariedade. Por isso, neste Natal, devemos preocupar-nos com aqueles que após uma vida de árduo trabalho para o bem comum se depararam, inesperadamente e por um estranho capricho do acaso, com a decadência financeira. Falo dos nossos gestores, das nossas fortunas, da nossa mais rica classe. Sabemos que será apenas um conjuntura financeira, pois com o esforço pronto e assertivo dos nossos governantes (de que eles provaram sempre ser amigos) a estabilidade voltará aos seio dessa elite iluminada. Mas não deixam de estar a passar um mau momento, veja-se aqueles que tinham as suas poupanças no BPP.
Eu, por mim, e sabendo que o esforço para salvar esses homens terá que partir de todos nós, já comecei a poupar nesata quadra natalícia: no vinho - comprei uma zurrapa em pacote - e no whiskey - que adquiri no Lidl.
Para que também os leitores do meu blogue sintam este apelo natalício, aqui deixo um link para um inspirado tema. Há que salvar os ricos!
http://www.youtube.com/watch?v=pI3z1c53J4g

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ministério de plástico

Foi hoje noticiado que a ministra concedeu mais uma benesse: os professores que se reformem nos próximos três anos estão dispensados da avaliação. Mas esses professores dificilmente poderiam lucrar com a avaliação, fosse porque já tinham atingido o topo e o acesso a um badalado escalão extra não esteja ainda regulamentado, fosse porque são avaliadores e não existam inspectores - como inicialmente previsto - em número suficiente para os avaliar. Esta é mais uma medida oca, sem consequências para a negociação, que apenas serve para encher jornais e tvs que pretendem mostrar o bom carácter da bem intencionada Maria de Lurdes Rodrigues. É apenas mais uma medida para a comunicação social, que a comunicação social e a estatística são os únicos objectivos da senhora ministra. E uma ministra da educação que se guia pela propaganda não é uma ministra de coragem - como alguém afirmou -, é uma ministra de plástico.

Parlamento Europeu defende trabalhadores

No dia 12 de Junho coloquei neste blogue um post sobre a possibilidade da semana de trabalho poder ser prolongada até às 65 horas semanais. Nessa altura a jornalista Alexandra Lobão chamou-me à atenção que era tal era apenas uma proposta dos ministros dos países da União Europeia e que ainda teria de ser aprovada pelo Parlamento Europeu.
Soube-se hoje que o Parlamento Europeu chumbou esta medida. Fico feliz. Ganhámos uma batalha e mantemos a tradição humanista europeia. E, desta vez, a democracia funcionou. Momento para recordar quando vierem as eleições europeias.
Para os que o pretenderem, aqui fica o link para o tal post de Junho: http://gato-esteves.blogspot.com/2008/06/vamos-poder-teabalhar-mais.html

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

É hora?

Nos últimos anos todos disseram que tínhamos que ser mais produtivos; que tínhamos de ser mais competitivos. Que a competitividade passava pela flexibilização; a deslocalização era necessária. Uma questão de esforço nacional. Havia grandes ordenados entre os gestores? Claro que havia. É que tinha que haver que eles é que geravam riqueza, e a riqueza criava emprego. Eram esses grandes ordenados de gestores iluminados que faziam o país andar para a frente. Eram esses visionários os que melhor compreendiam o mercado; e o que era preciso era deixar o mercado funcionar, sem os constrangimentos de leis que defendiam em excesso os trabalhadores. Os jornais e as tv`s bombardearam-nos com essas verdades insofismáveis, e não me lembro de ouvir falar em regulação ou coisa semelhante.
O resultado destas ideias está à vista e espanta-me como ainda há gente a defendê-las de forma tão acaloradamente parva (ainda ontem ouvi o Luís Delgado – meu Deus que homem tão basicozinho!).
Contaram-nos que a economia, o progresso, o resto do mundo era assim mesmo e ainda muito mais: que os políticos precisavam de ser defendidos, pois ganhavam muito melhor fora da política. E por essa razão precisavam de auferir bons vencimentos e vantagens diversas como os subsídios de reintegração e as reformas antecipadas.
E agora ainda há quem cante a mesma coisa, como o Sr. deputado Almeida Santos que afirmou que “ser deputado não é escravatura”, frase que julgo só poder ser entendida do ponto de vista filosófico.
Mas depois vimos toda esta promiscuidade entre os gestores e os políticos; vislumbrámos a ponta do icebergue da imensa corrupção em que estão mergulhados os nossos governantes e representantes. E que fazemos? Continuamos no nosso esforço nacional? Continuaremos a sacrificarmo-nos para sermos mais competitivos e produzirmos a riqueza nacional para salvar as grandes fortunas? Aceitamos estes códigos do trabalho para continuarmos a satisfazer os caprichos dos gestores iluminados?
Ainda há solução dentro dos partidos e do esquema democrático? Ou estará na hora de recebermos a verdadeira inspiração grega, para além do nome do Pinto de Sousa?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

POR QUÉ NO TE CALLAS?

Este senhor tem, de vez em quando, umas tiradas em que se arma em esquerdista. Mas tem-nas apenas quando as ditas são inofensivas. Assim, ao jeito de enganar o povinho: olha p`ra mim, vejam como sou velho mas de esquerda. Na verdade, enquanto homem de poder, governou sempre à direita e conta entre as suas amizades gente muito suspeita. Agora vem dizer que como os tempos são complicados não se deve fazer guerrilhas a Sócrates, que com ele está solidário, que é contra o encontro das esquerdas (também estará armado em “senhor da esquerda” como o Jerónimo?). Exactamente agora que a esquerda ameaça com a guerrilha; exactamente agora que o descontentamento social sai às ruas por toda a Europa e ameaça, de facto, o status quo com que sempre pactuou e que o colocou no poder. Estará, finalmente, a pagar a dívida que tem para com Sócrates desde as presidenciais? Ou apenas a ser ele mesmo, submarino dos seus poderosos amigos junto da suposta esquerda, aquela que “mete o socialismo na gaveta”?
Por qué no te callas?

sábado, 6 de dezembro de 2008

Desconvocação da greve

Ontem à noite foi anunciada a suspensão da greve por uma suposta cedência do Ministério em negociar o próprio Estatuto da Carreira Docente e delinear um novo sistema de avaliação no próximo ano. Fiquei desconfiado, que já percebi que esta gente do governo não é séria. Tinha razões para isso, pois à meia-noite e três minutos recebi mais um email da Direcção Geral dos Recursos Humanos (sexto email nos últimos sete dias, o que me parece excessivo para quem me ignorou durante tantos anos) em termos que para mim não são de clara cedência. Aliás, a linguagem usada é de vitória.
Aguardemos pelo desfecho das negociações que começarão, apenas, a 15. E aguardemos pelo que daí vai resultar para todos nós. Mas, sinceramente, temo que possa haver aqui um engano. É que, como já disse, desconfio da honestidade deste governo, e não sei se fizemos bem em desconvocar a greve. Lembra-me outras greves e manifestações em que ficámos a meio do caminho. E, desta vez, não podemos morrer na praia na luta contra a arrogância e estupidez, que são as qualidades reveladas por este trio da tutela.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cem anos de Café Aliança

Ouvi há pouco na rádio que o Café Aliança, em Faro, faz hoje cem anos. O Aliança é, porventura será para sempre, o "meu" café. O meu ideal de café. Senti-me importante por este centenário merecer destaque no jornal nacional da Antena Um. E também senti uma enorme nostalgia do Aliança (quiçá fosse mais nostalgia da minha adolescência), uma enorme vontade de pegar no carro e ir até Faro recuperar tantas recordações...
No Jornal da Antena Um falou-se de figuras históricas que passaram pelo Aliança: José Afonso, que ali terá escrito algumas músicas aquando da sua passagem por Faro quando foi professor, Simone de Beauvoir, Marguerite Yourcenar. Falou-se de outros que eu desconhecia que tinham ido ao Aliança como Almada Negreiros ou Fernando Pessoa (estou desconfiado que quem foi ao Aliança foi Álvaro de Campos, que era de Tavira). Mas faltou recordar-se um dos maiores poetas portugueses do século passado, sempre esquecido pela élite intelectual, e que será aquele que mais ligado estará ao "espírito Aliança": António Aleixo. Recordo tão claramente a história que me contou a minha professora de Português do 1º ano do Ciclo quando falámos do Aleixo (falar do Aleixo no actual 5º ano seria hoje considerado um atentado pedagógico): o Aleixo andava a vender cautelas no Aliança e as diversas mesas tinham por hábito chamá-lo e pedir-lhe que, para sua diversão, fizesse ali uma quadras. Quase como se fosse um artista de circo a fazer umas macacadas. Ora acontece que num desses dias, e na mesa dos doutores, alguém sugeriu que se fizesse o costume. Mas logo um dos doutores, mais pudico, notou que o Aleixo, comido pela doença e pela pobreza, apresentava tão mau aspecto que "parecia um ladrão" e seria melhor deixá-lo só, a vender cautelas. Talvez este observador pertencesse à classe que dominava a cultura deste país e a vai continuando a dominar. Hoje, porventura, arriscar-se-ia a ser ministro socrático. Mas adiante. António Aleixo acabou por ser requisitado para uma mesa que ficava ao lado da tal onde se sentavam os "distintos doutores" e, instado a fazer um poema, terá parodiado os tais doutores pois, como é conhecido, tinha o "ouvido tísico" (a tuberculose acabou por lhe levar a vida, e nesta mesma aula de Português fiquei a saber que os tísicos apuram o sentido da audição). A quadra que lhe saiu foi "a tal":
Sei que pareço um ladrão,
mas há muitos que eu conheço,
que sem parecer aquilo que são,
são aquilo que eu pareço.
Retorno ao Aliança e às minhas memórias. Foi no Aliança que aprendi a jogar xadrez como deve ser; foi lá que conheci o escritor sueco Staffen Ekesson (que aparece em algumas das minhas histórias e que tanto me ensinou sem que disso nos déssemos conta), o Sr. Capitão (que me inspirou uma personagem com o mesmo nome), o Paulino, o Paiões, o Kabay e tantos outros... Foi no Aliança que conheci o cão Alberto, que era o cão dos drogados e que um dia seria o meu Jimmi do "De como se de uma fábula se tratasse". A este propósito recordo que o Aliança tinha - tem ainda, segundo julgo saber -, três portas oficiais. Ora uma vez a carroça da Câmara perseguia o Alberto (cão marginal que apenas ladrava aos carros da polícia - segundo a teadição por ter sido um carro destes que atropelara o seu irmão) e este entrou pelo Aliança adentro pela porta "principal", a que dá para o Jardim. O Alberto, mais lesto do que o habitual, passou por nós, os da zona do xadrez, como uma seta. Pouco depois vi entrar os perseguidores da câmara. Fiquei assustado: o Jimmi iria ser capturado. Levantei-me e verifiquei que todas as três entradas estavam ocupadas pelos da carrinha da câmara. O cerco estava montado. Saí do Café, não queria assistir àquele momento; finalmente aquela espécie de asae dos animais ia conseguir o que há tanto pprocurava. E quando saí vi ao longe, a sair da entrada da Bertrand, a cabecinha do Alberto, a gozar o pratinho do engano dos seus perseguidores, inda não é desta que me caçam...
Por último recordo que no Aliança, por entre as primeiras imperiais, escrevi alguns dos meus primeiros poemas, para sempre perdidos, poemas das desventuras da adolescência.
Senti-me hoje tão feliz ao ouvir o noticiário da Antena Um e a pensar que esses poemas poderiam ter sido rabiscados nas mesmas mesas em que um dia José Afonso escreveu as suas cançoes. Apesar da diferença de génio, haverá uma mesa que nos une. A ele, e não aos doutores que um dia disseram que António Aleixo "parecia um ladrão".

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O dia de greve (3)

Alguns dados do Minho (fim da tarde):
S. Mamede + 90%
Vila do Conde 95%
Sec . Barcelinhos 100%
Alcaides de Faria (Barcelos) 98%
S. João de Ponte (EB) Guimarães 100%
Feitor Pinto (Sec.) Viana 100%
Montalegre (Sec.) 100%
S. Torcato (Sec.) Guimarães fechou
Alberto Sampaio (Sec. ) Braga 80%
André Soares (EB) Braga fechou
Povoa de Lanhoso (Sec.) 98%
Real (EB) Braga 99%
Ponte de Lima (Sec.) 98%
Ponte de Lima (EB) 99%
Carlos Amarante (Sec.) Braga 98%
Celeirós (EB) Braga 99%
Sá de Miranda (Sec.) Braga 92%

Alguém falou em sessenta e quantos?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dia de greve (2)

100 000 professores na rua em Março; 120 000 em Novembro; hoje, quantos somos a fazer greve? 130 000? (embora o sr. secretário de estado diga que em Lisboa estavam só 53% em greve - que ridículo, sr. Pedreira, ainda alguém acredita em si?). Mas o ministério insiste em manter o modelo, agora até já diz que as alterações propostas para este ano poderão durar mais uns quantos. Noto aos que sempre acusaram o anterior modelo de avaliação de não distinguir bons de maus que este - e, sobretudo, com as alterações - dificilmente poderá levar a uma classificação negativa. Mais: com as novas propostas, o modelo ficará bastante caro em horas extraordinárias e ajudas de custo. Tudo para não "perder a face". Tudo isto já foi longe de mais. O governo tem que nos ouvir; vai ter de acabar por ceder. Somos muitos, e na nossa imensidão reina demasiada heterogeneidade para não termos a razão. Democracia não é só ser eleito; é também negociar, conversar. Sócrates tem que pensar que não é, como alguém disse, "um ditador eleito". Sócrates tem que pensar que democracia também é cidadania. E, como tal, tem que pensar num sistema diferente. Que até lhe pode ficar mais barato, economicamente falando. Porque esta insistência vai-lhe ficar muito cara, democraticamente falando.

Dia de greve

Acabo de regressar da minha escola de Colos. Levantei-me mais cedo do que o habitual para poder estar lá ao primeiro tempo, a fim de entregar aos meus alunos um pequeno folheto para os encarregados de educação (e para eles próprios também) em que explicava as razões para a minha greve. Apanhei chuva e frio mas valeu a pena.
Valeu a pena porque regresso todo feliz e orgulhoso: nos dois primeiros tempos a adesão na Escola Básica Integrada de Colos foi de 100%! E a minha escola era uma escola sem tradição grevista! Sei que este número não se manterá, pois há um professor que já disse que não iria fazer greve. Talvez seja o único. Entretanto, o órgão de gestão considerou que sem professores na escola não havia condições para manter lá os alunos, pelo que chamou os transportes para os levarem de volta (o fura-greves deve ficar feliz, pois ganha o seu dinheirinho e não trabalha na mesma, estes amarelos estão sempre a ganhar com a luta dos outros). Que este facto - o fecho da escola numa greve de professores -, sirva para reflexão sobre o papel - e a catrafada de funções -, que os docentes desempenham hoje em dia.
Entretanto passei pelas escola vizinha de São Teotónio. Sei que ao segundo bloco da manhã apenas havia dois professores em aulas (o que dará uma média ligeiramente inferior a 90%) e tive informações (por confirmar) que a Damião de Odemira também terá fechado. Um panorama muito semelhante ao resto do país.
Do que se está à espera para suspender definitivamente o processo e, já agora, demitir esta equipa ministerial?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

“Em Portugal existem três milhões de adultos com falta de formação”, disse hoje a ministra da educação. É claro que a ministra , os seus secretários de estado e o seu chefe primeiro se enquadram nestes três milhões. Porque não têm formação (leia-se qualificação) para desempenhar as funções que desempenham, nem têm formação (educação) no trato com aqueles que governam.
Nos últimos tempos tudo tem sido à descarada. Protegem-se os interesses dos banqueiros, os nossos dirigentes fazem despesas superiores aos seus rendimentos oficiais, pratica-se o tráfico de influências, por todo o lado cresce a corrupção perante a ineficácia da justiça. Cresce o medo. O velho medinho salazarento. Claro que esta não é boa gente. E não são apenas sedentos de poder, são verdadeiros vampiros. Não são apenas malandros, nem simples vigaristas. São mentirosos e mafiosos. São gente mal intencionada.
Portugal atingiu um ponto em que não nos podemos dar por vencedores se apenas lhes tirarmos a maioria absoluta, ou mesmo do poder. Eles já preparam a sua retirada, já a garantiram, inspirados no exemplo Armando Vara. Esta gente deverá ser perseguida para sempre. Um dia deverá haver justiça para os julgar. Essa é, pelo menos, a esperança que me resta.
E se para o ano, em Outubro, continuarem a ganhar eleições, aí concordarei inteiramente com a ministra da educação, pois então haverá mais de três milhões de portugueses sem formação (ignorantes, tapadinhos, intoxicados pela desinformação).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O início da "luta final"

Quando este governo iniciou o seu mandato, percorreu o país uma onda de esperança reformista. Estávamos fartos das santanices, das fugas barroseiras e guterristas. Quase no primeiro instante, foi com os professores que o governo mostrou a sua veia decidida: a classe docente foi transformada no símbolo do mal do país, na cambada de preguiçosos que se arrastava pelas escolas a mamar do erário público. O governo passou bem esta sua imagem iluminada e todos acorreram a aplaudir a intransigência com que Lurdes Rodrigues actuava contra a corporação de chulos. Todos os órgãos de informação mostravam estatísticas de origem muito duvidosa que envergonhavam os professores (eu próprio cheguei a ter uma queixa na ERC contra a Visão - inconsequente - que falseou dados nesse sentido), no célebre prós e contras sobre as aulas de substituição a jornalista não disfarçava o enfado de ouvir as queixas docentes; todos os opinion-makers batiam no ceguinho e enalteciam a figura heroína da ministra da Educação; para o homem da rua os educadores dos seus filhos tinham-se transformado eles mesmos no demónio. A classe docente deprimiu-se, sentiu-se achincalhada. E o povinho, onde havia arrogância fascizante do governo viu determinação; confundiu o ataque à escola pública com espírito reformista.
Os anos passaram. A ministra depressa se habituou a ditar as suas leis como um qualquer Luís XIV, ao sabor dos seus caprichos. Entrou num espiral de arrogância e de ideias cada vez mais estranhas, a raiar a loucura. Entretanto, e não obstante a imagem de eficiência que o ministro continuava a dar (e para a qual se serviu tão eficazmente dos meios de comunicação) o país definhava. Os impostos não desceram, o desemprego aumentou; o antes falado combate aos privilégios dos grandes nunca se concretizou, antes pelo contrário; os juros subiram; os combustíveis também, e muito acima das cotações internacionais do petróleo (também aqui se ameaçou investigar, mas tudo continuou na mesma); a corrupção continuou a crescer, a justiça sem funcionar; os bancos faliram mas não só por causa da crise internacional; os cuidados de saúde pioraram; escolas fecharam; a província continuou a sua sangria; a emigração cresceu. O grande feito do governo parece ser apenas o Magalhães.
E assim voltamos à educação. Os professores, de tão achincalhados, voltaram a reclamar contra a demência da tutela. E o governo aproveitou para desviar de novo para aqui a sua atenção e mostrar o seu carácter musculado. Que não se fale do rotundo falhanço do governo! Que não se pronuncie a palavra "recessão"! Recordando a sua vitória popular contra os professores, concentra-se agora nessa luta, confiado em repetir a vitória do início do mandato. Mas eis que a coisa pode correr mal. Apesar de se desdobrarem em esforços, apesar das ameaças disciplinares, das arrogâncias intermédias das direcções regionais, das perseguições, das ilegalidades, dos atropelos. Não só os professores parecem não desmobilizar, como ainda servir de exemplo e excitar as oposições tão silenciosas. Esta luta trará por certo consequências determinantes para Sócrates. Nós, professores, podemos, de facto, contribuir para a derrocada socratina. E isso vale bem a vingança pela forma como fomos tratados neste consulado; vingança pelo desprezo, pela humilhação, pela sobranceria e sadismo perpetrados pela mesquinhez dos verdadeiros incompetentes, pela mediocridade do trio Rodrigues-Lemos-Pedreira.
A greve do próximo dia 3 será apenas o início de uma dura luta final. Mas a vitória está ao nosso alcance.

domingo, 30 de novembro de 2008

A escola corporativa

Muito se tem chamado “corporativos”, entre outros epítetos mais feios, aos professores. Muitos supostos especialistas e jornalistas dizem que é uma classe particularmente unida sempre pronta a resistir às boas intenções ministeriais (inclusive alguns ministros, como Marçal Grilo – que eu cheguei a ter por pessoa inteligente – falaram deste problema corporativo). E logo os relacionam com o que de pior tem o português: trabalhador pouco produtivo, dado à preguiça e dotado de duvidoso valor moral (lembra-me alguém que na minha infância falava assim dos “pretos”), párias do sistema, espécie de agremiação de chulos que não fazem nenhum e ganham balúrdios. E porque a cambada está bem é que estão unidinhos que é para continuarem a mamar como até aqui. Julgo que Maria de Lurdes Rodrigues comungará desta ideia acerca dos seus tutelados, se bem que temperada com uma linguagem mais moderna e menos vernácula.
E decidiu ser a heroína que vai pôr termo à situação.
Mas a classe docente é muito diversa e sempre esteve longe de ser corporativa. Atente-se nos números de adesão a greves nos últimos anos (sempre a descer até valores extremamente baixos antes do consulado Milú) ou nas manifestações que antes eram pouco participadas. Qualquer um que conheça a escola pública, qualquer pai que tenha seguido a carreira escolar dos seus filhos se terá deparado com um leque extraordinariamente heterogéneo de professores. Nas escolas sempre houve os incansáveis e os que pouco mais do que nada ainda fazem. Os que organizavam, ocupando tempo fora do seu horário, exposições, visitas de estudo, projectos de investigação, iniciativas abertas à escola e à comunidade, que substituíram – e quantas vezes! – os encarregados de educação na sua dádiva de afecto, que resolveram problemas de faltas materiais, que providenciaram soluções para a fome dos seus alunos, que descobriram, denunciaram e, tantas vezes, tiveram que ser eles os principais envolvidos na solução dos casos das vítimas de agressão, abandono, abuso. O papel da escola neste mundo cão em que o país (talvez o mundo) se foi transformando é o de ser quase o último guardião da decência e do humanismo. E será esse um dos problemas do governo: neste novo mundo socratino da deslocalização, da flexibilização, da precariedade, dos grandes horários de trabalho, acaba por cair sobre os professores a tarefa humanista de quem não esqueceu o que é ser criança.
Mas também é verdade que nem todos os professores têm vindo a desempenhar o trabalho como referido no parágrafo anterior. Há aqueles que dão as suas aulinhas –uns melhor e outros um pouco pior -, que vão fazendo os seus testes, cumprindo as suas obrigaçõezinhas burocráticas com afinco e aprumo, enfim, professores que não sendo dotados de grande vocação também não falham no que lhes é pedido. Uns são mais simpáticos, outros muito exigentes, outros assim-assim. E também as nódoas. Claro que as há. Há os que nada fazem a não ser pouco mais que figura de corpo presente nas aulas, que ditam os mesmos apontamentos que há vinte anos, não são capazes de elaborar uma acta, que não conseguem controlar a indisciplina. E a estes, porque são incompetentes, cai geralmente a menor fatia do trabalho comum, e passeiam-se todos lampeiros e despreocupados pelos corredores das escolas. Ainda os há, é certo. Mas devo dizer que ao longo da minha carreira de professor tenho visto uma clara diminuição da sua percentagem. Já desapareceram (ou quase, estou a lembrar-me de um caso que ainda dura), aqueles que estão no ensino como um prolongamento da sua actividade de engenheiro, explicador, advogado ou outra e que para isto não tinham jeitinho nenhum. Já não há os que estão na escola a tapar buracos da falta de professores como acontecia há anos atrás, contrariados por aturarem “putos” em vez de terem outro trabalho mais bem remunerado, com mais estatuto social, menos exigente, menos perigoso.
Ora é verdade que o sistema de avaliação anterior (1) não distinguia os melhores dos piores, ou, pelo menos, não o fazia de forma clara. Mas também é verdade que este não o faz. E se não o faz não serve para nada. Mais: este sistema cria uma nova divisão, decorrente do Estatuto da Carreira Docente, entre professores titulares e simples professores (espécie de badamecos) que tem na sua origem um erro fatal, já que a divisão artificial porá, pôs, como titulares não os melhores, mas aqueles que uma escolha arbitrária decorrente de uns critérios escolhidos pelos humores ministeriais decidiu. E aí começou o sistema de avaliação dar bronca, nascendo torto. Lembro a célebre frase da ministra: “na tropa nem todos chegam a generais”. É verdade, minha senhora. Mas a escola não é a tropa. A tropa tem de estar pronta para situações limite, a cadeia hierárquica é um dos seus pilares que tem que funcionar sem qualquer falha numa situação desse tipo, concordará que semelhante necessidade não se aplica à escola. Que não estaremos interessados em viver numa sociedade que reflicta este regime hierárquico em todas as suas dimensões. E na tropa, suponho eu, a progressão deverá ser, de facto, feita com base no mérito e qualidades de cada um. Uma tropa cuja hierrarquização fosse idealizada pela senhora, estaria condenada ao massacre imediato.
E também lembro a frase tantas vezes repetida que em todas as empresas os profissionais são avaliados. Pois é verdade, minha senhora, mas a escola também não é bem uma empresa, embora a senhora queira fazer dela uma empresa, traduzida em resultados artificiais de aprovações fictícias, como se uma empresa de falcatrua se tratasse, uma daquelas que inventa produtos e vendas e lucros. Porque se esta avaliação fosse aplicada numa empresa, a empresa ruiria em pouco tempo. Não é possível que uma empresa, ou uma qualquer organização, pudesse gastar tanto tempo e energia na sua auto-avaliação. E é isso que está a acontecer, minha senhora: estamos a perder demasiado tempo com tudo isto, estamos a consumir-nos e não a ensinar. Já percebi, já percebemos, que o ensinar não tem assim tanta importância para si, o que a senhora quer não é que os professores ensinem, é que os professores aprovem os seus alunos, é esse o seu sucesso, sucesso medido nas estatísticas de certificação. A escola, minha senhora, não é uma fábrica onde entra um porquinho e sai uma salsichinha; onde entra uma qualquer matéria-prima e sai um profissional de mão-de-obra barata suficientemente estúpido e dócil para não pôr em causa o poder dos poderosos. A escola para mim continuará a ser a chave do futuro, onde entram crianças e são formados cidadãos (que, idealmente, nunca deixarão de ser crianças sonhadoras).
E é esta última a razão principal que nos coloca hoje nas trincheiras adversárias (para usar linguagem castrense que a senhora parece apreciar): é que eu sou pela Escola; a Escola Pública formadora de cidadãos capazes de impedir gente com tiques fascistas de voltar ao poder.

(1) porque havia sistema de avaliação anterior, é mentira quando o primeiro-ministro ou a senhora ministra dizem que não havia avaliação. Eu próprio pertenci a equipas de avaliação do Conselho pedagógico responsáveis pela avaliação de colegas. E nesse âmbito posso dizer que não é verdade que todos subiam de escalão. Alguns houve que não conseguiram, fosse por falta de formação – que era então obrigatória -, fosse por incongruências no seu relatório, fosse por incumprimento de prazos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Acabo de ouvir a senhora ministra na TV. Não duvido que a senhora conseguiu fazer passar uma imagem de trabalho e determinação, de quem sabe o que faz. Nisto ela é muito boa: no fingimento.
Notei-lhe algumas melhoras: disfarça mais a arrogância, consegue evitar dizer que a culpa disto tudo é dos professores (embora na conferência da tarde não o tenha conseguido fazer ao dizer que os professores é que não tinham sabido fazer os objectivos relacionados com a melhoria dos resultados escolares). Neste ponto estava bem instruída e terá sido bem treinada.
Mas naquilo que me interessa está na mesma. A ministra continua a mentir com o seu ar cândido, diz que não disse o que todos ouviram, está convencida que tem razão, quer manter este sistema para sempre, o que é mais contestado adia para o próximo ano, depois se verá, estará então (ou pelo menos está convencida disso) em início de nova legislatura. Quer parecer que ouviu as críticas (disse que as ouve sempre) e que mudou alguma coisa. Não dá para perceber se mudou muito ou pouco. É que este modelo está mais do que inquinado e tem de se fazer tábua rasa dele. Não tenho confiança nesta ministra. E acho que a quase totalidade dos professores concordará neste aspecto comigo. Nada do que ela faça poderá recuperar a sua credibilidade, pois tem atrás de si uma legislatura de ódio e destruição.
E não percebo porque é que a ministra, sabendo que hoje ia produzir estas alterações, me deu ontem as ordens ilegais para eu colocar os meus objectivos online. Não faz sentido. Por isso pergunto: a decisão da mudança apareceu só hoje? Foi-lhe ditada por algum colega do conselho de ministros? Como reagirá o Albino a esta mudança?
Fiquei também a saber que afinal o conselho de escolas não pediu a suspensão da avaliação, que existe apenas uma escola no país todo com a avaliação suspensa, que eu afinal não a ouvi dizer que a manifestação de 8 de Novembro foi uma chantagem e intimidação (preciso de consultar um psiquiatra, estou com graves alucinações auditivas), que as escolas têm trabalhado muito bem na aplicação da avaliação, e mais um chorrilho de existências nas escolas que eu desconhecia por completo. Afinal o que se diz na net e na comunicação social é quase tudo mentira. Afinal a líder da oposição tinha razão quando dizia que não pode ser a comunicação social a seleccionar as notícias. É que eles são muito mentirosos. Ou então exagerados.
E, no final, se bem entendi as palavras da ministra, deve haver novamente serviços mínimos se houver greve às avalições. Já existiu uma greve deste género há anos. mas então os tempos eram outros. Eram tempos de democracia. Agora as greves funcionam assim: se for para o Estado não pagar, podemos fazer; se prejudicar, não podemos, há serviços mínimos. E também aqui parece que já estamos na tal suspensão da democracia que a outra falava...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Intolerável

Isto ultrapassou todos os limites do razoável, do bom senso, do respeito pelo próximo. Hoje mesmo recebi um email da DGRHE (Direcção Geral dos Recursos Humanos de Educação) a pedir que coloque online, numa página do Ministério, os meus objectivos.

(Mais um pedido ilegal pois o Estatuto da Carreira Docente reza, no seu artigo 49º "1 - Sem prejuízo das regras de publicidade previstas no presente Estatuto, o processo de avaliação tem carácter confidencial, devendo os instrumentos de avaliação de cada docente ser arquivados no respectivo processo individual.2 - Todos os intervenientes no processo, à excepção do avaliado, ficam obrigados ao dever de sigilo sobre a matéria." Acrescenta-se a lei 15/2007, artigo 49º, "Garantias do processo de avaliação do desempenho" 1—Sem prejuízo das regras de publicidade previstas no presente Estatuto, o processo de avaliação 512 Diário da República, 1.a série—N.o 14—19 de Janeiro de 2007 tem carácter confidencial, devendo os instrumentos de avaliação de cada docente ser arquivados no respectivo processo individual.2—Todos os intervenientes no processo, à excepção do avaliado, ficam obrigados ao dever de sigilo sobre a matéria.)

É o Ministério armado em Big Brother com esta medida para saber, por via ilegal e de carácter fascista, quem são os prevaricadores que não apresentam objectivos. Penso que bastaria perguntar às escolas como vai por lá a avaliação, mas aí teriam respostas que não poderiam contestar. Assim, prefere-se a técnica de estimular no próximo o seu lado pior: tomem lá, preencham os objectivos online que ninguém vê.
Esta ministra, supostamente da educação, é o que de mais reprovável existe, eticamente falando. Apenas a move o ódio e a vontade de destruir a escola. Em toda esta legislatura Maria de Lurdes Rodrigues precipitou o fim da escola enquanto formadora de cidadãos sob a capa da grande reformista para a escola do futuro: a da estatística e a certificadora de mão-de-obra barata. Sempre com a conivência dos mais altos interesses instalados. Sem olhar a meios, mas resguardando as aparências democráticas. Fomos assim assistindo, fria e sistematicamente, à tentativa de liquidação do ensino. Não é exagero, é a crua verdade.
Que não restem dúvidas: quem está no poder não é gente de bem, nem de mais ou menos; não são apenas chicos espertos tocados pelo bichinho da ambição que se querem safar a eles e aos boys amiguinhos, são verdadeiros mafiosos de tudo capazes para destruir o que ainda lhes pode fazer frente, por menor que possa ser a sua força: a escola, a formação, a cidadania. Que não restem dúvidas que esta gente será capaz de todos os métodos - já se percebeu que não hesitam em fazer sentir a sua prepotência, mesmo que para isso ultrapassem a própria lei que impuseram- para perseguir quem se lhes opõe.
Mas não podemos ter medo, pois repentinamente a nossa luta já não é só e apenas a luta dos professores, é a luta da razão e do humanismo contra uma arrogância autoritária que lembra o pior que por aqui passou e faz temer um futuro de pesadelo orwelliano.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

o célebre despacho

Não queria ser aborrecido com estas questões legislativas. Bem sei que é apenas um excerto da lei, mas é o que diz respeito ao estatuto dos alunos – lei n.º 3/2008, de 18 de Janeiro, publicado na 1ª série.:
"Artigo 22.º
Efeitos das faltas
1 — Verificada a existência de faltas dos alunos, a
escola pode promover a aplicação da medida ou medidas
correctivas previstas no artigo 26.º que se mostrem
adequadas, considerando igualmente o que estiver contemplado
no regulamento interno.
2 — Sempre que um aluno, independentemente da
natureza das faltas
, atinja um número total de faltas
correspondente a três semanas no 1.º ciclo do ensino
básico, ou ao triplo de tempos lectivos semanais, por
disciplina, nos 2.º e 3.º ciclos no ensino básico, no ensino
secundário e no ensino recorrente, ou, tratando -se,
exclusivamente, de faltas injustificadas, duas semanas
no 1.º ciclo do ensino básico ou o dobro de tempos
lectivos semanais, por disciplina, nos restantes ciclos e níveis de ensino, deve realizar, logo que avaliados os efeitos da aplicação das medidas correctivas referidas
no número anterior, uma prova de recuperação, na disciplina
ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite,
competindo ao conselho pedagógico fixar os termos
dessa realização.
3 — Quando o aluno não obtém aprovação na prova
referida no número anterior, o conselho de turma pondera
a justificação ou injustificação das faltas dadas, o
período lectivo e o momento em que a realização da
prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados obtidos nas
restantes disciplinas, podendo determinar:
a) O cumprimento de um plano de acompanhamento
especial e a consequente realização de uma nova
prova;
b) A retenção do aluno inserido no âmbito da escolaridade
obrigatória ou a frequentar o ensino básico, a qual
consiste na sua manutenção, no ano lectivo seguinte, no
mesmo ano de escolaridade que frequenta;
c) A exclusão do aluno que se encontre fora da escolaridade
obrigatória, a qual consiste na impossibilidade
de esse aluno frequentar, até ao final do ano lectivo em
curso, a disciplina ou disciplinas em relação às quais
não obteve aprovação na referida prova.
Ora esta lei nunca faz diferenciação, em termos da realização de prova, dos alunos com faltas justificadas e injustificadas. Claro que está mal feita, claro que é uma aberração, claro que os alunos tinham todo o direito em ccontestá-la. Ela foi, aliás, objecto da contestação dos professores, em paritcular no que a esta não diferenciação de faltas justificadas e injustificadas diz respeito. A sua revogação é, pois, uma boa notícia. E foi isso o que a ministra quis fazer hoje, ao aperceber-se da estupidez desta lei. Assim, por despacho, considerou que :
(…)
Das faltas justificadas, designadamente por doença, não pode decorrer a aplicação de qualquer medida disciplinar correctiva ou sancionatória. (ao contrário do que é dito no ponto 1 do artigo 22 do estatuto)
2 – A prova de recuperação a aplicar na sequência de faltas justificadas tem como objectivo exclusivamente diagnosticar as necessidades de apoio tendo em vista a recuperação de eventual défice das aprendizagens.
3 – Assim sendo, a prova de recuperação não pode ter a natureza de um exame, devendo ter um formato e um procedimento simplificado, podendo ter a forma escrita ou oral, prática ou de entrevista.
4 – A prova referida é da exclusiva responsabilidade do professor titular de turma, no primeiro ciclo, ou do professor que lecciona a disciplina em causa, nos restantes ciclos e níveis de ensino.
5 – Da prova de recuperação realizada na sequência das três semanas de faltas justificadas não pode decorrer a retenção, exclusão ou qualquer outra penalização para o aluno, apenas medidas de apoio ao estudo e à recuperação das aprendizagens, sem prejuízo da restante avaliação.
(ao contrário do que é dito nas alíneas b) e c) do artº 22, que força a 3 tipos de medidas ponderadas pelo conselho de turma, sendo a menor a realização de nova prova)

Muito bem. Concordo perfeitamente. Mas há aqui um pequeno problema. O estatuto do aluno é uma lei aprovada na Assembleia da República. O despacho da senhora ministra é apenas… um despacho! Um despacho de uma ministra pode sobrepor-se a uma lei da assembleia? Se calhar, pode, já que este é o país de Sócrates, do "quero, posso e mando". E lembro que a lei foi aprovada pelos senhores deputados da maioria (ao que me lembro, pela totalidade dos deputados da maioria). Deveriam ser agora esses mesmos deputados que sustentam a maioria a engolir o sapo da sua mudança, já que o despacho contraria a lei, e não é apenas uma clarificação. E isso, todos podem ver.

Professores devem repensar a sua forma de luta

De acordo com notícia do iol a senhora ministra "cede aos alunos" no que respeita à aberração da realização de uma prova quando o aluno dá faltas justificadas. Gostaria de conhecer melhor este despacho que, segundo a mesma fonte, data de ontem, domingo, dia do senhor. Todavia noto, com agrado, uma cedência a manifestações de alunos com lançamento de ovos à mistura; manifestações essas que eram manipuladas, segundo insinuações da equipa ministerial, por aqueles que estavam "contra as reformas da educação"; enquanto isso, e em relação aos professores, mantém-se Maria de Lurdes Rodrigues firme na sua determinação.
Que devem agora os professores fazer: atirar ovos à ministra ou pedir aos alunos que estes exijam a suspensão da avaliação dos seus professores?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Esclarecimento (mais uma vez)

Acabo de ouvir "o expresso da meia-noite" na sic notícias. E ouço sempre mais do mesmo de supostos comentadores, experts, especialistas. Ouço que os professores não querem ser avaliados e que os sindicatos são intransigentes. Os ditos comentadores, especialistas, experts ou servem o poder ou não se preparam convenientemente ou são um pouco lerdos, perdoem-me a franqueza. Pelo que eu repito, enquanto professor:
Nós não queremos deixar de ser avaliados. Podem-nos avaliar à vontade. Mas não desta forma. Não que ela venha a ser injusta ou qualquer coisa do género. Só que ela está a desviar a nossa atenção, o nosso tempo, a nossa energia daquilo que nós precisamos de fazer: ensinar. Porque ela é, como já foi escrito "um delírio burocrático". É uma parvoíce pegada. É uma demência surrealista. Quem diz na TV, muito sabiamente, que todos os trabalhadores das empresas são avaliados (apesar da escola não ser uma empresa), que experimente aplicar esta avaliação a uma empresa. Verificará a sua irracionalidade confrangedora. É assustador como um ministério produziu semelhante monumento burocrático. Ultrapassa tudo o que já se tinha visto neste país com tanta tradição criativa nesta área. Não, por mais boa vontade que tenhamos, isto não vamos fazer. Desta forma, definitivamente, não.
E em relação aos sindicatos, note-se que desta vez não são os sindicatos a mobilizar professores. São os professores a puxar pelos sindicatos. Os sindicatos assinaram um memorando? Assinaram, sim senhor. E gora não o cumprem? Não o cumprem porque os seus professores não deixaram. Porque foram professores que espontaneamente convocaram a manifestação para Novembro, é fácil seguir-lhe a génese, que diabo! Os sindicatos foram arrastados e tiveram que ir atrás. O que se passa é que os nossos comentadores, experts, especialistas vão atrás da cartilha académica das corporações e cálculos eleitoralistas e não percebem que estamos perante um processo genuinamente democrático: são os trabalhadores que movem o sindicato e não o contrário. E assim é que deve ser. Naturalmente. A isto chama-se democracia, entendam de vez.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

(foto: "Rua de Alconchel")
A equipa ministerial responsável pela educação não quer saber que os professores se manifestem. Não ficam impressionados por 4/5 dos docentes virem para as ruas. Acham que isso é apenas uma manobra de intimidação, de chantagem, sobre o restante quinto que trabalha e faz andar a avaliação para a frente em todas as escolas (sim, porque a senhora ministra diz que a avaliação segue em todas as escolas). Já se percebeu que a equipa ministerial, defendida com aquela arrogância afectada do seu primeiro-ministro não discute sistemas de avaliação, como não discutiu nenhuma das suas medidas que têm lançado o caos nas escolas. Propõe em negociação porque antes decidiu e já está decidido. Não há nada a esperar de negociação, de greve ou de manifestação. As coisas serão como a ministra, género recente de déspota iluminado, pensou (que digo eu? pensou??). É um conceito limitado de democracia: decido porque fui a "escolhida" por um governo de maioria absoluta. Pensar que a democracia se esgota aquando da distribuição de votos, eu ganho, tu perdes, e agora eu faço o que quiser, não é ser-se democrático. Muito mais quando se despreza os "míseros votos" na expressão feliz do grande líder. Quando o espaço de intervenção do povo fica limitado ao depósito do voto numa urna, quando se desdenha com nojo de uma fatia da classe média intelectual e interventiva como são os professores, quando já não se disfarça a arrogância perante os mais fracos e se empola o servilismo perante os mais fortes, é a democracia que está em causa. A lei não existe só porque há uma maioria que vai bocejando num palácio chamado de São Bento, acenando améns a quem lhes garante o job e respectivas mordomias.

Por isso nada mais nos resta, a nós, professores, do que simplesmente não cumprir a lei.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

(professor na manifestação de 8 de Novembro, foto iol)
Já ninguém duvida do carácter patológico da ministra da educação. Tempos houve em que pensei que ela até tinha um qualquer projecto educativo, uma espécie de ideia académica que eu, na minha simplicidade, não conseguia atingir. Depois, julguei que afinal tudo o que fazia era apenas para poupar dinheiro. Vejo agora como estava enganado. Maria de Lurdes não tem ideias para a educação, nem sequer espírito economicista. Não tem nada. É apenas um tijolo obtuso que um truque de casting fez passar por ministra. Tudo o que a move é um ódio enorme contra os professores. Aquela conversa dos 4/5 de professores que não querem ser avaliados porque não querem é trabalhar estarem a intimidar as escolas cumpridoras, nem na velha memória das forças de bloqueio encontra paralelo, no que a estupidez diz respeito.

E depois veio logo o Sócrates a secundá-la, com a sua conhecida arrogância. Não ficam impressionados com cento e vinte mil professores na rua, não querem saber da opinião dessa cambada, fazem o que muito bem entenderem e estão-se nas tintas para os professores. Querem ir para a rua? Vão! Querem fazer greve? Façam, que se a greve causar perturbação temos sempre a requisição civil ou os serviços mínimos. Que resta então aos professores? Dentro do quadro democrático que os mesmos insistem -parvamente - em defender, nada! Há uma negociação fingida, está-se mesmo a ver; há um ignorar de argumentos e de presenças na rua. A única opção que parece estar a alastrar pelo profs é a sempre controversa desobediência civil. Nesse sentido, e pelo que vamos percebendo na net - que a comunicação social pouco diz a esse respeito -, existem muitos professores a não fazerem a sua parte enquanto avaliados ou avaliadores. É um caminho e não duvido que a senhora ministra tentará castigar exemplarmente todos os infractores.

Por isso, aconselho aos professores outro caminho: o da acção directa. É que neste sistema já não existe saída. Não há diálogo, não há respeito pelas outras ideias/opiniões/posições; não há aquilo a que muitos chamam a essência da democracia. A situação dos professores é apenas o microcosmos daquilo que se transformou o jogo de poder em Portugal, em que uma rica classe de mafiosos, protegidos pelo seu exército de boys e bufos faz o que muito bem lhe entende. E esta cambada de criminosos (são muito mais do que simples vegaristas ou aldrabões como, também erradamente, cheguei a pensar serem) perdeu a vergonha e a noção da decência.

Resta a esperança, já alvitrada, que os militares peguem de novo em armas e desta vez se deixem de revoluºões poéticas com flores. O que vai ser difícil, apenas porque pertencemos à União Europeia. É a primeira consequência verdadeiramente má dessa pertença. Mas, ao fim e ao cabo, em 1974 também pertencíamos à NATO.

É que, se calhar, nós podemos.

sábado, 25 de outubro de 2008

Criminosos (a propósito de José Saramago)

No seu “blogue”, José Saramago acusa de criminosos contra a humanidade os responsáveis directos pela crise financeira que mina as vidas da classe trabalhadora (a tal classe a que até o direito ao trabalho é negado). Não posso estar mais de acordo. Os grandes banqueiros, os gestores, os capitalistas de nome firmado e afirmado que gozaram os rendimentos que lhes prouveram da exploração do trabalho e da inocência das multidões reduzidas a esta servidão quase feudal em que se vai transformando o trabalho, são esses os primeiros responsáveis da suposta “crise” que chegou e, dizem os experts do costume, está para ficar. Mas também são responsáveis a cambada de governantes políticos que os serviram, os falsos jornalistas que lhes deram voz e defenderam o seu “neoliberalismo” como a solução única para o mundo, inspirados num “fim da história”, do heróizinho Fukuyama, que se revelou falso, os pequenos gestores de gebalis e afins, os boys dos partidos políticos, uma corja de medianos modernaços que aceitaram os desígnios da nova economia e que agora se lamentam das perdas sofridas (e que são as primeiras vítimas deste capitalismo selvagem).
Acrescenta José Saramago:

“Os criminosos são conhecidos, têm nomes e apelidos, deslocam-se em limusinas quando vão jogar o golf, e tão seguros de si mesmos que nem sequer pensaram em esconder-se. São fáceis de apanhar. Quem se atreve a levar este gang aos tribunais? Ainda que não o consiga, todos lhe ficaremos agradecidos. Será sinal de que nem tudo está perdido para as pessoas honestas.”

José Saramago tem razão.
E, ao que parece, também tem uma réstia de esperança neste sistema e nos tribunais, ou no seu espectáculo, para julgar estes criminosos. Eu já não tenho essa esperança, porque estes tribunais se transformaram numa farsa, braço judicial do poder do capital. Sem dúvida que o julgamento destes homens será dramaticamente feito pela história, e pela dimensão humana do sofrimento que esses senhores deixarão sobre nós e os vindouros. Mas tenho uma outra esperança. Uma esperança de ver o verdadeiro julgamento do povo, o julgamento da "rua", não tenho medo de o pronunciar, ser feito por este mesmo povo, porque a tolerância e o conformismo não duram sempre, e o momento pode estar próximo.
Que possamos viver de novo esse dia inteiro e limpo.
Hiperligação para o artigo de José Saramago:

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Professores, Sindicatos e Blogues: porquê o ódio?

Não tencionava voltar tão cedo a este tema, porque este não é um blogue que se pretenda dos problemas da educação ou, melhor dizendo, dos problemas profissionais dos professores (que inevitavelmente – e de que maneira! – afectam todo o edifício educativo). Todavia, o tema está em cima da mesa e notei que nos últimos dias as leituras deste blogue excederam em muito o habitual, pelo que acho deveria acrescentar qualquer coisinha.
No dia 14 de Outubro soube-se da marcação de uma manifestação para dia 8 de Novembro pela FENPROF. Havia já uma outra marcada por movimentos independentes e que terá nascido de forma espontânea, para 15 de Novembro. Nesse mesmo dia enviei um mail ao meu sindicato – o SPZS - a reclamar o facto e a acusá-lo de ser divisionista. Não obtive resposta. A resposta a esta questão que foi levantada por milhares de colegas neste país levou quase uma semana para ser respondida. Ontem, finalmente, consegui ter acesso a uma explicação de Mário Nogueira, ele mesmo. Ainda antes recebi uma coisa estranha e a roçar o surrealismo patético de um tal Jorge Silva, da Plataforma Sindical, e que afirmava sempre falar em nome próprio. As explicações do dia 8 procuram ser racionais: têm a ver com timings. O timing das reuniões e o timing da reunião suplementar. Segundo Jorge Silva, ainda com questões de estratégias secretistas: os nossos planos não podem ser públicos para não os revelarmos de antemão ao inimigo. Uma espécie de táctica castrense que, tanto quanto posso analisar, tem produzido poucos efeitos quando aplicado a esta luta sindical. Preferia que a acção sindical da Plataforma fosse transparente (e, já agora, com um pouco mais de exigência). Mas depois vêm as críticas: quem são os que convocaram a manifestação de dia 15? Será que não estão a soldo do ME? O que já fizeram eles, esses dos blogues, para bem da classe?
Reconheço que são perguntas legítimas, mas que, se pensarmos bem, era melhor que não fossem colocadas pois podem-se virar contra quem as lança. Os homens e mulheres dos blogues são pessoas, a maioria delas com nome e apelido conhecidos, que mantiveram acesa a chama do inconformismo. Foi a partir de muitos destes homens e mulheres que muitas escolas e colegas assumiram parar o processo de avaliação arriscando-se a processos disciplinares. Foram estes movimentos que mobilizaram milhares de colegas para a unidade. Não estou certo que os sindicatos tivessem conseguido muito mais do que isto, antes pelo contrário.
Mas não pretendo ter o discurso anti-sindical. Quem me conhece sabe que, nos últimos anos, tenho defendido os sindicatos nas minhas escolas contra algumas críticas que considerava despropositadas e injustas. São os sindicatos os nossos negociadores, a nossa organização. E estou convencido que se tivermos (tivéssemos) um sindicato forte, a nossa situação profissional será (seria) muito melhor. Eu próprio sou (era) sindicalizado desde o primeiro ano que leccionei. Só que, perdoem-me esta minha horrível pretensão, gosto de pensar por mim. E não aceito que os meus sindicatos têm sempre razão. Custa-me encaixar a questão das datas. Mas se elas são assim tão importantes, porque não tentaram, antes da marcação de dia 8, contactar as associações que têm a sua marcação para dia 15, e expor-lhes a situação, a ver se elas antecipavam a data e se fazia uma grande manifestação conjunta? Aí se veria se essas associações estão a soldo do ME (como o sr. Jorge Silva conseguiu imaginar), ou se são elas as divisionistas (e não os sindicatos). O pior que podemos ter agora são fracturas deste género, mas estamos a tê-las. Repudio as afirmações anti-sindicalistas sistemáticas de alguns colegas, mas não consigo compreender este ódio dos sindicatos aos professores que escrevem na blogosfera. Pois se a única explicação para este último facto será o querem ser os movimentos sindicais os únicos representantes dos professores, os únicos que falam por eles. E esse princípio é inaceitável. Deixem-nos este espaço para dizermos o que nos vai na alma e, se for caso disso, para nos organizarmos. Não tem que haver ódio, nem dor de corno, dos sindicatos aos professores que se expressam na blogosfera, eles são mais uma arma na nossa luta. (noto que eu próprio não me englobo nesse grupo já "o telhado do Gato Esteves" não pretende ser um blogue centrado na educação).
Uma vez que não pude encontrar o mail do colega Olavo que aqui deixou um post, gostaria de lhe referir que não tenho por hábito escrever sobre o que não sei. Pretendo antes escrever sobre o que penso, mesmo que esteja errado. Como já referi, a primeira atitude que tomei foi contactar, por escrito, o meu sindicato (do qual já fui delegado). Quanto a plenários, nada houve na minha escola, nem, ao que consegui saber, no concelho de Odemira (mas se houvesse, e com a avalanche de trabalho que existe neste momento nas escolas, ser-me-ia difícil ir). Mas, como afirmou, temos de nos manter unidos. E se os sindicatos me convencerem da sua justeza e, sobretudo, honestidade, estarei disposto a reconsiderar a minha posição.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A traição sindical

Custa-me a crer aquilo que se passa na luta sindical dos professores. Ou, dizendo melhor, na luta dos professores.
Para os muitos leitores deste blogue que não são professores (que serão a a maioria, pelo que me é dado a entender), passo a sintetizar a história:
No dia 8 de Março, se bem se lembram, houve 100 mil professores nas ruas de Lisboa; equivalia a 2/3 do número total de profissionais. Perante todo este capital de protesto, o melhor que os sindicatos conseguiram foi o adiamento do processo de avaliação por um ano. Caiu-nos tudo em cima neste Setembro. As escolas andam atafulhadas em trabalho burocrático, o mais ridículo da avaliação revelou-se; isto tudo é impraticável, cresceu o descontentamento, houve demissões, houve escolas que assumiram a paragem do processo sob riscos disciplinares (veja-se o caso de Ourique). E os movimentos sindicais quase calados. Surgiram associações diversas, de forma mais ou menos espontânea, a maior parte criadas em torno de blogues da net. Alguém lançou a ideia de se fazer uma manifestação no dia 15 de Novembro. A ideia pegou. No espaço de poucos dias recebi emails de 14 colegas a falar no assunto. Perante este movimento espontâneo, houve uma convocatória “oficial” de uma manifestação para Lisboa dia 15. Esta iniciativa acabou por pertencer aos novos movimentos de professores.
E eis que surgem então os sindicatos. Temendo esta manifestação, que partiu genuinamente dos próprios profissionais que eles representam, a FENPROF, em vez de se associar à jornada de luta, convocou uma outra para dia 8, uma semana antes. Obviamente que não tiveram coragem para a fazer uma semana depois.
A direcção da FENPROF, personalizada no seu líder Mário Nogueira, revelou o seu sentido altamente divisionista. No momento em que mais precisávamos, os sindicatos trairam-nos. Mas não foram apenas divisionistas. Foram cobardes, ao assinalar esta data uma semana antes. E a covardia, todos o sabem, a covardia é o pior dos defeitos que um sindicato pode ter.
Fiz hoje o que não poderia deixar de fazer: abandonei o meu sindicato, o SPZS, ao qual pertencia desde 1992.
Não sei qual das manifestações vai acontecer. Qual vai ser maior. Por mim, e para já, decidi ir à de 15 de Novembro. Será duro para nós organizar tal coisa contra a máquina da fenprof, mas teremos de ganhar. Quanto a estes sindicatos, penso que acabaram de ser engolidos pela própria ganância.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Certificação e Qualificação"

Posso saber, através de uma ferramenta do google - o google analytics - algumas informações sobre as vistas do meu blogue. Foi dessa forma que descobri que tive onze visitas nos últimos dois meses em buscas do google com a expressão "diferenças entre certificação e qualificação" ou, simplesmente, "certificação e qualificação". Hoje, em conversa com um colega, lembrei-me de uma história - e de um acontecimento presente -, que ilustram bem essa diferença. Fica então aqui a história verídica para futuras investigações sobre o tema (já que o google aponta este modesto blogue nessas buscas) ou para reflexão dos leitores habituais:
Há alguns anos -penso mesmo que antes desta ofensiva da ASAE - houve uma inspecção no tasco que é hoje o "snack-bar da Julinha" e que fica por baixo daquele que foi um dia o telhado do Gato Esteves. Não me lembro do nome que tinha na altura. Mas sei que aqui cozinhava uma senhora com excelente mão para o petisco: a Dona Palmira. Não era muito velha, a Dona Palmira. Talvez um pouco mais velha do que eu, o que quer dizer que, nos dias de hoje, não deve ainda chegar aos cinquenta. Acontece que esta senhora, devido a contingências da vida, não tinha estudado. Nascera aqui perto de São Teotónio, lá para a serra, e nunca havia ido à escola. Portanto não sabia ler. Ora nessa inspecção de trabalho descobriu-se este pormenor da vida da senhora. Tratou-se de um pormenor importante e que levou ao seu despedimento: na cozinha não podia trabalhar quem não soubesse ler. Compreende-se: tem que lidar com ingredientes vários e datas de validade, é uma questão de saúde dos fregueses, paciência. Custou-me sabê-lo e lamentei mais uma vez a vida que nunca sorriu à Dona Palmira. A senhora teve de regressar à sua terrinha e mergulhar numa difícil agricultura de subsistência (descobri há pouco que ela vende uma galinhas e ovos caseiros pela calada a um sítio que não digo o nome em público). A sua substituta foi uma rapariga mais nova que abusava do sal - maltratando assim a tensão da clientela -, e tinha muita pressa em terminar os petiscos, o que desafiava as boas práticas do bem passado e, sobretudo, da comidinha bem apurada (suspeito que foi esta troca de cozinheira que levou ao trespasse do estabelecimento pouco tempo depois). Mas apesar do meu lamento pelo que sucedeu à boa Dona Palmira, compreendi a situação. Quem não sabe ler não possui qualificação para desempenhar a função de cozinheira. Não tinha certificado de escola primária, não sabia de facto ler, logo não era qualificada para aquele lugar público.
Na minha conversa de hoje com um colega, soube que há neste momentos alunos do 5º, do 6º e do 7º ano que são não-leitores. Ou seja, alunos que já fizeram mais do que a 4ª classe e que não sabem ler; que não descodificam o que aquilo quer dizer, ou que, simplesmente, não conseguem ler. No actual estado do ensino (as dificuldades pedagógicas, o não reprovar mais de uma vez por ciclo, etc.) vão suceder mais situações deste género num futuro próximo. Ou seja: teremos indivíduos que possuem certificados de escolaridade que dizem que sabem ler, mas na verdade não têm essa qualificação. E então será vê-los a trabalhar onde quer que seja, até numa cozinha do snack-bar da Julinha (esperemos que aqui não, vão lá para o Tavares Rico ou para o restaurante frequentado por uma sinistra pessoa) a mexer em latas e embalagens de ingredientes que só conhecem pela cor (estou em crer que a Dona Palmira os conhecia pelo cheiro) e dos quais não conseguem ver a data de validade.
É o triunfo estatístico na educação.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Novamente o casamento entre homossexuais.

Já aqui coloquei um post a este respeito, faz hoje precisamente uma semana. Mas continuo impressionado: parece que mais de metade dos deputados socialistas são a favor do casamento entre homeossexuais. Todavia votaram contra por causa da disciplina de voto. São rapazes respeitadores das ordens que lhes são enviadas pelo grande guru e líder que garante os "jobs for the boys."
Mas nós não votamos em deputados? Os deputados não nos representam? Não têm pensamento? O pensamento é o cérebro do partido, é exclusividade daquele senhor que não aceita lições de democracia de ninguém, ele mesmo uma espécie de encarnação sob a forma humana das palavras liberdade e progresso? Depois admiram-se quando aumenta a abstenção e o povinhol não acredita na democracia, que chatice esta coisa da pólítica! Sinceramente, esta coisa do grande líder pensante decidir quando é que há lugar na agenda para os homossexuais poderem ter os mesmos direitos dos heterossexuais faz-me impressão. Lembra-me os piores líderes do século XX, um estalinezeco reciclado.
Quais os custos económicos dessa decisão para o país? zero. É convicção da maioria que os homossexuais deviam poder casar? É. Mas votam não. E porquê? Porque não é uma questão de convicção. É apenas por causa da agenda, ou seja: é puramente uma questão de votos. Traduzindo: uma questão de "jobs for the boys". Ficámos assim a saber que as consciências se submetem aos interesses mesquinhos para conseguir mais um lugarzinho no parlamento, mais um posto para a mulher na direcção-geral, mais um cargo para o camarada no instituto de interesse público, mais um "job" para a grande família que com os seus tentáculos nos vai sugando. E quando as consciências se submetem desta forma à vontade do grande líder, que temos nós, pessoas de consciência, à nossa espera?
O silêncio em nome do grande líder, do interesse do grupelho, nada tem a ver com democracia. Não é democracia. Isto é uma forma de governo mafiosa, uma mascarada. .
E quando a máfia assume o poder desta forma, só de lá pode ser tirada de uma maneira.

domingo, 5 de outubro de 2008

Cavaco poeta

Já ouvi quem se queixasse da falta de sensibilidade artística dos políticos de hoje em dia: que eles não lêem, não têm cultura geral, não distinguem um Picasso de um calendário de barbearia (para lembrar uma comparação de Virgilio Ferreira).
Nada mais errado! Ouça-se este delicioso momento do nosso presidente da república. Ao nível dos melhores poetas bucólicos europeus. Deixo aqui o link para o meu companheiro bloguista "cicuta", pois pode acontecer que a alguns dos meus leitores tenha escpapado este delicioso momento cultural.

http://cicuta-fresca.blogspot.com/2008/10/o-homem-um-poeta.html

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O casamento entre pessoas do mesmo sexo

A maioria vai votar contra a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo. A maioria é socialista e o líder da maioria já disse várias vezes que “não aceita lições de ninguém”. Não aceita lições em termos de democracia e socialismo, gosta de repetir o líder da maioria. E agora a maioria não vota a lei que autorizaria pessoas do mesmo sexo a casar por causa da “agenda política”. Não é que não concorde com a medida, um partido de esquerda como o PS até é um partido de causas, mas agora a agenda não dá mesmo jeito nenhum.
Na minha insensibilidade para estas coisas complicadas que são a distribuição racional dos temas e medidas políticas na sua correcta ordem cronológica, não consigo perceber a coisa. Nem sequer consigo perceber que os homossexuais não possam casar. Presumia que tal seria um direito constitucional, aquela coisa da igualdade e não descriminação que fazia parte da constituição. Mas pelos vistos não é assim, ou já não faz parte da constituição, foi-se embora numa daquelas revisõezinhas que nos apanharam distraídos. E agora não casam mesmo, diz o ex-líder dos anos sessenta à portuguesa e chefe da bancada maior, Alberto Martins, sob indicação inteligente e determinada do"maioral". A culpa é da agenda, não é de direito ou de discriminação, nada disso.
É complicado esta coisa de agendar isto e aquilo e os homessexuais terão de esperar pelo seu espaço numa página lá mais para a frente do colossal livro de planificações políticas do engenheiro, depois se verá. Não são os únicos. Os desempregados, a classe média, a classe menos que média, os professores, os enfermeiros, os funcionários públicos, o precariozinho, o carteiro que me deixa as cartas, o bancário da gravata, a justiça (a social e a outra), o sistema nacional de saúde, as urgências cá da terra e de outras terras, as reformas, todos nós de um modo geral, temos de esperar ordeira e sossegadamente na grande fila que pretende um lugarzinho na agenda do grande líder. Obedientemente, sossegados, sem fazer ondas, para que ele vá despachando e cumprindo firmemente o seu traçado. Um dia chegará a nossa vez, espera-se. Porque agora a agenda tem muitas inaugurações com escolas, computadores e encontros com empresários de nome mundial. E ainda mais a crise financeira. Essa chatice logo agora que merece toda a nossa atenção, enche a agenda, fá-la transbordar de contactos e conferências, encontros, reuniões importantes, quiçá um novo acordo daqueles importantes, pode ser que até consigamos assinar um Tratado em Castelo Branco, que belo nome ele teria, mais um sucesso para o país. Sacrifemo-nos como servos fiéis a esta agenda que nos poderá trazer glória e nome além fronteiras, agora que os irlandeses nos lixaram o feito do tratado de Lisboa.
E para que fiquemos tranquilos quanto ao cumprimento célere e eficaz da sua planificação o PS (que não aceita, e muito bem, lições de democracia de ninguém) assegura a disciplina de voto no seu partido, não vá alguém manchar e gatafunhar a sua metódica organização agendal.
(...)
Valha-nos que o Benfica ganhou ao Nápoles.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Resposta ao triste post (todos têm direito a esses momentos) que me antecede.

Confesso que fiquei deveras preocupado com o último post do Fernando Évora. Uma triste lamentação que não augura nada de bom, antes uma depressãozita que deriva num desnorte inexplicável em tão racional ser. Obrigavam-me os deveres da longa amizade que temos a retorná-lo ao caminho certo. A abrir-lhe os olhos, tirá-lo daquela turvez de pensamento. Não o pretendia fazer aqui, publicamente. Esperei por ele durante toda a semana no snack-bar da Julinha, ali debaixo daquele que um dia foi o telhado do gato Esteves. Em vão. Pelos vistos esta angústia existencial que perpassa a sociedade portuguesa e na qual ele se deixou embalar levou-o para longe deste antro. Foi pena. Vejo-me, pois, sem outra alternativa do que lhe chamar à razão nesta “blogosfera”, local mais frio, além de que público, do que como esperaria: naquela mesa lá do fundo defronte duma cervejinha, ou do gin tónico que ele tanto aprecia. Ainda pensei fazer um simples comentário. Mas tive medo de passar demasiado despercebido e optei por esta via mais espampanante.
A razão da minha apreensão é simples: o rapaz ainda acredita na democracia! Ainda acredita que este sistema pode trazer a solução ao mundo que se vai degradando em desfavor dos pobres e dos remediados, alimentando a avidez (até o Sócrates se descuidou e falou de “ganância”, ele que até dessa forma pareceu um menino de coro cheio de boas intenções para com os pobrezinhos) dos grandes. Até o Marx, que não era propriamente um suprasumo (super-sumo como diria o Luís Filipe Vieira) da inteligência, tinha previsto isto há um porradão de anos. É apenas a avidez do grande capital a chupar o tutano da malta (o Zeca diria, naquela bela canção que juntos cantámos numa fogueira da Fuzeta, os vampiros a chupar o sangue da manada). E o Fernando Évora, desiludido por não encontrar um partidozeco defensor daquela linha meia-tinta que deixa o capitalismo avançar mas que dá o remedeio suficiente para pão e circo aos pobres, declara assim publicamente: eu até votei nestes gajos que estão no poder (ou seja: na pior direita que governa o país desde o 25 de Abril), mas fui enganado pela ideologia, promessas e tal, e agora vou votar (ou voltar a votar) na esquerda tradicionalista. Óh rapaz, isto está mais que visto. Não é só o sistema capitalista (é melhor chamar-lhe mesmo liberal) que está a dar o berro numa crise financeira. Essa crise é uma repetição da outra de 29. É a própria democracia, que criou as condições para o triunfo dessa minoria que ganha com o liberalismo, que falhou. Isto não é o poder do povo. Os partidos não têm ideologia. São apenas o veículo para o grande capital controlar o poder político. E para isto já não há solução. A única solução é mesmo a Revolução Mundial, com muito sangue a jorrar. Lamento dizê-lo, pois isso fere a minha anterior existência e desejo de viver num mundo hippie, à volta duma fogueira (que bom seria que a fogueira da Fuzeta fosse a fogueira eterna) com guitarras, flores no cabelo e uns cigarrinhos de erva a rodar. Mas chegámos a um ponto de não retorno. É que com a queda do muro de Berlim estes capitalistas perderam todo o pudor. Mas estão condenados ao fracasso, pois a sua avidez leva-os a tudo perder. Nós, e os nossos filhos e os que atrás de nós e deles vierem) apenas vamos arrastados nessa fantástica asneira que desafia qualquer racionalismo de qualquer ciência social..
E tenho dito, pá. Aparece aqui pelo snack-bar da Julinha que eu te explico melhor se for preciso (não será, que tu és um rapazola inteligente e bem intencionado; mas aparece só pelo prazer da companhia de um copo, que sei que aprecias tanto como eu).

sábado, 20 de setembro de 2008

O Sr. Alberto João, os 20% de "comunas" e um arrependimento pessoal.

O senhor Alberto João Jardim mostrou-se espantado por 20% dos portuguese manifestarem intenção de votar comunista nas próximas eleições, chamando "comunistas" ao tradicional PC (mascarado de CDU) mais o Bloco de Esquerda. E acrescentou que tal seria insólito na Europa. Mas mais: considerou que os direitos dos trabalhadores portugueses continuam a ser "violados" perante o encolher de ombros de uma burguesia "inculta".
Goste-se ou não do Sr. Alberto João, ele está cheio de razão, embora desta vez só tenha constatado o óbvio para grande parte dos portugueses. Com este discurso, e ao afirmar que os direitos laborais estão a ser "violados", mostrou que afinal tinha um princípio social-democrata (pelo menos ideologicamente, já que no que respeita a liberdade de opinião a Madeira apresenta alguns problemas). Estranho? Não me parece, já que o que aconteceu nos últimos anos é que este PS virou tanto à direita que um personagem como o Alberto João está claramente à sua esquerda. Veja-se o facto da aplicação parcial da avaliação de professores na Madeira: avaliação sim senhor, mas sem quotas, quem merecer sobe, quem não merecer não sobe. Não é um bom modelo de avaliação, mas é uma fórmula bem mais justa e, sobretudo, sensata.
Hoje mesmo, na "rentrée" do PS, o 1º ministro apareceu em mangas de camisa a dizer que era de esquerda. Chego a pensar que a sua ignorãncia é tamanha que chega mesmo a pensar que é de esquerda porque não usa gravata e é pela despenalização do aborto, ou simplesmente porque o seu partido tem "socialista" no nome. Fez um discurso inflamado com vagas influências chavezianas. Mas isso não lhe tira o facto de nos últimos anos a vida ter piorado, a precariedade se ter transformado em regra e os lucros das empresas ligadas ao grande capital aumentado. Foi, sem dúvida, uma política de direita, a mais à direita que alguma vez houve em Portugal, capaz de despertar em Paulo Portas uma descontrolada e sentida inveja (nota-se na postura uma pontinha de depressão por ter perdido o seu espaço).
Devo dizer, e com isto dou a razão e a explicação ao sr. Alberto João, que nas últimas eleições votei no PS. Aquando da determinada luta deste governo contra os professores (o seu ódio aos professores levou a que esta luta tivesse descambado numa luta contra a educação em geral) fui várias vezes, pelo sr. primeiro-ministro e pelos analistas em geral, apelidado de "comunista". Isso de quem contestava a ministra da educação eram os comunistas, ou então manobrados por esses espíritos maquiavélicos sempre a perturbar o normal funcionamento das instituições democráticas, sempre a quererem pôr um pedrinha na engrenagem. Esta ideia manteve-se até à célebre manifestação de 8 de Março, com cem mil "comunas" (para usar o termo tão do agrado de Alberto João) nas ruas. O "Expresso" desse mesmo dia, e com a tradicional falta de sensibilidade jornalística, trazia uma crónica de Fernando Madrinha a reafirmar a ideia de comunistas a salivar ódios e a semear a violência que marchavam pelas ruas de Lisboa, uma outra crónica com as parvoíces brejeiras do Miguel Sousa Tavares e uma extensa entrevista com a Ministra da Educação; o sr. Emídio Rangel apelidava-nos então de hooligans. Depois desse dia deixaram de nos chamar comunistas, se calhar por sermos tantos, se calhar porque esses opinion makers, analistas e especialistas começaram a ver que tínhamos razão, era racionalmete incontornável. Mas desde esse dia que eu fiquei com a certeza que nas próximas eleições estaria cá do lado da esquerda, desses partidos que, dizem os entendidos, não são partidos de poder. E então quem são os partidos de poder? São os partidos do poder económico que nos conduziram a esta situação. Porque os outros partidos servem afinal um status quo de lucros escandalosos das grandes empresas enquanto nós, força de trabalho, temos de trabalhar mais por menos, sujeitar-nos a deslocalizações e flexibilizações do horário de trabalho porque esses são os mesmos desígnios da economia que permitem aos grandes gestores auferirem chorudos prémios de desempenho, comprar McClarens de mais de quinhentos mil euros, viver em condomínios de luxo fechados ao mundo exterior e á criminalidade violenta que com a sua vivência estimulam sem saber. Não acredito nessas inevitabilidades da economia. Portanto, senhor Alberto João, qual o espanto de sermos 20%? E se não houvesse o controlo que há sobre a comunicação social e a tentativa de se continuar a criar um povo ignorante, seríamos muito mais. Como seremos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Menos Estado, Melhor Estado?

Recebi, de fonte fidedigna, o seguinte programa de festas do dia 15 de Setembro, dia em que se iniciaram a maior parte das actividades docentes. Até onde ainda tive força para o comprovar, estava todo muito certinho:
"Programa:
10h30 - Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho (Paulo Campos, secretário de Estado das Obras Públicas) - FIGUEIRA DA FOZ
Escola Profissional de Desenvolvimento Rural do Rodo (Jaime Silva,
Ministro da Agricultura) - PESO DA RÉGUA

11h - Escola Secundária José Gomes Ferreira (José Sócrates, Primeiro-Ministro, e Valter Lemos, secretário de Estado da Educação) - LISBOA
Escola Portuguesa de Moçambique (Augusto Santos Silva, Ministro dos Assuntos Parlamentares) - MAPUTO
Escola Secundária Almeida Garrett (Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação) - VILA NOVA DE GAIA

14h30 - Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa (Rui Sá Gomes, secretário de Estado da Administração Interna) - SERPA .

15h - Escola Secundária Tomás Cabreira (Jorge Pedreira, secretário de Estado Adjunto e da Educação) - FARO
Escola Secundária de Amarante (Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação) - AMARANTE
Escola Secundária Miguel Torga (Paula Fernandes dos Santos, secretária de Estado da Cultura) - BRAGANÇA
Escola Secundária Dom Manuel Martins (Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo) - SETÚBAL
Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (Alberto Costa, Ministro da Justiça) - CALDAS DA RAÍNHA.
Escola Secundária José Estevão (Maria Leitão Marques, secretária de Estado da Modernização Administrativa) - AVEIRO

15h30 - Escola Secundária de Gouveia (Eduardo Cabrita, secretário de Estado Adjunto e da Administração Local) - GOUVEIA
Escola Secundária S. Pedro do Sul (Mário Lino, Ministro das Obras Públicas) - SÃO PEDRO DO SUL
Escola Secundária Alberto Sampaio (António Braga, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas) - BRAGA
Escola Secundária do Pombal (José Miguel Medeiros, secretário de Estado da Proteção Civil) - POMBAL

16h - Escola SecundáriaNun'Álvares (Gonçalo Castilho, secretário de Estado da Administração Pública) - CASTELO BRANCO
Escola Secundária com 3.º Ciclo de Estremoz (Francisco Nunes Correia, Ministro do Ambiente) - ESTREMOZ
Escola Secundária Júlio Martins (Ascenso Simões, secretário de Estado da Protecção Civil) - CHAVES
Escola Secundária da Lourinhã, (Ana Jorge, Ministra da Saúde) - Lourinhã

18h - Escola Secundária Artur Gonçalves (Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social) - TORRES NOVAS
Escola Secundária de Ponte de Lima (Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros) - PONTE DE LIMA

19h - Escola Básica e Secundária de Alter do Chão + Escola Profissional de Alter do Chão (Filipe Batista, secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro) - ALTER DO CHÃO."
E ocorreu-me perguntar: então não havia a promessa de "menos Estado/melhor Estado"? De poupança dos dinheiros do nosso orçamento? Ou isso é só para os malandros dos funcionários públicos? Estas deslocações às escolas em quanto é que importam para o erário público? Quanto dinheiro é gasto nestas deslocações em ajudas de custo aos senhores governantes e suas comitivas consumistas de beberetes e flores? O que fica por fazer nas escolas quando se gasta tanta energia nas recepções condignas a estes senhores? Ou será que estou a exagerar? Será que tanta deslocação é mesmo boa para a nossa educação? Será que há tanto jornalista para cobrir isto tudo e daí colher benefícios indirectos (não sei muito bem do quê)? Porque será que mais ninguém fala neste exagero?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Recordações do ciclo preparatório.

Hoje foi o primeiro dia de aulas da minha filha como aluna do 5º ano. Mudou, pois, de escola e de sistema. Terá sido um dia importate na sua carreira de aluna.
Evoco - ando muito evocativo, deve ser do Outono -, os tempos em que também eu passei para o 2º ciclo. Na altura dizia-se 1º ano do Ciclo Preparatório. Estávamos em Outubro de 1975, porque então as aulas começavam em Outubro e não em Setembro, como agora. E no início do ano lectivo a maioria dos professores ainda não tinham sido colocados. Havia, por isso, muitos “furos”, mas nós preferíamos o nome menos contaminado de “feriados”. E quando tínhamos feriado não havia aulas de substituição. Lá ficávamos nós perante os perigos das crianças sozinhas e entregues a si próprias: jogávamos futebol, brincávamos as escondidas, a apanhada, ao mata, jogávamos ao berlinde (fiquei sem nenhum: perdi-os todos ao perde-paga) saíamos livremente da escola sem o ocultar a ninguém e íamos comprar rebuçados, chocolates, bolos atascados em creme e outras porcarias a uma vendedora ambulante (Dona Adélia?) ou a um café estilo tasca que ficava ali perto (hoje a ASAE já o teria fechado, tal como a Associação de Pais teria expulso a Dona Adélia); alguns de nós bebiam uma laranjada, uma gasosa, um fruto real; partilhávamos as bebidas com os colegas e amigos; confesso mesmo que, pela calada, chegámos a comprar um maço de tabaco (marca Ritz) entre todos os rapazes da turma e fumámos o maço durante um feriado (era sempre a despachar, ninguém queria levar o maço de tabaco para casa). Os feriados eram tantos que tivemos que inventar histórias e brincávamos as Revoluções (havia o MFA e os fascistas, eu fazia de almirante Rosa Coutinho pois nessa altura queria ser marinheiro), as guerras (que eram os alemães contra os aliados, eu gostava de fazer de um capitão que estava preso dos alemães e cujo nome começava por K, não me lembro agora, era uma série que dava a noite), aos jogos de mímica (havia um concurso na TV de mímica), mais tarde a vaca Cornélia, realizámos eleições e manifestações. Tudo na brincadeira. Alguns dos mais velhos de nós já se atiçavam nas brincadeiras com as moças (era uma experiência nova, a minha escola primária tinha sido só de meninos); também frequentávamos a Biblioteca onde líamos livros dos cinco e dos sete (e outras coisas, lembro-me que no meu segundo ano do ciclo fui lendo, inteirinho, o Ivanhoe do Walter Scott na biblioteca do meu ciclo). Cresci e aprendi muito com os meus amigos nesses feriados. Fui-me moldando naquilo que sou hoje. Nos feriados e nas aulas, que me lembro muito bem de algumas das aulas que tive no ciclo. Lembro-me de uma aula de Português do 1º ano (actual 5º) onde analisámos o Guernica; uma outra onde escutámos o “operário em construção” (no 2º); das aulas de Estudos Sociais, das de Músca (a professora era muito disciplinadora, a Carlota), de fazer BD em Desenho, de como adorei a esmirna em trabalhos manuais. Mas, repito: fui moldado pelas aulas e pelos feriados. Estes ensinaram-me a ser solidário, a aceitar a derrota, a fazer amigos e companheiros; estimularam-me a imaginação; ajudaram-me a descarregar a minha energia e fantasia de criança.
Penso na minha filha. Ela já não terá os meus feriados. Cada falta, uma aula de substituição. Saberão que sou professor e poderão pensar: “O gajo está para aqui com esta conversa mas não quer é fazer aulas de substituição; não quer trabalhar que é o que os professores antigamente não faziam, sempre a faltar, com montes de férias. Esta ministra é que os pôs na ordem!” (outros julgar-me-ão apenas um bacoco saudosista). Acreditem-me que não é esse o meu fito. Acredito sinceramente que as crianças precisam de liberdade, que devem estar juntas sem adultos por perto, perante os perigos de ficarem entregues a si mesmas. Acho até que é na falta dos feriados que reside uma porção da explicação do seu comportamento ter +piorado tanto nos últimos anos. As crianças de hoje não sabem estar sozinhas, não sabem o que fazer se não receberem ordens ou conselhos em algum sentido. Transformar-se-ão em adultos obedientes e não-pensantes, seres amorfos dispostos a receber ordens. E aí estarão, finalmente, atingidos os objectivos desta política educativa.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma rebuscada estupidez

Esta tarde, ao regressar do trabalho, ia escutando as notícias da Antena 1 quando soube de um senhor que tinha sido baleado no interior de uma esquadra da polícia de Portimão. Depois, e no desenvolvimento da referida notícia, aquela estação de rádio transmitiu as sábias palavras do ministro da tutela, Rui Silva Pereira.
Confesso que fiquei confuso com a estranha analogia que o senhor ministro foi desencantar. Tomou-me inclusivamente uma sensação de incredulidade mas depois lembrei-me de Mário Lino e Manuel Pinho e voltei a confiar nos meus sentidos: ele devia mesmo ter dito aquilo que eu tinha ouvido.
Chegado a casa quis ouvir o Telejornal. Da notícia de Portimão, sim senhor, um homem baleado. Mas das sábias palavras de Rui Silva Pereira, népia. Foi então que vim à net e ainda apanhei parte dessas palavras no iol (o censor estaria a jantar e deixou passar?). Não eram todas as palavras do insigne magistrado, mas estava lá o essencial e fiz um copy/paste que estas notícias tendem a desaparecer depressa. Aqui fica um excerto para não julgarem que invento:

O ministro da Administração Interna comparou esta terça-feira o caso do baleado numa esquadra de Portimão com o homicídio de Lee Harvey Oswald, o susposto (sic) assassino de John F. Kenney (sic), à entrada para a sala de tribunal.
«Como sabem Lee Harvey Oswald foi baleado mortalmente no tribunal quando estava acompanhado por dezenas de polícias do FBI»,


Quase que não valeria a pena fazer qualquer comentário tal o surrealismo da comparação dos casos, certamente dignos de uma análise do foro psicanalítico. Rui Silva Pereira acha portanto normal que se seja baleado numa esquadra da polícia de Portimão quando situação semelhante aconteceu num tribunal há 45 anos nos supostamente seguros Estados Unidos da América, exemplo máximo de eficácia policial, na sequência do assassinato de um Presidente. Claro que não lhe interessa o misterioso contexto deste assassinato americano e as suspeitas mais do que fundadas de que a morte de Lee Oswald resultou da acção da própria polícia secreta americana, a CIA ou mesmo o próprio… FBI (que o protegia). O intricado daquela situação e o momento americano de então estão longe de poderem ser dados como elementos de referência de segurança pois nos anos seguintes continuou o assassinato do clã Kennedy e de outros “perigosos” americanos como Martin Luther King ou Malcolm X. Mais à frente na notícia e para que não subsistam dúvidas sobre a capacidade analítica do ministro:
Na comparação, Rui Pereira explicou o que queria dizer quando recordou este pedaço da História norte-americana: «O que eu queria dizer é que não é normal o que aconteceu na esquadra de Portimão, mas não prova a ineficácia da acção policial».”
Oh, senhor ministro: então um homem baleado no interior duma esquadra não prova ineficácia policial? Isto não é coisa nova, sr. ministro, já aconteceram coisas semelhantes há bem pouco tempo nas nossas esquadras policiais. Claro que não houve eficácia policial, sr. ministro. Vá dizê-lo ao senhor que foi baleado: “eh, pá, estás a ver que a ti aconteceu-te o mesmo que ao Lee Oswald há 45 anos atrás e nos Estados Unidos da América. Azar o teu …”Como certamente não esteve bem a polícia norte-americana que deixou matar (ou matou) o Lee Oswald. Lá por ter acontecido nos States não quer dizer que a polícia seja a melhor do mundo.
A comparação de Rui Silva Pereira é uma rebuscada estupidez. A menos que o Sr. quisesse ir mais longe na sua comparação e pretendesse traçar um paralelo entre o Portugal mafioso de hoje com a América mafiosa dos anos sessenta (para o que parece concomitar a estranha ausência de referência dos órgãos de comunicação social às palavras do ministro). Mas mesmo assim… Continuar a demonstrar a estupidez desta analogia parece-me ser claramente um insulto à inteligência dos leitores deste blogue. Estamos perante um ministro na linha Lino-Pinho, mas mais dado à história norte-amercana, que não deve ter estudado bem.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A propósito dos assaltos

Desde sempre o crime exerceu sobre mim um grande fascínio, como alguns leitores mais atentos compreenderão. Trata-se da minha costela anarquista e da sedução Robin dos Bosques (não confundir com a apropriação, cheia de falsidade, deste herói pelo governo). Na minha adolescência desejei mesmo vir a ser um Clyde Barrow na América da Depressão. As semelhanças entre aquele momento e os de agora são flagrantes. Mas faltou-me sempre a coragem determinante para enveredar pelo mundo do assaltante de bancos (ou terá sido, quiçá, por nunca ter encontrado a minha Bonnie) e o máximo que fiz em termos de roubo foi fugir duns bares e discotecas sem pagar a conta. Mas nunca deixei de sentir uma pontinha de solidariedade pelo ladrão de bancos. Torço por ele, do mesmo modo que torço pelo touro na tourada. Tanto numa como noutra torcida, são raras as vezes que a minha equipa ganha. Compreendam-me: a dúvida sobre o maior dos ladrões é evidente: o assaltante ou o banco propriamente dito?
Vem isto a propósito do aumento da criminalidade no país. Os motivos são evidentes e por certo não se prenderão com o desempenho económico altamente positivo do governo, nem com o hercúleo esforço realizado pelo mesmo no campo da educação. Outro colaborador deste blogue insinuou que o sinal havia sido dado com as dificuldades criadas na prisão preventiva. Soube hoje que Portugal é o país da União Europeia com menos presos preventivos (o que será mais um motivo de orgulho para a obra legislativa deste governo). Mas também temos que juntar a isto o interesse das “oportunidades de negócio”, de que me falou o Luís Bonito num mail. Claro: tudo são oportunidades de negócio. Lembra-me a triste história da aplicação da pena de morte na cadeira eléctrica nos EUA ter sido conseguida pela pressão de duas empresas concorrentes de electricidade. Então como agora, dominava no mundo este Liberalismo desenfreado e desumano que até na morte vê uma oportunidade de negócio.
Ladrões maus roubam as bombas de gasolina (quando as gasolineiras aumentam os preços perante a baixa do petróleo: afinal quem é o maior ladrão?). É claro que não roubam directamente as gasolineiras. Os revendedores que se orientem e as empresas de segurança que aproveitem a "oportunidade de negócio". Tudo isto é absolutamente ridículo. E para mudar vai ser preciso sangue. Que não falte então a coragem.

domingo, 31 de agosto de 2008

Assim vai o meu país

Acabaram-se as férias. Regresso a este país onde, como dizia o meu amigo Paulo Costa, “continuar a viver é um sinal de incrível resistência”. Ligo o telejornal para ouvir melhor as notícias que tinha escutado aqui e ali lá por fora: a situação no Cáucaso, as eleições americanas, o recrudescer dos atentados no Afeganistão. Em vez desses assuntos deparo-me com mais uma característica acção lusa: para combater a crescente criminalidade e insegurança que abala o país utiliza-se a acção policial em grande escala e devidamente noticiada com grande estrondo nos media. Hoje, as notícias das tvs eram as operações nos bairros problemáticos e nas estradas. Operações não dirigidas a alvos específicos, note-se. Cercaram as franjas dos bairros e toca de revistar pessoal, mandam parar os carros e sopra aí e deixa lá ver se levas um haxixe ou uma coca, mostra os documentos para ver se é roubado. Com isto, e como afirmava um responsável da polícia, pretende-se dar a “sensação de segurança às pessoas”. Não houve um ataque claro ao crime organizado, aos clãs e “redes”, muito menos à corrupção que vai alimentando o poder (será que o grande problema está nos “bairros problemáticos” ou nas máfias que neste país se reúne em hotéis de luxo e apartamento milionários?). Nada disso: disparou-se ao calhas para o meio de um bando de pássaros dos mais pequeninos que o objectivo não é acabar com a criminalidade, é apenas dar a “sensação” de segurança, contemos com a ajuda da televisão. Nem ouço falar de combater outro género de criminalidade que é que decorre do empobrecimento do país; do empobrecimento material e educativo. Pois faz sentido: se o que se pretende é apenas “dar a sensação” convém que o povo seja relativamente estúpido para não perceber o resto, a realidade. Os resultados de tão terrível acção nocturna de fim-de-semana que mobilizou um apreciável número de forças da ordem foi altamente positivo, como se referiu: uma pistola ilegal, outra também ilegal mas de imitação, uns rapazes que andavam a vender Haxixe, alguns condutores com excesso de álcool, outros com falta de documentos e destaca-se a impotante notícia (logo ao minuto quatro do telejornal da 1, o que revela a sua superior relevância no combate à criminalidade) da descoberta de seis raparigas brasileiras ilegais que andavam em casas duvidosas de Vila Viçosa e Borba. Uma foi mesmo detida e as outras notificadas. Ai as criminosas!
Já ninguém na Tv, ninguém nos jornais, jornalista ou analista, opinion-maker ou especialista, lembra outras medidas governativas na área. Por exemplo, aquela que dificulta a prisão preventiva.
Hoje, dia 31 de Agosto, o país fiou mais seguro e a criminalidade dificilmente se recomporá após este duro golpe.

sábado, 16 de agosto de 2008

A TV e os Jogos Olímpicos

Apenas um pequeno lamento de férias, ntes de partir para local mais aprazível que este belo país:
Desde criança que sigo atentamente os Jogos Olímpicos. Tinha somente sete anos quando o Mark Spitz ganhou as sete medalhas. Esse acontecimento, a par com a ideia de grande confusão que aconteceu em Munique quando decorria o ano d 1972, serão os acontecimentos desportivos mais antigos que guardo na memória.
Gosto de muitos desportos, se bem que tenha os meus preferidos: o futebol do meu Benfica em primeiro lugar, o ciclismo, o Atletismo. E, de um modo geral, todos os desportos colectivos: em particular o volei, mas também o Basquete e o Andebol.
Tudo isto para dizer que aguardo sempre as Olimpíadas com enorme interesse, pois posso não saber quem é o actual campeão mundial de Volei feminino, mas recordo sempre os sucessos da selecção cubana neste desporto, ou as olimpíadas onde as peruanas mostraram uma enorme alegria de jogo. São os momentos em que fico feliz à frente da televisão e me ponho a par do mundo do desporto. Em suma: gosto de fruir os Jogos Olímpicos.
Daí a minha desilusão deste ano. Estava à espera de poder seguir os jogos via TV, até porque agora dispunha de muitos canais… Erro tremendo de candura! A nossa RTP, seguindo a sua tendência degradante, passa umas coisinhas na RTP2, na 1 muito poucas, o grosso na RTPN, que é só para quem tem cabo, pois claro, que os outros não devem gostar de desporto, se querem paguem! Mas aquilo é volei de praia em monte, muito mais que o volei “verdadeiro”, esgrima em cagalhão, jogos de Andebol ainda não vi nenhum (será que isso é ir ao encontro do público?). Uma triste cobertura dos JO! Uma irritação para mim. E a sportTV, que nos cobra balúrdios, a transmitir, durante este período, jogos de rugby feminino de praia, a equipa do técnico contra outra faculdade qualquer, acho que veterinária. São estas as leis do mercado? Valha-me a eurosport, de borla para quem tem cabo, que é aquela que mais sintonizo nesta altura.
Entretanto começou outro evento que me enche as medidas: a volta a Portugal. Que a RTP aproveitou para acentuar a sua vocação pimba no programa “Hà volta” com a apresentação da estrela João Baião, e no qual podemos assistir ao que mais de piroso se vai fazendo neste país cuja economia apresenta, segundo a estatística e para felicidade dos analistas de pacotilha, resultados altamente positivos em contraciclo com a União Europeia.
Eu é que gosto de dizer mal e de me andar sempre a lamentar. Até quando tenho os Jogos Olímpicos para me distrair.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Medicina popular

Ele há coisas esquisitas. Aqui no snack-bar da Julinha, mesmo por baixo do Telhado do Gato Esteves, costuma vir uma personagem estranha e que defende métodos curativos raros, se bem que não comprovados. Contra a tendência geral do nutricionismo académico (e também da corrente mais empírica, tenho de concordar) centra a sua atenção nas preferências do utilizador (nome mais moderno de que paciente e cliente). Assim, e partindo da máxima “Para tratares do teu corpo, vai procurar ao porco”, a nossa Vercegina Maria Lúcia propôs-me tratar as complicações decorrentes dum tardio nascimento de um dente do siso (aos quarenta e sete, imagine-se) com um assado de bochechas de porco acompanhadas de batatas a murro (o Rochinha propôs igualmente um “Bom Juiz", de Reguengos, sugestão que em bom tempo acatei).
(….)
E não é que resultou! Acabou-se de novo, e milagrosamente, o siso.
Acrescentou-me a curandeira Vercegina algumas receitas práticas que aqui deixo aos interessados:
- uma boa feijoada feita a partir de cabeça de porco é um excelente antidepressivo, contribuindo também para um desenvolvimento da memória, graças ao fósforo, e para uma melhoria generalizada dos sistemas respiratório e digestivo nas suas partes superiores (e, reconhecidamente da parte mais inferior do último). Deve-se incluir sempre neste prato o chouriço para evitar os problemas de estômago que surgem sempre que se trata uma doença da cabeça.
- Para as dores de costas aponta-se como solução as costeletas grelhadas ou o lombo de porco no forno acompanhados com maçãs (para garantir uma boa garganta, problemas que costuma surgir nesta cura) e salada montanheira algarvia (em homenagem à terra da Vercegina).
- Para o pé boto e unhas encravadas, pezinhos de coentrada antecedidos, no caso do segundo mal, por uma entrada de percebes.
- males de ouvidos, a óbvia salada de orelha, se tomada com insistência, acaba por produzir os seus resultados.
- Iscas curam problemas hepáticos.
- problemas de sangue, chouriço preto.
- problemas de consciência derivados de pecados da carne, chouriço vermelho (nos casos mais graves, para exorcizar, o chouriço deve ser assado em lume vivo). Isto além, e como é claro, da tal feijoada que é vocacionada para todos os males de foro psíquico-psiquiátrico.
- lesões musculares ou do menisco, contraídas no perigoso mundo do desporto em geral ou do futebol em particular, são combatidas com ingestão maciça de presunto.
- o pernil de porco embeleza as pernas femininas e masculinas, tonificando-as e enrijecendo-as.
- um assento do carro feito em pele de porco previne as Hemorróidas.
- por fim, e por hoje, os problemas de impotência masculina são eficazmente combatidos por túbaros com ovos mexidos.
Acrescenta a Vercegina Maria Lúcia que está disponível para ser contactada, mediante a minha pessoa e de forma absolutamente gratuita, sobre outros e particulares males.