sábado, 20 de setembro de 2008

O Sr. Alberto João, os 20% de "comunas" e um arrependimento pessoal.

O senhor Alberto João Jardim mostrou-se espantado por 20% dos portuguese manifestarem intenção de votar comunista nas próximas eleições, chamando "comunistas" ao tradicional PC (mascarado de CDU) mais o Bloco de Esquerda. E acrescentou que tal seria insólito na Europa. Mas mais: considerou que os direitos dos trabalhadores portugueses continuam a ser "violados" perante o encolher de ombros de uma burguesia "inculta".
Goste-se ou não do Sr. Alberto João, ele está cheio de razão, embora desta vez só tenha constatado o óbvio para grande parte dos portugueses. Com este discurso, e ao afirmar que os direitos laborais estão a ser "violados", mostrou que afinal tinha um princípio social-democrata (pelo menos ideologicamente, já que no que respeita a liberdade de opinião a Madeira apresenta alguns problemas). Estranho? Não me parece, já que o que aconteceu nos últimos anos é que este PS virou tanto à direita que um personagem como o Alberto João está claramente à sua esquerda. Veja-se o facto da aplicação parcial da avaliação de professores na Madeira: avaliação sim senhor, mas sem quotas, quem merecer sobe, quem não merecer não sobe. Não é um bom modelo de avaliação, mas é uma fórmula bem mais justa e, sobretudo, sensata.
Hoje mesmo, na "rentrée" do PS, o 1º ministro apareceu em mangas de camisa a dizer que era de esquerda. Chego a pensar que a sua ignorãncia é tamanha que chega mesmo a pensar que é de esquerda porque não usa gravata e é pela despenalização do aborto, ou simplesmente porque o seu partido tem "socialista" no nome. Fez um discurso inflamado com vagas influências chavezianas. Mas isso não lhe tira o facto de nos últimos anos a vida ter piorado, a precariedade se ter transformado em regra e os lucros das empresas ligadas ao grande capital aumentado. Foi, sem dúvida, uma política de direita, a mais à direita que alguma vez houve em Portugal, capaz de despertar em Paulo Portas uma descontrolada e sentida inveja (nota-se na postura uma pontinha de depressão por ter perdido o seu espaço).
Devo dizer, e com isto dou a razão e a explicação ao sr. Alberto João, que nas últimas eleições votei no PS. Aquando da determinada luta deste governo contra os professores (o seu ódio aos professores levou a que esta luta tivesse descambado numa luta contra a educação em geral) fui várias vezes, pelo sr. primeiro-ministro e pelos analistas em geral, apelidado de "comunista". Isso de quem contestava a ministra da educação eram os comunistas, ou então manobrados por esses espíritos maquiavélicos sempre a perturbar o normal funcionamento das instituições democráticas, sempre a quererem pôr um pedrinha na engrenagem. Esta ideia manteve-se até à célebre manifestação de 8 de Março, com cem mil "comunas" (para usar o termo tão do agrado de Alberto João) nas ruas. O "Expresso" desse mesmo dia, e com a tradicional falta de sensibilidade jornalística, trazia uma crónica de Fernando Madrinha a reafirmar a ideia de comunistas a salivar ódios e a semear a violência que marchavam pelas ruas de Lisboa, uma outra crónica com as parvoíces brejeiras do Miguel Sousa Tavares e uma extensa entrevista com a Ministra da Educação; o sr. Emídio Rangel apelidava-nos então de hooligans. Depois desse dia deixaram de nos chamar comunistas, se calhar por sermos tantos, se calhar porque esses opinion makers, analistas e especialistas começaram a ver que tínhamos razão, era racionalmete incontornável. Mas desde esse dia que eu fiquei com a certeza que nas próximas eleições estaria cá do lado da esquerda, desses partidos que, dizem os entendidos, não são partidos de poder. E então quem são os partidos de poder? São os partidos do poder económico que nos conduziram a esta situação. Porque os outros partidos servem afinal um status quo de lucros escandalosos das grandes empresas enquanto nós, força de trabalho, temos de trabalhar mais por menos, sujeitar-nos a deslocalizações e flexibilizações do horário de trabalho porque esses são os mesmos desígnios da economia que permitem aos grandes gestores auferirem chorudos prémios de desempenho, comprar McClarens de mais de quinhentos mil euros, viver em condomínios de luxo fechados ao mundo exterior e á criminalidade violenta que com a sua vivência estimulam sem saber. Não acredito nessas inevitabilidades da economia. Portanto, senhor Alberto João, qual o espanto de sermos 20%? E se não houvesse o controlo que há sobre a comunicação social e a tentativa de se continuar a criar um povo ignorante, seríamos muito mais. Como seremos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou como tu, cada vez mais acho que o Alberto João tem uma política mais à esquerda que a do actual desgoverno.
Não tenho de me arrepender porque nunca votei PS, nem nas Autárticas.
Olinda