sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A propósito dos assaltos

Desde sempre o crime exerceu sobre mim um grande fascínio, como alguns leitores mais atentos compreenderão. Trata-se da minha costela anarquista e da sedução Robin dos Bosques (não confundir com a apropriação, cheia de falsidade, deste herói pelo governo). Na minha adolescência desejei mesmo vir a ser um Clyde Barrow na América da Depressão. As semelhanças entre aquele momento e os de agora são flagrantes. Mas faltou-me sempre a coragem determinante para enveredar pelo mundo do assaltante de bancos (ou terá sido, quiçá, por nunca ter encontrado a minha Bonnie) e o máximo que fiz em termos de roubo foi fugir duns bares e discotecas sem pagar a conta. Mas nunca deixei de sentir uma pontinha de solidariedade pelo ladrão de bancos. Torço por ele, do mesmo modo que torço pelo touro na tourada. Tanto numa como noutra torcida, são raras as vezes que a minha equipa ganha. Compreendam-me: a dúvida sobre o maior dos ladrões é evidente: o assaltante ou o banco propriamente dito?
Vem isto a propósito do aumento da criminalidade no país. Os motivos são evidentes e por certo não se prenderão com o desempenho económico altamente positivo do governo, nem com o hercúleo esforço realizado pelo mesmo no campo da educação. Outro colaborador deste blogue insinuou que o sinal havia sido dado com as dificuldades criadas na prisão preventiva. Soube hoje que Portugal é o país da União Europeia com menos presos preventivos (o que será mais um motivo de orgulho para a obra legislativa deste governo). Mas também temos que juntar a isto o interesse das “oportunidades de negócio”, de que me falou o Luís Bonito num mail. Claro: tudo são oportunidades de negócio. Lembra-me a triste história da aplicação da pena de morte na cadeira eléctrica nos EUA ter sido conseguida pela pressão de duas empresas concorrentes de electricidade. Então como agora, dominava no mundo este Liberalismo desenfreado e desumano que até na morte vê uma oportunidade de negócio.
Ladrões maus roubam as bombas de gasolina (quando as gasolineiras aumentam os preços perante a baixa do petróleo: afinal quem é o maior ladrão?). É claro que não roubam directamente as gasolineiras. Os revendedores que se orientem e as empresas de segurança que aproveitem a "oportunidade de negócio". Tudo isto é absolutamente ridículo. E para mudar vai ser preciso sangue. Que não falte então a coragem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Subscrevo a 200%
Mais, quase cheguei a pensar em procesá-lo por plágio!
O meu discurso, sobre o tema em questão - incluindo mesmo os touros - não é idêntico, é o mesmo!
É bom sabermos que não estamos sós!