terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma rebuscada estupidez

Esta tarde, ao regressar do trabalho, ia escutando as notícias da Antena 1 quando soube de um senhor que tinha sido baleado no interior de uma esquadra da polícia de Portimão. Depois, e no desenvolvimento da referida notícia, aquela estação de rádio transmitiu as sábias palavras do ministro da tutela, Rui Silva Pereira.
Confesso que fiquei confuso com a estranha analogia que o senhor ministro foi desencantar. Tomou-me inclusivamente uma sensação de incredulidade mas depois lembrei-me de Mário Lino e Manuel Pinho e voltei a confiar nos meus sentidos: ele devia mesmo ter dito aquilo que eu tinha ouvido.
Chegado a casa quis ouvir o Telejornal. Da notícia de Portimão, sim senhor, um homem baleado. Mas das sábias palavras de Rui Silva Pereira, népia. Foi então que vim à net e ainda apanhei parte dessas palavras no iol (o censor estaria a jantar e deixou passar?). Não eram todas as palavras do insigne magistrado, mas estava lá o essencial e fiz um copy/paste que estas notícias tendem a desaparecer depressa. Aqui fica um excerto para não julgarem que invento:

O ministro da Administração Interna comparou esta terça-feira o caso do baleado numa esquadra de Portimão com o homicídio de Lee Harvey Oswald, o susposto (sic) assassino de John F. Kenney (sic), à entrada para a sala de tribunal.
«Como sabem Lee Harvey Oswald foi baleado mortalmente no tribunal quando estava acompanhado por dezenas de polícias do FBI»,


Quase que não valeria a pena fazer qualquer comentário tal o surrealismo da comparação dos casos, certamente dignos de uma análise do foro psicanalítico. Rui Silva Pereira acha portanto normal que se seja baleado numa esquadra da polícia de Portimão quando situação semelhante aconteceu num tribunal há 45 anos nos supostamente seguros Estados Unidos da América, exemplo máximo de eficácia policial, na sequência do assassinato de um Presidente. Claro que não lhe interessa o misterioso contexto deste assassinato americano e as suspeitas mais do que fundadas de que a morte de Lee Oswald resultou da acção da própria polícia secreta americana, a CIA ou mesmo o próprio… FBI (que o protegia). O intricado daquela situação e o momento americano de então estão longe de poderem ser dados como elementos de referência de segurança pois nos anos seguintes continuou o assassinato do clã Kennedy e de outros “perigosos” americanos como Martin Luther King ou Malcolm X. Mais à frente na notícia e para que não subsistam dúvidas sobre a capacidade analítica do ministro:
Na comparação, Rui Pereira explicou o que queria dizer quando recordou este pedaço da História norte-americana: «O que eu queria dizer é que não é normal o que aconteceu na esquadra de Portimão, mas não prova a ineficácia da acção policial».”
Oh, senhor ministro: então um homem baleado no interior duma esquadra não prova ineficácia policial? Isto não é coisa nova, sr. ministro, já aconteceram coisas semelhantes há bem pouco tempo nas nossas esquadras policiais. Claro que não houve eficácia policial, sr. ministro. Vá dizê-lo ao senhor que foi baleado: “eh, pá, estás a ver que a ti aconteceu-te o mesmo que ao Lee Oswald há 45 anos atrás e nos Estados Unidos da América. Azar o teu …”Como certamente não esteve bem a polícia norte-americana que deixou matar (ou matou) o Lee Oswald. Lá por ter acontecido nos States não quer dizer que a polícia seja a melhor do mundo.
A comparação de Rui Silva Pereira é uma rebuscada estupidez. A menos que o Sr. quisesse ir mais longe na sua comparação e pretendesse traçar um paralelo entre o Portugal mafioso de hoje com a América mafiosa dos anos sessenta (para o que parece concomitar a estranha ausência de referência dos órgãos de comunicação social às palavras do ministro). Mas mesmo assim… Continuar a demonstrar a estupidez desta analogia parece-me ser claramente um insulto à inteligência dos leitores deste blogue. Estamos perante um ministro na linha Lino-Pinho, mas mais dado à história norte-amercana, que não deve ter estudado bem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é, não sonhaste porque eu também ouvi isso.
Penso que quando não sabem explicar os factos, usam figuras de estilo para baralharem o pessoal.
Olinda