quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Aleixo faz hoje anos

Hoje faz anos António Aleixo. Nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de Fevereiro de 1899, há exactamente 110 anos.
António Aleixo marcará para sempre o meu imaginário. Professores que tive, relatos que ouvi de quem o conheceu, fazem com que seja alguém familiar na minha vida. É uma sensação de dejá vu: sinto que com ele convivi, que o vi a vender cautelas no Aliança, sinto-lhe o cheiro a miséria e tuberculose; conheço-lhe quadras de cor, dou por mim a pensar nelas quando me deparo no quotidiano da vida com as mais banais das situações.
Já percebi que António Aleixo não é persona querida para muitos. Na sua maioria, os meus colegas de português não o apreciam, quiçá demasiado presos ao academismo da literatura erudita. Noto que passa mais um aniversário em que Aleixo é esquecido pela comunicação social culta. Vai sendo cada vez mais normal. Há mais de um ano pretendi comprar, para oferecer, a obra de António Aleixo. Descobri como é difícil adquirir neste momento os seus livros – apenas descobri o clássico “Este livro que vos deixo” da casa das letras e não consegui encontrar o “Inéditos” (o meu preferido). É pena, pois acho que a morte de Aleixo faz parte da morte do país que amo (amei?).
Para lhe provar a sabedoria, deixo-vos umas quadras, e depois digam-me se não são tão actuais:

(ao BPN:)
A ninguém faltava o pão
Se este dever se cumprisse
Ganharmos em relação
Com o que se produzisse

(À minha ministra:)
Há tanto burro a mandar
em homens de inteligência
que, às vezes, chego a pensar
Que a burrice é uma Ciência!

(Sem comentários, que regressamos a período pré-eleitoral:)
Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes, esqueceste
tudo quanto prometias...

(E esta que me lembra – vá-se lá saber porquê, o meu último post “virgem ofendida”)
Riem doutras com desdém
Certas damas bem vestidas;
Quantas, para se vestir bem,
Se despem ás escondidas!

(talvez seja porque:)
Nas quadras que a gente vê,
quase sempre o mais bonito
está guardado pr'a quem lê
o que lá não está escrito.

Grande poeta é Aleixo!
(lembro, ao fechar este post, o tal concuros dos “Grandes portugueses”. Alguém votou em Aleixo? Acaso não terá sido ele ………?)

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