quarta-feira, 2 de abril de 2008

É Abril outra vez

Já é Abril. Não consigo ficar indiferente a Abril. Lembro-me que ele chegou de novo quando vou no meu carro para Colos e vejo as flores que começam a florir; quando me distrai o voo picado de uma andorinha; quando vejo o sorriso das crianças mais pequenas na escola. Lembro sempre é Abril outra vez. Quem dera que voltasse.
Era criança. Talvez que as sensações fossem distorcidas por ser criança, mas lembro um sentimento de vitória nos adultos como nunca mais vi; de esperança; o futuro era nossa pertença e inequívoco; os afagos dos grandes eram mais doces, os seus abraços e beijos carregavam com eles um calor húmido de alegria. Foi euforia. Mas uma euforia de serenidade e deleite.
Herdei Abril em criança, e trago-o dentro de mim, num cantinho do peito. Como um pássaro que tombou do ninho e que recolhi para cuidar, nesta minha esperança infantil que um dia voará de novo.
Quem dera voltasse a sério, e não só assim, revelado nas flores, nas andorinhas e nos sorrisos das crianças. Que despontasse em todos nós como um espasmo colectivo de felicidade. Que voltasse o Abril dos prodígios. Da pureza. Que bom seria se fosse verdadeiramente Abril outra vez, e não só esta saudade de futuro.

5 comentários:

Anónimo disse...

Talvez por também ter sido criança pela mesma altura (tinha 9 anos na Revolução dos cravos), também sinto um tremorzinho no peito por Abril. Mas não se iluda: estamos longe de ser muitos a senti-lo

Elsa Lobão disse...

Eu também o sinto... cada vez mais!

Anónimo disse...

Ups... enganei-me, se tenho alguma coisa para dizer, quero fazê-lo em meu nome (devidamente identificada). É um dos princípios essenciais de Abril, não ter medo de falar!

Anónimo disse...

Caro anónimo

Penso que seremos mais, muitos mais, a sentir Abril... Penso até que seremos todos, ao fim e ao cabo, na medida em que todos somos, hoje, produto de Abril!

Contudo, Abril tem de ser transmitido aos mais jovens, àqueles que nunca viveram senão em liberdade... e que pensam que Portugal sempre viveu assim!

Viver em Democracia é realmente uma sensação fantástica, e os mais jovens nem se apercebem que há pouco mais de uma ou duas gerações a vida em Portugal era tão medieva e retrógada!

E é uma obrigação nossa, acredito, a de lhes inculcar nos seus neurónios menos virtuais, que tantos e tantos houve que sofreram e lutaram contra algo que eles nem em sonhos poderão imaginar - ter que viver em ditadura, com uma polícia política e uma sociedade fechada, onde o medo andava no ar...

Enfim, será, como alguns dizem, uma prova de maturidade democrática esta tão feliz indiferença à democracia e res publica...?!

Quem viveu o 25 de Abril, fosse mais ou memos crescido, NUNCA se poderá esquecer do efeito daquele vendaval de ar fresco que se nos abriu para nós, para TODOS nós...

Por isso, digo: Abril, SEMPRE!!!

Anónimo disse...

Ups, parafraseando a Elsa Lobão

Ia dizer o meu nome, mas penitencio-me... por motivos vários, não estou para tal. Talvez porque o que não esteja revelado seja mais interessante, ou intrigante, não me identifico, ora essa! Mas, vá lá, por ser Abril, faço uma pequena concessão. O meu outro nome é Zé do Piano (o nosso Amigo Gato de Odemira saberá quem sou, e isso satisfaz-me...)!

Um grande Abração ao Évora, e cumprimentos sérios (seriíssimos) a todos os passeantes neste Telhado, que em boa hora abrigou o Gato Esteves.