quinta-feira, 12 de junho de 2008

Vamos poder trabalhar mais!

O desemprego sobe. A economia parece que desacelera (acho piada a estes vocábulos da ciência económica). Há revoltas de trabalhadores: professores, pescadores. Até de alguns pequenos patrões como os camionistas. A classe média (os pequenos patrões também são classe média) proletariza-se sob o peso da dívida (que me parece que é o que vai sustendo a economia: a nossa dívida que engrossa o capital à banca). Estalam até conflitos com forças policiais. Já surgem mortos (o tempo dirá se serão mártires).
E no meio de tudo isto, qual a reacção estrutural da comissão europeia? Herdeira de todo o passado humanista que se reconhece ao continente decreta a possibilidade do horário laboral se poder estender até 65 horas por semana. De uma inteligência que não consigo alcançar. Quando falar da sociedade industrial do século XIX aos meus alunos, quase não haverá diferenças para a actualidade, isto além das teccnológicas.
Vamos poder trabalhar mais! Ai que bom! (já o disseram à Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues?)

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Fernando,

Como sempre desde que comecei a ler os seus saborosos e sentidos textos, identifico-me com a sua indignação, subscrevo as suas denúncias e partilho os seus estados de espírito. E a sua apreciação quanto à questão de fundo subjacente à nova lei europeia sobre o tempo de trabalho não é excepção.
Apenas me permito clarificar um aspecto, ressalvando desde já que nada nem ninguém me liga aos senhores comissários europeus. É que, desta vez (e não é a primeira), os maus da fita são um grupo de governos nacionais, liderado pelos liberais do costume - Reino Unido e países do Centro e do Leste da Europa.
Como lhe competia, o orgão executivo da UE ou Comissão Europeia, tirou as devidas consequências pondo no papel as ideias dolorosa e infelizmente dominantes entre os ministros dos Estados membros do clube. Não foi por não tentar ao longo dos último quatro anos, que a Comissão(que é suposto fazer aquilo que as capitais lhe dizem para fazer!) não logrou arrancar do Conselho de Ministros (a instituição mais poderosa da União) uma posição mais consentânea com a defendida pelos sindicatos europeus e por aqueles governos, como o português, mais receosos do "dumping social", desta feita em minoria. Com este mau acordo, a porta da deslocalização industrial ainda está mais escancarada!
Pior ainda: a Comissão, à qual compete velar pela compatibilidade entre aquilo que os ministros e os eurodeputados aprovam em definitivo e o Direito comum aos Vinte e Sete, era obrigada a ter em conta o sentido das várias decisões dos tribunais, onde uma maioria de juízes parece favorável à corrente do "deixem fazer, deixem passar".
No máximo, a Comissão apenas podia, e conseguiu encorajada pelo campo dos derrotados, reforçar a condicionalidade imposta à ultrapassagem do limite das 48 horas semanais.
Resumindo e concluindo: o setôr de História Fernando e os sortudos dos seus alunos têm todas as razões do mundo para se inquietarem. Só que os ovos e os tomates podres é para atirar em primeira instância à cara dos responsáveis políticos ELEITOS sensíveis aos cantos das sereias do "mercado, mercado, mercado sem travões".
Daí a minha proposta: por favor, nas próximas eleições europeias de Junho de 2009, vamos todos votar resolutamente à esquerda do espectro político.
Acreditem: é tão importante votar nas Europeias quanto nas eleições nacionais, isto porque mais de 80 por cento das leis que nos governam são acertadas pelo governo português em conjunto com outros 26 governos de países parceiros. A ideia é colocar de novo em minoria na Europa as forcas políticas que defendem os interesses da élite dos todo-poderosos em detrimento da qualidade de vida da grande maioria dos cidadãos.
Impossibilitados de viver entre nós, de nós e só para nós, como sucedeu até Portugal deixar de dispôr de um império colonial, nós precisamos de contribuír activamente para travar a Globalização desregulada. Só a Europa dispõe de massa crítica para a domesticar, que é como quem diz, para devolver aos políticos o poder que perderam para as multinacionais e para os mercados financeiros.
Outra coisa: se o Tratado de Lisboa, nova cartilha europeia, entrar em vigor no início do próximo ano, os cidadãos comuns como nós devem usar e abusar de duas novas alavancas de democracia: o direito de mandar para trás propostas de leis europeias que sejam ou rejeitadas por pelo menos 1 milhão de Europeus de mais do que um Estado-Membro (coisa fácil) ou rejeitadas por vários parlamentos nacionais, os quais passam a poder intervir desde logo antes de as leis serem oficializadas.
OK, poderão não ser tão espectaculares quanto a arma do referendo, mas conto com os sindicatos e outras coligações de boas vontades para os usarem a 100 por cento!

Alexandra Lobão

Anónimo disse...

A guerra ainda não acabou, ainda há esperança:

Ainda há a possibilidade de o Parlamento Europeu vetar esta proposta de lei.
Ora, numa primeira tomada de posição ainda não definitiva, uma maioria de eurodeputados exigira a supressão, num prazo de três anos, de todas as excepções à regra geral das 48 horas semanais.

Portanto Eurodeputados, temo-vos debaixo de olho. Contamos convosco. Não se esqueçam que há eleições dentro de um ano!

Alexandra