sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O casamento entre pessoas do mesmo sexo

A maioria vai votar contra a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo. A maioria é socialista e o líder da maioria já disse várias vezes que “não aceita lições de ninguém”. Não aceita lições em termos de democracia e socialismo, gosta de repetir o líder da maioria. E agora a maioria não vota a lei que autorizaria pessoas do mesmo sexo a casar por causa da “agenda política”. Não é que não concorde com a medida, um partido de esquerda como o PS até é um partido de causas, mas agora a agenda não dá mesmo jeito nenhum.
Na minha insensibilidade para estas coisas complicadas que são a distribuição racional dos temas e medidas políticas na sua correcta ordem cronológica, não consigo perceber a coisa. Nem sequer consigo perceber que os homossexuais não possam casar. Presumia que tal seria um direito constitucional, aquela coisa da igualdade e não descriminação que fazia parte da constituição. Mas pelos vistos não é assim, ou já não faz parte da constituição, foi-se embora numa daquelas revisõezinhas que nos apanharam distraídos. E agora não casam mesmo, diz o ex-líder dos anos sessenta à portuguesa e chefe da bancada maior, Alberto Martins, sob indicação inteligente e determinada do"maioral". A culpa é da agenda, não é de direito ou de discriminação, nada disso.
É complicado esta coisa de agendar isto e aquilo e os homessexuais terão de esperar pelo seu espaço numa página lá mais para a frente do colossal livro de planificações políticas do engenheiro, depois se verá. Não são os únicos. Os desempregados, a classe média, a classe menos que média, os professores, os enfermeiros, os funcionários públicos, o precariozinho, o carteiro que me deixa as cartas, o bancário da gravata, a justiça (a social e a outra), o sistema nacional de saúde, as urgências cá da terra e de outras terras, as reformas, todos nós de um modo geral, temos de esperar ordeira e sossegadamente na grande fila que pretende um lugarzinho na agenda do grande líder. Obedientemente, sossegados, sem fazer ondas, para que ele vá despachando e cumprindo firmemente o seu traçado. Um dia chegará a nossa vez, espera-se. Porque agora a agenda tem muitas inaugurações com escolas, computadores e encontros com empresários de nome mundial. E ainda mais a crise financeira. Essa chatice logo agora que merece toda a nossa atenção, enche a agenda, fá-la transbordar de contactos e conferências, encontros, reuniões importantes, quiçá um novo acordo daqueles importantes, pode ser que até consigamos assinar um Tratado em Castelo Branco, que belo nome ele teria, mais um sucesso para o país. Sacrifemo-nos como servos fiéis a esta agenda que nos poderá trazer glória e nome além fronteiras, agora que os irlandeses nos lixaram o feito do tratado de Lisboa.
E para que fiquemos tranquilos quanto ao cumprimento célere e eficaz da sua planificação o PS (que não aceita, e muito bem, lições de democracia de ninguém) assegura a disciplina de voto no seu partido, não vá alguém manchar e gatafunhar a sua metódica organização agendal.
(...)
Valha-nos que o Benfica ganhou ao Nápoles.

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