sábado, 25 de outubro de 2008

Criminosos (a propósito de José Saramago)

No seu “blogue”, José Saramago acusa de criminosos contra a humanidade os responsáveis directos pela crise financeira que mina as vidas da classe trabalhadora (a tal classe a que até o direito ao trabalho é negado). Não posso estar mais de acordo. Os grandes banqueiros, os gestores, os capitalistas de nome firmado e afirmado que gozaram os rendimentos que lhes prouveram da exploração do trabalho e da inocência das multidões reduzidas a esta servidão quase feudal em que se vai transformando o trabalho, são esses os primeiros responsáveis da suposta “crise” que chegou e, dizem os experts do costume, está para ficar. Mas também são responsáveis a cambada de governantes políticos que os serviram, os falsos jornalistas que lhes deram voz e defenderam o seu “neoliberalismo” como a solução única para o mundo, inspirados num “fim da história”, do heróizinho Fukuyama, que se revelou falso, os pequenos gestores de gebalis e afins, os boys dos partidos políticos, uma corja de medianos modernaços que aceitaram os desígnios da nova economia e que agora se lamentam das perdas sofridas (e que são as primeiras vítimas deste capitalismo selvagem).
Acrescenta José Saramago:

“Os criminosos são conhecidos, têm nomes e apelidos, deslocam-se em limusinas quando vão jogar o golf, e tão seguros de si mesmos que nem sequer pensaram em esconder-se. São fáceis de apanhar. Quem se atreve a levar este gang aos tribunais? Ainda que não o consiga, todos lhe ficaremos agradecidos. Será sinal de que nem tudo está perdido para as pessoas honestas.”

José Saramago tem razão.
E, ao que parece, também tem uma réstia de esperança neste sistema e nos tribunais, ou no seu espectáculo, para julgar estes criminosos. Eu já não tenho essa esperança, porque estes tribunais se transformaram numa farsa, braço judicial do poder do capital. Sem dúvida que o julgamento destes homens será dramaticamente feito pela história, e pela dimensão humana do sofrimento que esses senhores deixarão sobre nós e os vindouros. Mas tenho uma outra esperança. Uma esperança de ver o verdadeiro julgamento do povo, o julgamento da "rua", não tenho medo de o pronunciar, ser feito por este mesmo povo, porque a tolerância e o conformismo não duram sempre, e o momento pode estar próximo.
Que possamos viver de novo esse dia inteiro e limpo.
Hiperligação para o artigo de José Saramago:

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