quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Professores, Sindicatos e Blogues: porquê o ódio?

Não tencionava voltar tão cedo a este tema, porque este não é um blogue que se pretenda dos problemas da educação ou, melhor dizendo, dos problemas profissionais dos professores (que inevitavelmente – e de que maneira! – afectam todo o edifício educativo). Todavia, o tema está em cima da mesa e notei que nos últimos dias as leituras deste blogue excederam em muito o habitual, pelo que acho deveria acrescentar qualquer coisinha.
No dia 14 de Outubro soube-se da marcação de uma manifestação para dia 8 de Novembro pela FENPROF. Havia já uma outra marcada por movimentos independentes e que terá nascido de forma espontânea, para 15 de Novembro. Nesse mesmo dia enviei um mail ao meu sindicato – o SPZS - a reclamar o facto e a acusá-lo de ser divisionista. Não obtive resposta. A resposta a esta questão que foi levantada por milhares de colegas neste país levou quase uma semana para ser respondida. Ontem, finalmente, consegui ter acesso a uma explicação de Mário Nogueira, ele mesmo. Ainda antes recebi uma coisa estranha e a roçar o surrealismo patético de um tal Jorge Silva, da Plataforma Sindical, e que afirmava sempre falar em nome próprio. As explicações do dia 8 procuram ser racionais: têm a ver com timings. O timing das reuniões e o timing da reunião suplementar. Segundo Jorge Silva, ainda com questões de estratégias secretistas: os nossos planos não podem ser públicos para não os revelarmos de antemão ao inimigo. Uma espécie de táctica castrense que, tanto quanto posso analisar, tem produzido poucos efeitos quando aplicado a esta luta sindical. Preferia que a acção sindical da Plataforma fosse transparente (e, já agora, com um pouco mais de exigência). Mas depois vêm as críticas: quem são os que convocaram a manifestação de dia 15? Será que não estão a soldo do ME? O que já fizeram eles, esses dos blogues, para bem da classe?
Reconheço que são perguntas legítimas, mas que, se pensarmos bem, era melhor que não fossem colocadas pois podem-se virar contra quem as lança. Os homens e mulheres dos blogues são pessoas, a maioria delas com nome e apelido conhecidos, que mantiveram acesa a chama do inconformismo. Foi a partir de muitos destes homens e mulheres que muitas escolas e colegas assumiram parar o processo de avaliação arriscando-se a processos disciplinares. Foram estes movimentos que mobilizaram milhares de colegas para a unidade. Não estou certo que os sindicatos tivessem conseguido muito mais do que isto, antes pelo contrário.
Mas não pretendo ter o discurso anti-sindical. Quem me conhece sabe que, nos últimos anos, tenho defendido os sindicatos nas minhas escolas contra algumas críticas que considerava despropositadas e injustas. São os sindicatos os nossos negociadores, a nossa organização. E estou convencido que se tivermos (tivéssemos) um sindicato forte, a nossa situação profissional será (seria) muito melhor. Eu próprio sou (era) sindicalizado desde o primeiro ano que leccionei. Só que, perdoem-me esta minha horrível pretensão, gosto de pensar por mim. E não aceito que os meus sindicatos têm sempre razão. Custa-me encaixar a questão das datas. Mas se elas são assim tão importantes, porque não tentaram, antes da marcação de dia 8, contactar as associações que têm a sua marcação para dia 15, e expor-lhes a situação, a ver se elas antecipavam a data e se fazia uma grande manifestação conjunta? Aí se veria se essas associações estão a soldo do ME (como o sr. Jorge Silva conseguiu imaginar), ou se são elas as divisionistas (e não os sindicatos). O pior que podemos ter agora são fracturas deste género, mas estamos a tê-las. Repudio as afirmações anti-sindicalistas sistemáticas de alguns colegas, mas não consigo compreender este ódio dos sindicatos aos professores que escrevem na blogosfera. Pois se a única explicação para este último facto será o querem ser os movimentos sindicais os únicos representantes dos professores, os únicos que falam por eles. E esse princípio é inaceitável. Deixem-nos este espaço para dizermos o que nos vai na alma e, se for caso disso, para nos organizarmos. Não tem que haver ódio, nem dor de corno, dos sindicatos aos professores que se expressam na blogosfera, eles são mais uma arma na nossa luta. (noto que eu próprio não me englobo nesse grupo já "o telhado do Gato Esteves" não pretende ser um blogue centrado na educação).
Uma vez que não pude encontrar o mail do colega Olavo que aqui deixou um post, gostaria de lhe referir que não tenho por hábito escrever sobre o que não sei. Pretendo antes escrever sobre o que penso, mesmo que esteja errado. Como já referi, a primeira atitude que tomei foi contactar, por escrito, o meu sindicato (do qual já fui delegado). Quanto a plenários, nada houve na minha escola, nem, ao que consegui saber, no concelho de Odemira (mas se houvesse, e com a avalanche de trabalho que existe neste momento nas escolas, ser-me-ia difícil ir). Mas, como afirmou, temos de nos manter unidos. E se os sindicatos me convencerem da sua justeza e, sobretudo, honestidade, estarei disposto a reconsiderar a minha posição.

2 comentários:

Olavo Rodrigues disse...

A intenção do comentário que fiz ao seu post anterior, nunca foi de o repreender, mas sim, informá-lo a si e a outras pessoas, das verdadeiras razões da marcação da manifestação para aquela data.
Se fui mal entendido peço desculpa, mas este ambiente escolar está a deixar-nos a todos à beira de um ataque de nervos.
Só pretendia ajudar a combater esta terrível desunião que ocorre entre os docentes. Pois, só unidos vamos conseguir acabar com este ataque aos professores.

Fernando Évora disse...

Quer-me parecer que também eu me excedi na comparação do puxão de orelhas (que já removi). Peço-lhe, por isso, públicas desculpas. O momento é de luta e de união. Um abraço.