terça-feira, 11 de novembro de 2008

(foto: "Rua de Alconchel")
A equipa ministerial responsável pela educação não quer saber que os professores se manifestem. Não ficam impressionados por 4/5 dos docentes virem para as ruas. Acham que isso é apenas uma manobra de intimidação, de chantagem, sobre o restante quinto que trabalha e faz andar a avaliação para a frente em todas as escolas (sim, porque a senhora ministra diz que a avaliação segue em todas as escolas). Já se percebeu que a equipa ministerial, defendida com aquela arrogância afectada do seu primeiro-ministro não discute sistemas de avaliação, como não discutiu nenhuma das suas medidas que têm lançado o caos nas escolas. Propõe em negociação porque antes decidiu e já está decidido. Não há nada a esperar de negociação, de greve ou de manifestação. As coisas serão como a ministra, género recente de déspota iluminado, pensou (que digo eu? pensou??). É um conceito limitado de democracia: decido porque fui a "escolhida" por um governo de maioria absoluta. Pensar que a democracia se esgota aquando da distribuição de votos, eu ganho, tu perdes, e agora eu faço o que quiser, não é ser-se democrático. Muito mais quando se despreza os "míseros votos" na expressão feliz do grande líder. Quando o espaço de intervenção do povo fica limitado ao depósito do voto numa urna, quando se desdenha com nojo de uma fatia da classe média intelectual e interventiva como são os professores, quando já não se disfarça a arrogância perante os mais fracos e se empola o servilismo perante os mais fortes, é a democracia que está em causa. A lei não existe só porque há uma maioria que vai bocejando num palácio chamado de São Bento, acenando améns a quem lhes garante o job e respectivas mordomias.

Por isso nada mais nos resta, a nós, professores, do que simplesmente não cumprir a lei.

3 comentários:

joaoh disse...

A coisa tá preta... só não concordo aí com o teu colega de blog que já grita ás armas e tudo, quanto ao resto era de verificar aunião desta greve e boicotar totalmente o processo. Entretanto lê aqui este ex-colega...
http://aspirinab.com/valupi/que-dizeis-e-quereis/

Anónimo disse...

Caro Fernando e caros professores,

Enquanto simples cidada nao pertencente a vossa classe profissional, nao so partilho a vossa visao critica do sistema de avaliacao proposto pela tutela como estou particularmente orgulhosa, ate um pouco comovida, por vos ver assim mobilizados e unidos. E e por isso que vos escrevo (ainda que sem acentuacao).

A democracia e a justica nao se resumem a mera legalidade. As mas leis servem para ser revistas.

Do alto da sua legitimidade, a autoridade politica tem o dever de ouvir com orelhas de ouvir quem esta na rua a protestar e nas escola a desobedecer nao por birra mas por conviccao.

O que mais me escandaliza? O argumento governamental, infelizmente partilhado pelo PS, de que os profs sao instrumentalizados. Argumento indigno de uma democracia madura. E que repudiarei sempre mesmo quando discordar dos manifestantes.

Nao costumo ver esse tipo de argumentacao intelectualmente pobre e moralmente questionavel por parte de outros governos da Europa.

Tambem do governo do meu pais, o minimo que espero e que reconheca os contestatarios como interlocutores, nao como pobres de espirito ou marionetas.

Alexandra Lobao

Fernando Évora disse...

Alexandra,
Em meu nome e do Sérgio Patinha: é bom tê-la de volta!