quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Intolerável

Isto ultrapassou todos os limites do razoável, do bom senso, do respeito pelo próximo. Hoje mesmo recebi um email da DGRHE (Direcção Geral dos Recursos Humanos de Educação) a pedir que coloque online, numa página do Ministério, os meus objectivos.

(Mais um pedido ilegal pois o Estatuto da Carreira Docente reza, no seu artigo 49º "1 - Sem prejuízo das regras de publicidade previstas no presente Estatuto, o processo de avaliação tem carácter confidencial, devendo os instrumentos de avaliação de cada docente ser arquivados no respectivo processo individual.2 - Todos os intervenientes no processo, à excepção do avaliado, ficam obrigados ao dever de sigilo sobre a matéria." Acrescenta-se a lei 15/2007, artigo 49º, "Garantias do processo de avaliação do desempenho" 1—Sem prejuízo das regras de publicidade previstas no presente Estatuto, o processo de avaliação 512 Diário da República, 1.a série—N.o 14—19 de Janeiro de 2007 tem carácter confidencial, devendo os instrumentos de avaliação de cada docente ser arquivados no respectivo processo individual.2—Todos os intervenientes no processo, à excepção do avaliado, ficam obrigados ao dever de sigilo sobre a matéria.)

É o Ministério armado em Big Brother com esta medida para saber, por via ilegal e de carácter fascista, quem são os prevaricadores que não apresentam objectivos. Penso que bastaria perguntar às escolas como vai por lá a avaliação, mas aí teriam respostas que não poderiam contestar. Assim, prefere-se a técnica de estimular no próximo o seu lado pior: tomem lá, preencham os objectivos online que ninguém vê.
Esta ministra, supostamente da educação, é o que de mais reprovável existe, eticamente falando. Apenas a move o ódio e a vontade de destruir a escola. Em toda esta legislatura Maria de Lurdes Rodrigues precipitou o fim da escola enquanto formadora de cidadãos sob a capa da grande reformista para a escola do futuro: a da estatística e a certificadora de mão-de-obra barata. Sempre com a conivência dos mais altos interesses instalados. Sem olhar a meios, mas resguardando as aparências democráticas. Fomos assim assistindo, fria e sistematicamente, à tentativa de liquidação do ensino. Não é exagero, é a crua verdade.
Que não restem dúvidas: quem está no poder não é gente de bem, nem de mais ou menos; não são apenas chicos espertos tocados pelo bichinho da ambição que se querem safar a eles e aos boys amiguinhos, são verdadeiros mafiosos de tudo capazes para destruir o que ainda lhes pode fazer frente, por menor que possa ser a sua força: a escola, a formação, a cidadania. Que não restem dúvidas que esta gente será capaz de todos os métodos - já se percebeu que não hesitam em fazer sentir a sua prepotência, mesmo que para isso ultrapassem a própria lei que impuseram- para perseguir quem se lhes opõe.
Mas não podemos ter medo, pois repentinamente a nossa luta já não é só e apenas a luta dos professores, é a luta da razão e do humanismo contra uma arrogância autoritária que lembra o pior que por aqui passou e faz temer um futuro de pesadelo orwelliano.

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