sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A propósito de Manuel José

Manuel José foi eleito, pela IFFHS, o 9º melhor treinador do mundo. É o único que fala português do top-ten. Distinção que se prenderá com o facto de ter vencido, entre muitos outros troféus, por quatro vezes (!) a liga dos campeões africanos. Um caso de sucesso no estrangeiro. Mais um, apenas. Ouvi Manuel José lamentar-se da falta de reconhecimento no nosso país. Pese as diferenças, lembrei-me de Saramago, uma das grandes figuras portuguesas deste século, a que ficará para a história. Também ele se pode queixar da falta de reconhecimento luso, sobretudo da classe dirigente que insiste desde há séculos em calar as nossas melhores vozes. Basta lembrar o nosso renascimento, essa idade de ouro, e pensar em Camões sepultado numa vala comum, em Damião de Góis torturado pela inquisição, a incompreensão que levou ao desespero almadense de Fernão Mendes Pinto, as perseguições a Garcia da Orta e à sua família, mais tarde a António Vieira. Cito de cor, por certo os exemplos abundam. E quantos terão ficado esquecidos? Quantas estrofes, quantos pensamentos, quantas descobertas, quantos traços poderão ter ficado para sempre perdidas por simples ignorância da sua existência? Em todos os países são conhecidos casos de artistas ignorados em vida, homens que estariam à frente do seu tempo. Mas em Portugal estes acidentes são em número desproporcionado.
E que dizer dos nossos improdutivos trabalhadores? Há uns anos, no início deste mandato, voltou-se à carga com a falta de produtividade dos nossos trabalhadores, o que justificaria os seus vencimentos menores do que a média europeia (ao contrário dos nossos gestores que estão no top europeu, sendo, por isso, excepcionalmente produtivos). Então alguém se lembrou de notar que o país com maior produtividade da UE era o Luxemburgo, onde cerca de 30% da população activa é de origem portuguesa.
Parece que os portugueses apenas produzem no estrangeiro, como apenas lá fora são reconhecidos os nossos Manuel Josés e Saramagos. E enquanto isso, cá vamos sendo governados pelos nossos dons manuéis e joões quintos a construir palácios de Mafra e tgv`s. A dar-se ares e peneiras, porreiros pá, a pedirem-nos sacrifícios e a culparem-nos, trabalhadores improdutivos, funcionários públicos preguiçosos, professores malandros, juízes e médicos corporativos, etc. e tal.
Há não muito tempo, em Faro, fui almoçar a uma tasquinha, simples e barata, de que não lembro o nome (ali para o pé do liceu, na Pedro Nunes, acho que é esse o nome da rua). Lá estava o Manuel José a comer, naquele antro do povo a cheirar a peixe frito. Simples e sem peneiras, ausente de sinais de novo-riquismo. Que contraste com esta cambada de poderosos que nos vai governando e sugando enquanto acusa as suas vítimas do atraso do país. Chicos espertos que não valem um peidinho se comparados com os outros grandes portugueses, não só Manuéis e Saramagos, como também Zés e Afonsos a labutar nas fábricas alemãs ou na construção suíça.
Às vezes penso que não resta outro caminho que não seja a emigração.

1 comentário:

Kruzes Kanhoto disse...

Justo o prémio, sem dúvida, mas o homem em Portugal não fez nada de por aí além...