segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O início da "luta final"

Quando este governo iniciou o seu mandato, percorreu o país uma onda de esperança reformista. Estávamos fartos das santanices, das fugas barroseiras e guterristas. Quase no primeiro instante, foi com os professores que o governo mostrou a sua veia decidida: a classe docente foi transformada no símbolo do mal do país, na cambada de preguiçosos que se arrastava pelas escolas a mamar do erário público. O governo passou bem esta sua imagem iluminada e todos acorreram a aplaudir a intransigência com que Lurdes Rodrigues actuava contra a corporação de chulos. Todos os órgãos de informação mostravam estatísticas de origem muito duvidosa que envergonhavam os professores (eu próprio cheguei a ter uma queixa na ERC contra a Visão - inconsequente - que falseou dados nesse sentido), no célebre prós e contras sobre as aulas de substituição a jornalista não disfarçava o enfado de ouvir as queixas docentes; todos os opinion-makers batiam no ceguinho e enalteciam a figura heroína da ministra da Educação; para o homem da rua os educadores dos seus filhos tinham-se transformado eles mesmos no demónio. A classe docente deprimiu-se, sentiu-se achincalhada. E o povinho, onde havia arrogância fascizante do governo viu determinação; confundiu o ataque à escola pública com espírito reformista.
Os anos passaram. A ministra depressa se habituou a ditar as suas leis como um qualquer Luís XIV, ao sabor dos seus caprichos. Entrou num espiral de arrogância e de ideias cada vez mais estranhas, a raiar a loucura. Entretanto, e não obstante a imagem de eficiência que o ministro continuava a dar (e para a qual se serviu tão eficazmente dos meios de comunicação) o país definhava. Os impostos não desceram, o desemprego aumentou; o antes falado combate aos privilégios dos grandes nunca se concretizou, antes pelo contrário; os juros subiram; os combustíveis também, e muito acima das cotações internacionais do petróleo (também aqui se ameaçou investigar, mas tudo continuou na mesma); a corrupção continuou a crescer, a justiça sem funcionar; os bancos faliram mas não só por causa da crise internacional; os cuidados de saúde pioraram; escolas fecharam; a província continuou a sua sangria; a emigração cresceu. O grande feito do governo parece ser apenas o Magalhães.
E assim voltamos à educação. Os professores, de tão achincalhados, voltaram a reclamar contra a demência da tutela. E o governo aproveitou para desviar de novo para aqui a sua atenção e mostrar o seu carácter musculado. Que não se fale do rotundo falhanço do governo! Que não se pronuncie a palavra "recessão"! Recordando a sua vitória popular contra os professores, concentra-se agora nessa luta, confiado em repetir a vitória do início do mandato. Mas eis que a coisa pode correr mal. Apesar de se desdobrarem em esforços, apesar das ameaças disciplinares, das arrogâncias intermédias das direcções regionais, das perseguições, das ilegalidades, dos atropelos. Não só os professores parecem não desmobilizar, como ainda servir de exemplo e excitar as oposições tão silenciosas. Esta luta trará por certo consequências determinantes para Sócrates. Nós, professores, podemos, de facto, contribuir para a derrocada socratina. E isso vale bem a vingança pela forma como fomos tratados neste consulado; vingança pelo desprezo, pela humilhação, pela sobranceria e sadismo perpetrados pela mesquinhez dos verdadeiros incompetentes, pela mediocridade do trio Rodrigues-Lemos-Pedreira.
A greve do próximo dia 3 será apenas o início de uma dura luta final. Mas a vitória está ao nosso alcance.

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