terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tenhamos um verdadeiro espírito natalício

Verdade verdadinha que gosto muito do Natal. Deixo-me facilmente imbuir pelo espírito natalício. E não só por aquele espírito natalício da família à volta da mesa farta (ah... o aroma do peru assado, o apelo da lampreia de ovos, a imponência do tronco natalício, o gosto do bacalhau assado, tudo bem regadinho com um tintinho cá do alentejo), mas também o Natal do amor e da ajuda ao próximo, da solidariedade. Por isso, neste Natal, devemos preocupar-nos com aqueles que após uma vida de árduo trabalho para o bem comum se depararam, inesperadamente e por um estranho capricho do acaso, com a decadência financeira. Falo dos nossos gestores, das nossas fortunas, da nossa mais rica classe. Sabemos que será apenas um conjuntura financeira, pois com o esforço pronto e assertivo dos nossos governantes (de que eles provaram sempre ser amigos) a estabilidade voltará aos seio dessa elite iluminada. Mas não deixam de estar a passar um mau momento, veja-se aqueles que tinham as suas poupanças no BPP.
Eu, por mim, e sabendo que o esforço para salvar esses homens terá que partir de todos nós, já comecei a poupar nesata quadra natalícia: no vinho - comprei uma zurrapa em pacote - e no whiskey - que adquiri no Lidl.
Para que também os leitores do meu blogue sintam este apelo natalício, aqui deixo um link para um inspirado tema. Há que salvar os ricos!
http://www.youtube.com/watch?v=pI3z1c53J4g

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ministério de plástico

Foi hoje noticiado que a ministra concedeu mais uma benesse: os professores que se reformem nos próximos três anos estão dispensados da avaliação. Mas esses professores dificilmente poderiam lucrar com a avaliação, fosse porque já tinham atingido o topo e o acesso a um badalado escalão extra não esteja ainda regulamentado, fosse porque são avaliadores e não existam inspectores - como inicialmente previsto - em número suficiente para os avaliar. Esta é mais uma medida oca, sem consequências para a negociação, que apenas serve para encher jornais e tvs que pretendem mostrar o bom carácter da bem intencionada Maria de Lurdes Rodrigues. É apenas mais uma medida para a comunicação social, que a comunicação social e a estatística são os únicos objectivos da senhora ministra. E uma ministra da educação que se guia pela propaganda não é uma ministra de coragem - como alguém afirmou -, é uma ministra de plástico.

Parlamento Europeu defende trabalhadores

No dia 12 de Junho coloquei neste blogue um post sobre a possibilidade da semana de trabalho poder ser prolongada até às 65 horas semanais. Nessa altura a jornalista Alexandra Lobão chamou-me à atenção que era tal era apenas uma proposta dos ministros dos países da União Europeia e que ainda teria de ser aprovada pelo Parlamento Europeu.
Soube-se hoje que o Parlamento Europeu chumbou esta medida. Fico feliz. Ganhámos uma batalha e mantemos a tradição humanista europeia. E, desta vez, a democracia funcionou. Momento para recordar quando vierem as eleições europeias.
Para os que o pretenderem, aqui fica o link para o tal post de Junho: http://gato-esteves.blogspot.com/2008/06/vamos-poder-teabalhar-mais.html

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

É hora?

Nos últimos anos todos disseram que tínhamos que ser mais produtivos; que tínhamos de ser mais competitivos. Que a competitividade passava pela flexibilização; a deslocalização era necessária. Uma questão de esforço nacional. Havia grandes ordenados entre os gestores? Claro que havia. É que tinha que haver que eles é que geravam riqueza, e a riqueza criava emprego. Eram esses grandes ordenados de gestores iluminados que faziam o país andar para a frente. Eram esses visionários os que melhor compreendiam o mercado; e o que era preciso era deixar o mercado funcionar, sem os constrangimentos de leis que defendiam em excesso os trabalhadores. Os jornais e as tv`s bombardearam-nos com essas verdades insofismáveis, e não me lembro de ouvir falar em regulação ou coisa semelhante.
O resultado destas ideias está à vista e espanta-me como ainda há gente a defendê-las de forma tão acaloradamente parva (ainda ontem ouvi o Luís Delgado – meu Deus que homem tão basicozinho!).
Contaram-nos que a economia, o progresso, o resto do mundo era assim mesmo e ainda muito mais: que os políticos precisavam de ser defendidos, pois ganhavam muito melhor fora da política. E por essa razão precisavam de auferir bons vencimentos e vantagens diversas como os subsídios de reintegração e as reformas antecipadas.
E agora ainda há quem cante a mesma coisa, como o Sr. deputado Almeida Santos que afirmou que “ser deputado não é escravatura”, frase que julgo só poder ser entendida do ponto de vista filosófico.
Mas depois vimos toda esta promiscuidade entre os gestores e os políticos; vislumbrámos a ponta do icebergue da imensa corrupção em que estão mergulhados os nossos governantes e representantes. E que fazemos? Continuamos no nosso esforço nacional? Continuaremos a sacrificarmo-nos para sermos mais competitivos e produzirmos a riqueza nacional para salvar as grandes fortunas? Aceitamos estes códigos do trabalho para continuarmos a satisfazer os caprichos dos gestores iluminados?
Ainda há solução dentro dos partidos e do esquema democrático? Ou estará na hora de recebermos a verdadeira inspiração grega, para além do nome do Pinto de Sousa?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

POR QUÉ NO TE CALLAS?

Este senhor tem, de vez em quando, umas tiradas em que se arma em esquerdista. Mas tem-nas apenas quando as ditas são inofensivas. Assim, ao jeito de enganar o povinho: olha p`ra mim, vejam como sou velho mas de esquerda. Na verdade, enquanto homem de poder, governou sempre à direita e conta entre as suas amizades gente muito suspeita. Agora vem dizer que como os tempos são complicados não se deve fazer guerrilhas a Sócrates, que com ele está solidário, que é contra o encontro das esquerdas (também estará armado em “senhor da esquerda” como o Jerónimo?). Exactamente agora que a esquerda ameaça com a guerrilha; exactamente agora que o descontentamento social sai às ruas por toda a Europa e ameaça, de facto, o status quo com que sempre pactuou e que o colocou no poder. Estará, finalmente, a pagar a dívida que tem para com Sócrates desde as presidenciais? Ou apenas a ser ele mesmo, submarino dos seus poderosos amigos junto da suposta esquerda, aquela que “mete o socialismo na gaveta”?
Por qué no te callas?

sábado, 6 de dezembro de 2008

Desconvocação da greve

Ontem à noite foi anunciada a suspensão da greve por uma suposta cedência do Ministério em negociar o próprio Estatuto da Carreira Docente e delinear um novo sistema de avaliação no próximo ano. Fiquei desconfiado, que já percebi que esta gente do governo não é séria. Tinha razões para isso, pois à meia-noite e três minutos recebi mais um email da Direcção Geral dos Recursos Humanos (sexto email nos últimos sete dias, o que me parece excessivo para quem me ignorou durante tantos anos) em termos que para mim não são de clara cedência. Aliás, a linguagem usada é de vitória.
Aguardemos pelo desfecho das negociações que começarão, apenas, a 15. E aguardemos pelo que daí vai resultar para todos nós. Mas, sinceramente, temo que possa haver aqui um engano. É que, como já disse, desconfio da honestidade deste governo, e não sei se fizemos bem em desconvocar a greve. Lembra-me outras greves e manifestações em que ficámos a meio do caminho. E, desta vez, não podemos morrer na praia na luta contra a arrogância e estupidez, que são as qualidades reveladas por este trio da tutela.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cem anos de Café Aliança

Ouvi há pouco na rádio que o Café Aliança, em Faro, faz hoje cem anos. O Aliança é, porventura será para sempre, o "meu" café. O meu ideal de café. Senti-me importante por este centenário merecer destaque no jornal nacional da Antena Um. E também senti uma enorme nostalgia do Aliança (quiçá fosse mais nostalgia da minha adolescência), uma enorme vontade de pegar no carro e ir até Faro recuperar tantas recordações...
No Jornal da Antena Um falou-se de figuras históricas que passaram pelo Aliança: José Afonso, que ali terá escrito algumas músicas aquando da sua passagem por Faro quando foi professor, Simone de Beauvoir, Marguerite Yourcenar. Falou-se de outros que eu desconhecia que tinham ido ao Aliança como Almada Negreiros ou Fernando Pessoa (estou desconfiado que quem foi ao Aliança foi Álvaro de Campos, que era de Tavira). Mas faltou recordar-se um dos maiores poetas portugueses do século passado, sempre esquecido pela élite intelectual, e que será aquele que mais ligado estará ao "espírito Aliança": António Aleixo. Recordo tão claramente a história que me contou a minha professora de Português do 1º ano do Ciclo quando falámos do Aleixo (falar do Aleixo no actual 5º ano seria hoje considerado um atentado pedagógico): o Aleixo andava a vender cautelas no Aliança e as diversas mesas tinham por hábito chamá-lo e pedir-lhe que, para sua diversão, fizesse ali uma quadras. Quase como se fosse um artista de circo a fazer umas macacadas. Ora acontece que num desses dias, e na mesa dos doutores, alguém sugeriu que se fizesse o costume. Mas logo um dos doutores, mais pudico, notou que o Aleixo, comido pela doença e pela pobreza, apresentava tão mau aspecto que "parecia um ladrão" e seria melhor deixá-lo só, a vender cautelas. Talvez este observador pertencesse à classe que dominava a cultura deste país e a vai continuando a dominar. Hoje, porventura, arriscar-se-ia a ser ministro socrático. Mas adiante. António Aleixo acabou por ser requisitado para uma mesa que ficava ao lado da tal onde se sentavam os "distintos doutores" e, instado a fazer um poema, terá parodiado os tais doutores pois, como é conhecido, tinha o "ouvido tísico" (a tuberculose acabou por lhe levar a vida, e nesta mesma aula de Português fiquei a saber que os tísicos apuram o sentido da audição). A quadra que lhe saiu foi "a tal":
Sei que pareço um ladrão,
mas há muitos que eu conheço,
que sem parecer aquilo que são,
são aquilo que eu pareço.
Retorno ao Aliança e às minhas memórias. Foi no Aliança que aprendi a jogar xadrez como deve ser; foi lá que conheci o escritor sueco Staffen Ekesson (que aparece em algumas das minhas histórias e que tanto me ensinou sem que disso nos déssemos conta), o Sr. Capitão (que me inspirou uma personagem com o mesmo nome), o Paulino, o Paiões, o Kabay e tantos outros... Foi no Aliança que conheci o cão Alberto, que era o cão dos drogados e que um dia seria o meu Jimmi do "De como se de uma fábula se tratasse". A este propósito recordo que o Aliança tinha - tem ainda, segundo julgo saber -, três portas oficiais. Ora uma vez a carroça da Câmara perseguia o Alberto (cão marginal que apenas ladrava aos carros da polícia - segundo a teadição por ter sido um carro destes que atropelara o seu irmão) e este entrou pelo Aliança adentro pela porta "principal", a que dá para o Jardim. O Alberto, mais lesto do que o habitual, passou por nós, os da zona do xadrez, como uma seta. Pouco depois vi entrar os perseguidores da câmara. Fiquei assustado: o Jimmi iria ser capturado. Levantei-me e verifiquei que todas as três entradas estavam ocupadas pelos da carrinha da câmara. O cerco estava montado. Saí do Café, não queria assistir àquele momento; finalmente aquela espécie de asae dos animais ia conseguir o que há tanto pprocurava. E quando saí vi ao longe, a sair da entrada da Bertrand, a cabecinha do Alberto, a gozar o pratinho do engano dos seus perseguidores, inda não é desta que me caçam...
Por último recordo que no Aliança, por entre as primeiras imperiais, escrevi alguns dos meus primeiros poemas, para sempre perdidos, poemas das desventuras da adolescência.
Senti-me hoje tão feliz ao ouvir o noticiário da Antena Um e a pensar que esses poemas poderiam ter sido rabiscados nas mesmas mesas em que um dia José Afonso escreveu as suas cançoes. Apesar da diferença de génio, haverá uma mesa que nos une. A ele, e não aos doutores que um dia disseram que António Aleixo "parecia um ladrão".

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O dia de greve (3)

Alguns dados do Minho (fim da tarde):
S. Mamede + 90%
Vila do Conde 95%
Sec . Barcelinhos 100%
Alcaides de Faria (Barcelos) 98%
S. João de Ponte (EB) Guimarães 100%
Feitor Pinto (Sec.) Viana 100%
Montalegre (Sec.) 100%
S. Torcato (Sec.) Guimarães fechou
Alberto Sampaio (Sec. ) Braga 80%
André Soares (EB) Braga fechou
Povoa de Lanhoso (Sec.) 98%
Real (EB) Braga 99%
Ponte de Lima (Sec.) 98%
Ponte de Lima (EB) 99%
Carlos Amarante (Sec.) Braga 98%
Celeirós (EB) Braga 99%
Sá de Miranda (Sec.) Braga 92%

Alguém falou em sessenta e quantos?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dia de greve (2)

100 000 professores na rua em Março; 120 000 em Novembro; hoje, quantos somos a fazer greve? 130 000? (embora o sr. secretário de estado diga que em Lisboa estavam só 53% em greve - que ridículo, sr. Pedreira, ainda alguém acredita em si?). Mas o ministério insiste em manter o modelo, agora até já diz que as alterações propostas para este ano poderão durar mais uns quantos. Noto aos que sempre acusaram o anterior modelo de avaliação de não distinguir bons de maus que este - e, sobretudo, com as alterações - dificilmente poderá levar a uma classificação negativa. Mais: com as novas propostas, o modelo ficará bastante caro em horas extraordinárias e ajudas de custo. Tudo para não "perder a face". Tudo isto já foi longe de mais. O governo tem que nos ouvir; vai ter de acabar por ceder. Somos muitos, e na nossa imensidão reina demasiada heterogeneidade para não termos a razão. Democracia não é só ser eleito; é também negociar, conversar. Sócrates tem que pensar que não é, como alguém disse, "um ditador eleito". Sócrates tem que pensar que democracia também é cidadania. E, como tal, tem que pensar num sistema diferente. Que até lhe pode ficar mais barato, economicamente falando. Porque esta insistência vai-lhe ficar muito cara, democraticamente falando.

Dia de greve

Acabo de regressar da minha escola de Colos. Levantei-me mais cedo do que o habitual para poder estar lá ao primeiro tempo, a fim de entregar aos meus alunos um pequeno folheto para os encarregados de educação (e para eles próprios também) em que explicava as razões para a minha greve. Apanhei chuva e frio mas valeu a pena.
Valeu a pena porque regresso todo feliz e orgulhoso: nos dois primeiros tempos a adesão na Escola Básica Integrada de Colos foi de 100%! E a minha escola era uma escola sem tradição grevista! Sei que este número não se manterá, pois há um professor que já disse que não iria fazer greve. Talvez seja o único. Entretanto, o órgão de gestão considerou que sem professores na escola não havia condições para manter lá os alunos, pelo que chamou os transportes para os levarem de volta (o fura-greves deve ficar feliz, pois ganha o seu dinheirinho e não trabalha na mesma, estes amarelos estão sempre a ganhar com a luta dos outros). Que este facto - o fecho da escola numa greve de professores -, sirva para reflexão sobre o papel - e a catrafada de funções -, que os docentes desempenham hoje em dia.
Entretanto passei pelas escola vizinha de São Teotónio. Sei que ao segundo bloco da manhã apenas havia dois professores em aulas (o que dará uma média ligeiramente inferior a 90%) e tive informações (por confirmar) que a Damião de Odemira também terá fechado. Um panorama muito semelhante ao resto do país.
Do que se está à espera para suspender definitivamente o processo e, já agora, demitir esta equipa ministerial?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

“Em Portugal existem três milhões de adultos com falta de formação”, disse hoje a ministra da educação. É claro que a ministra , os seus secretários de estado e o seu chefe primeiro se enquadram nestes três milhões. Porque não têm formação (leia-se qualificação) para desempenhar as funções que desempenham, nem têm formação (educação) no trato com aqueles que governam.
Nos últimos tempos tudo tem sido à descarada. Protegem-se os interesses dos banqueiros, os nossos dirigentes fazem despesas superiores aos seus rendimentos oficiais, pratica-se o tráfico de influências, por todo o lado cresce a corrupção perante a ineficácia da justiça. Cresce o medo. O velho medinho salazarento. Claro que esta não é boa gente. E não são apenas sedentos de poder, são verdadeiros vampiros. Não são apenas malandros, nem simples vigaristas. São mentirosos e mafiosos. São gente mal intencionada.
Portugal atingiu um ponto em que não nos podemos dar por vencedores se apenas lhes tirarmos a maioria absoluta, ou mesmo do poder. Eles já preparam a sua retirada, já a garantiram, inspirados no exemplo Armando Vara. Esta gente deverá ser perseguida para sempre. Um dia deverá haver justiça para os julgar. Essa é, pelo menos, a esperança que me resta.
E se para o ano, em Outubro, continuarem a ganhar eleições, aí concordarei inteiramente com a ministra da educação, pois então haverá mais de três milhões de portugueses sem formação (ignorantes, tapadinhos, intoxicados pela desinformação).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O início da "luta final"

Quando este governo iniciou o seu mandato, percorreu o país uma onda de esperança reformista. Estávamos fartos das santanices, das fugas barroseiras e guterristas. Quase no primeiro instante, foi com os professores que o governo mostrou a sua veia decidida: a classe docente foi transformada no símbolo do mal do país, na cambada de preguiçosos que se arrastava pelas escolas a mamar do erário público. O governo passou bem esta sua imagem iluminada e todos acorreram a aplaudir a intransigência com que Lurdes Rodrigues actuava contra a corporação de chulos. Todos os órgãos de informação mostravam estatísticas de origem muito duvidosa que envergonhavam os professores (eu próprio cheguei a ter uma queixa na ERC contra a Visão - inconsequente - que falseou dados nesse sentido), no célebre prós e contras sobre as aulas de substituição a jornalista não disfarçava o enfado de ouvir as queixas docentes; todos os opinion-makers batiam no ceguinho e enalteciam a figura heroína da ministra da Educação; para o homem da rua os educadores dos seus filhos tinham-se transformado eles mesmos no demónio. A classe docente deprimiu-se, sentiu-se achincalhada. E o povinho, onde havia arrogância fascizante do governo viu determinação; confundiu o ataque à escola pública com espírito reformista.
Os anos passaram. A ministra depressa se habituou a ditar as suas leis como um qualquer Luís XIV, ao sabor dos seus caprichos. Entrou num espiral de arrogância e de ideias cada vez mais estranhas, a raiar a loucura. Entretanto, e não obstante a imagem de eficiência que o ministro continuava a dar (e para a qual se serviu tão eficazmente dos meios de comunicação) o país definhava. Os impostos não desceram, o desemprego aumentou; o antes falado combate aos privilégios dos grandes nunca se concretizou, antes pelo contrário; os juros subiram; os combustíveis também, e muito acima das cotações internacionais do petróleo (também aqui se ameaçou investigar, mas tudo continuou na mesma); a corrupção continuou a crescer, a justiça sem funcionar; os bancos faliram mas não só por causa da crise internacional; os cuidados de saúde pioraram; escolas fecharam; a província continuou a sua sangria; a emigração cresceu. O grande feito do governo parece ser apenas o Magalhães.
E assim voltamos à educação. Os professores, de tão achincalhados, voltaram a reclamar contra a demência da tutela. E o governo aproveitou para desviar de novo para aqui a sua atenção e mostrar o seu carácter musculado. Que não se fale do rotundo falhanço do governo! Que não se pronuncie a palavra "recessão"! Recordando a sua vitória popular contra os professores, concentra-se agora nessa luta, confiado em repetir a vitória do início do mandato. Mas eis que a coisa pode correr mal. Apesar de se desdobrarem em esforços, apesar das ameaças disciplinares, das arrogâncias intermédias das direcções regionais, das perseguições, das ilegalidades, dos atropelos. Não só os professores parecem não desmobilizar, como ainda servir de exemplo e excitar as oposições tão silenciosas. Esta luta trará por certo consequências determinantes para Sócrates. Nós, professores, podemos, de facto, contribuir para a derrocada socratina. E isso vale bem a vingança pela forma como fomos tratados neste consulado; vingança pelo desprezo, pela humilhação, pela sobranceria e sadismo perpetrados pela mesquinhez dos verdadeiros incompetentes, pela mediocridade do trio Rodrigues-Lemos-Pedreira.
A greve do próximo dia 3 será apenas o início de uma dura luta final. Mas a vitória está ao nosso alcance.