quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E eu também

Eu também vi e ouvi o Sócrates. Confesso que não liguei nenhuma quando ele falou na delicadeza, neste caso na falta dela, para com os professores. Por isso hoje achei estranho a importância dada ao caso na comunicação social. E como o meu amigo Patinha largou a deixa na mensagem anterior, pois lá terei eu de dizer qualquer coisa a esse propósito.
É óbvio que o ministério não teve para connosco, professores, qualquer delicadeza. pelo contrário, foi malcriado, insultuoso, tratou-nos abaixo de cão. Dirigiu uma campanha desde o primeiro momento em que classificava de incompetente toda a classe profissional. E nesse princípio de campanha (que foi o princípio de legislatura) quase todos os outros partidos estavam calados que nem ratos (apenas me recordo de ouvir uma palavra de apreço da parte de Jerónimo de Sousa, honra lhe seja feita). Era natural esse silêncio, pois então toda a sociedade portuguesa olhava para nós como uns chulos que eram a origem de todas as desgraças em que o país estava mergulhado. A comunicação social massacrava-nos (lembro-me de uma queixa que apresentei na ERC contra a Visão que falseou dados estatísticos para nos apresentar como preguiçosos). Foi a época da frase orgulhosa da Milú "Perdi os professores mas ganhei o país". Essa ideia foi, naturalmente, mudando ao longo dos 4 anos. Não porque o governo tivesse abrandado nesse esforço de denegrir a nossa imagem, mas porque nós trabalhamos directamente com todo o país, e ele compreendeu-nos melhor que a campanha governamental.
Mas não é a atitude de arranjar "bode expiatório" que me preocupa. Tudo isso valeria a pena se a Educação tivesse melhorado. E isso não aconteceu. Pelo contrário, a educação piorou, a vida nas escolas dificilmente se recomporá (infelizmente António Barreto tem razão ao afirmar que serão necessárias décadas para recuperar o ensino depois do mal que esta equipa ministerial fez). Podem apresentar as estatísticas que quiserem, que quem vê as escolas, seja como professor, seja como pai atento, bem sabe: não só se instalou o facilitismo como também se instalou a burocracia desmedida, a desconfiança, a questiúncula pessoal, a indisciplina. O sucesso em educação dificilmente pode ser medido em quantidade. O sucesso da educação de um país é educar cidadãos. E essa medida levará anos a ser verificada. É claro que a formação de cidadãos necessita que estes adquiram toda uma série de conhecimentos, e a verdade é que cada vez adquirem menos e se lhes passou a ideia de que nada é preciso saber. Mesmo que reprovem agora, terão adiante um "nova oportunidade" para lhes dar um qualquer certificado, é ideia do nosso primeiro que passar um certificado é fácil, ideia que colheu da sua própria experiência. Há uns anos atrás ouvi Mário Soares afirmar que a reforma da educação não se fazia com dinheiro, mas sim com inteligência. Mas para este timoneiro do Portugal Moderno a reforma da educação é feito com computadores, quadros interactivos e projectores multimédia. No último ano as escolas foram inudadas com este material numa quantidade imensamente superior às suas necessidades. São os gasto do novo-rico, do provinciano deslumbrado com a beleza do progresso. A qualidade das aprendizagens consegue-se, sobretudo, com empenho dos alunos e motivação dos professores. A alta tecnologia desempenha nessa qualidade apenas uma pequenina parte. Ora fazer como o governo fez, que foi dar às escolas a tecnologia, mas atacar professores e dar a entender aos alunos que estudar não era preciso, deu neste resultado que é toda a gente saber que a educação está pior do que alguma vez esteve, mas o objectivo estatístico ter sido atingido.

2 comentários:

Luís Bonito disse...

Ao ler o este comentário lembrei-me de um email que enviei a alguns amigos, sobre uma notícia que ouvi na RTP no passado mês de Julho.
Foi sobre uma fábrica de quadros em ardósia, daqueles que nós tínhamos antigamente, antes de haver os computadores Magalhães e os quadros interactivos.
Dizia a notícia, que a fábrica (em Valongo) exportava tudo o que produzia. Dei por mim a imaginar os países, provavelmente africanos e pobres, para onde esses quadros iriam.
Mas a seguir a jornalista esclareceu-me: vai quase tudo para a França.
Holanda, Suíça, Alemanha e Estados Unidos, são os outros clientes.
Ou estes países fazem negócio com a redistribuição dos quadros de ardósia ou então desconhecem os Magalhães.
Há que investir em publicidade para ver se os tais países, ainda "abrutalhados", descobrem as modernices e passam a aprender convenientemente.

Unknown disse...

Pois a mim o que me fez tiltar acerca do seu genuíno arrependimento foi que antes de lhe sair a palavra delicadeza ele ia dizer “suficiente sub…” tileza.

O que faz toda a diferença. ;)