terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um voto de professor

1- Declaração de interesses/posição política
Desde que ultrapassei essa barreira dos 18 anos que fez de mim cidadão - há 26 anos, portanto - que fui eleitor de esquerda. Quase sempre exerci o meu voto (embora tantas vezes me tenha perguntado se o deveria fazer) e sempre fui um eleitor de "esquerda". Votei no PS, no PCP (e nas suas coligações), na UDP, no PSR e no BE. E também já votei em branco. Sou de esquerda por convicção. Tenho ideais de esquerda não só no que respeita ao papel social do Estado na defesa dos mais desprotegidos, como também na necessidade do Estado controlar sectores da economia e refrear o ímpeto ganancioso do capital. Também me sinto herdeiro de uma esquerda libertária que se funda no respeito pela liberdade e opções de cada um.

2- Nas últimas eleições
Nas últimas eleições votei no Partido Socialista. Estava convencido que esse partido poderia derrotar aquela incompetência atroz do governo Santana/Portas, assim como estava convencido que votava num partido de esquerda. É claro que me enganei duplamente: ao longo destes anos a suposta "competência" apenas existiu numa mascarada (ou, hipoteticamente, no trabalho para a estatística) estranhamente patrocinada por muitos órgãos de comunicação social e muitos pseudo "analistas" que apenas lucram com a situação. Esse neo-"situacionismo" é, aliás, um triste regresso conseguido pelo Partido do poder que deixou a corrupção impune e transformou em algo de natural a ascensão de boys e amiguinhos. Em segundo lugar a política PS foi claramente - no que à economia diz respeito - uma defensora dos interesses capitalistas. Foi uma política claramente de direita ao longo dos 4 anos. Apenas com as eleições à vista o senhor engenheiro se veio arvorar em esquerdista do pensamento, em defensor do casamento homossexuual (que há um ano atrás não era "agenda", casar só quando a agenda PS o permitisse) ou das uniões de facto. Tudo muito artificial e apenas ao cheiro dos votos (eventualmente como o meu) que dele tinham sido e agora se passavam para o bloco.

3- Como professor
É difícil sintetizar tudo o que sofreu a classe docente nestes anos. Talvez o pior tenha sido o desprezo e ódio da ministra (mais que a perda de direitos), numa primeira fase apaparicada pelos tais órgãos de comunicação social e experts situacionistas. Tentou (e conseguiu-o transitoriamente) humilhar-nos publicamente, que nos olhassem como bode expiatório e uma cambada de malandros. Também as estruturas intermédias, dominadas pelas comissões políticas dos PS, sempre prontas a dificultar-nos a vida (quem se lembra das frases e comportamentos da Directora Regional do Norte) exerceram o tentáculo do polvo num seguidismo cego aos ditames Milú/Sócrates. Não, não foram apenas erros de casting ou políticos fracos; foi a estrutura de um partido a aplaudir e a ultrapassar em brio a obra dos grandes dirigentes. Houve medo nas escolas, houve sim senhor. Passámos a ter cuidado com o que dizíamos na sala de professores. Com as opiniões que manifestávamos. Ainda hoje hesito em escrever estas linhas e publicá-las. Tenho medo de represálias.
Houve descrença no ensno, houve ditadura burocrática, aumentou a indisciplina na sala de aula.
Tudo isto foi muito forte para mim, como será muito forte - quase, se não mesmo, traumático - na esmagadora maioria da classe docente. É difícil perdoar ao PS, mesmo que agora Sócrates venha com as falinhas mansas.
Por isso o meu voto nestas eleições é essencialmente anti-Sócrates. Quero acabar com a mediocridade no poder, o favorecimento pessoal, a censura e auto-censura. Quero voltar a reconstruir a escola e quero voltar a ter o amor que tinha à minha profissão. Voto no distrito de Beja, onde apenas PS e CDU podem eleger deputados. Não tenho, pois, dúvidas em votar CDU. Se morasse em Faro ou em Lisboa poderia hesitar entre a CDU e o BE. Desde que o BE me garantisse nunca se aliar a Sócrates. Como se votasse em Viseu ou na Guarda ponderaria, pela primeira vez, votar PSD, sabendo de antemão que esse partido em nada corresponde à minha ideologia. É que em termos de educação não consigo imaginar pior do que fez este governo. Como escreveu António Barreto, podem-se levar décadas a corrigir os erros deste PS em termos de educação (fique Maria de Lurdes Rodrigues tranquila que vai ser recordada). Por isso é bom que começemos rapidamente a trabalhar na reconstrução educativa.
Entendam algum egoísmo do meu voto, mas é que sou professor, e adorava ser professor e dou um grande valor à educação. Por isso o meu voto tem que ser contra o PS.

2 comentários:

Unknown disse...

Percurso similar.

Profissão idêntica.

Voto igual.

Distrito diferente.

Carmo V. Romão disse...

Fernando sempre fiz o mesmo que tu. A profissão é a mesma. Hoje vi filas nas mesas de voto. A estas horas não se sabe nada, só que há mais gente a votar. Esperemos que para bem de todos nós e que a direita e as tendências para esse lado não tenha, representação.