segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Momento Etnográfico

Pois bem, para comemorar a saída da crise anunciada pelo nosso rimeiro-ministro, houve cá hoje, no snack-bar da Julinha, um almoço. Melhor dizendo, uma sardinhada à antiga portuguesa. É que era dia de fecho do snack-bar (“fecha às segundas-feiras como os museus”, está sempre a dizer o Patinha) e o Rochinha decidiu convidar os amigos – só homens, daí o à antiga portuguesa – para a assada de arromba. Ora eu, como interessado nas coisas da tradição do nosso povo português, dediquei-me a recolher aqui e ali os provérbios que fui ouvindo e que agora vos dou a conhecer, se bem que alguns usem aquele vernáculo característico da nossa gente (e pelo qual peço as minhas desculpas). Todos típicoss deste momento que é uma assada com sardinha, carapau, vinho, melão e melancia. Enfim, um dos divertimentos mais tradicionais do pessoal, se bem que do desagrado da Julinha que ainda ameaçou telefonar para a ASAE…
Mas comecemos, então. E pelos finais, que nos alertam para o conhecido problema da conjugação do tinto com a melancia.
Assim, escutei o tristemente profético:

“Vinho tinto e melancia
Acaba em peido e em azia”

Provérbio confirmado por um outro com a mesma mensagem (parece-me, pelo menos pela forma como a melancia foi repudiada por outro conviva, se bem que não queira aqui fazer juízos de valor sociais):

“Vinho tinto e melancia,
É pró padre e pró rufia”:


Mas não se pense que este problema é característico do tinto. Não, no caso da melancia parece que também o branco não é melhor:

“Vinho branco e melancia,
Prá casa de banho é correria”


Todavia escutei uma outra versão que parece ser a solução para os apreciadores de melancia e de vinho, se bem que este último ligeirtamente adulterado:

“Melancia e tinto de Verão,
Dão uma descansada digestão”


Que tem uma pequena modificação no seguinte (que confirma os conselhos médicos do ómega 3 – existente na sardinha – e no antioxidante do tinto :

“Sardinha e tinto de Verão
Fazem bem ao coração”



Mas o grande momento foi a discussão entre os que preferem carapau e os que preferem sardinha (que estavam em maior número e pareciam ser melhores conhecedores destas coisas dos ditos do povo):

"Homem que assa sardinha
E come carapau,
Adoece com a morrinha
E perde o pirilau”


Ou ainda o mais determinado:

“quem à sardinha prefere o carapau,
Ou é rufia, ou é mau”.


Se bem que os adeptos do carapau tenham uma resposta que não é mais do que uma variante do primeiro dito da sardinha e carapau (e que, sinceramente, parece ser reacção de perdedor com falta de imaginação):

“Homem que assa carapau
E come a sardinha,
Adormece com pirilau
E acorda com pilinha”!



Deixei para o fim, como não podia deixar de ser, o dito que mais me intrigou. É que ele é duma profundidade extrema ao alcance de poucos. E é dito que demonstra, afinal, a qualidade da sardinha, a superioridade moral destas assadas e a solidariedade que entre elas se estabelece. E são apenas 4 simples, mas belas, palavras que deixo à vossa reflexão:

“Sardinha escorreita,
Amizade desfeita”



Prometo voltar, se for do vosso agrado, com mais momentos etnográficos a este blogue. Para que o passado não se perca.

2 comentários:

Luís Bonito disse...

Sim senhor, uma grande aquisição para o blogue, este passarão etnólogo.

Unknown disse...

Volta que é do meu agrado.